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Fios de contas
Belos, colares de praticantes do candomblé representam ligação sagrada com seus orixás
No final dos anos 1990, uma pesquisa pretendia mapear a produção brasileira de arte contemporânea e, para isso, visitou 1.360 ateliês em 26 estados brasileiros, resultando na exposição e catálogo Antarctica Artes com a Folha. De Pernambuco? Ninguém. Era como se nada de importante estivesse sendo feito no estado, visto que essa pesquisa teve uma super-repercussão nacional.
Foi o estopim da revolta. Artistas que estavam realizando trabalhos relevantes em arte contemporânea – como o Grupo Camelo – indignaram-se, mobilizaram-se, exigiram uma segunda visão. Embora ostentasse o título de “celeiro da arte”, parecia que o estado perdia o bonde da história, envelhecia para as novas exigências do sistema.
Poucos anos depois, essa situação se reconfiguraria, com a crescente valorização do que estava sendo produzido em Pernambuco, não apenas com a conquista de visibilidade pelos artistas, mas pela confiabilidade das instituições, a eclosão de eventos, o adensamento crítico. Os anos 2000 foram como um namoro entre as figuras-chave do circuito artístico nacional e a nossa produção “periférica” local. Conceitos como descentralização e arte “glocal” sustentavam esse trânsito, muito mais fluido. Nesse contexto favorável, todos iam bem. Respirávamos aliviados: finalmente, haviam se dado conta da qualidade do nosso trabalho. Internamente, as relações de fomento também melhoravam, ainda que de modo muito tímido, aquém do necessário.
Nestes três primeiros anos da nova década, estamos num novo momento de oclusão, com a ausência de mostras e eventos importantes do setor que pareciam consolidados – fechamento de galerias, redução de investimento nos equipamentos públicos existentes, desconexão com o circuito nacional. O que deu errado? Aquele quadro positivo era apenas uma “bolha”, uma miragem? O que foi feito dos agentes de então? Indagações desse tipo motivaram nossa matéria de capa desta edição, que procurou dar voz a alguns personagens centrais do sistema de arte local, ao mesmo tempo em que buscamos justificativas palpáveis, resultantes de pesquisas, prospecções. E o resultado não parece favorável, como o leitor poderá perceber pela leitura da reportagem a seguir.
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