A ideia inicial seria resumir os eventos de sua vida num volume único. No processo, esse livro deu conta apenas do período até 1821, quando, após a libertação, o grupo volta a lutar contra a tirania. Com esse tomo realizado sob o financiamento da Lei de Incentivo – Funcultura, o próximo estará sujeito a uma espera em busca de novos apoios. O lançamento contou com o know-how da Livrinho de Papel Finíssimo, editora atípica que se dedica ao trabalho de incentivar e dar um tratamento gráfico adequado aos novos talentos.
A dificuldade de se produzir uma graphic novel foi sentida pelos autores, marinheiros de primeira viagem nesse tipo de empreitada. O leitor, que se emociona e se envolve com a história, pode notar a qualidade irregular de sua produção. A arte, por ser feita a várias mãos, tem níveis diferentes. Alterna momentos muito expressivos e alguns deslizes. A principal deficiência é a falta de clareza. O mesmo personagem pode ter dois rostos diferentes na mão de dois desenhistas; certas cenas tem arte-finalização confusa, em que o cenário é difícil de ser identificado. Tipo de coisa que leva o leitor a se perguntar o que está acontecendo, que situação é aquela, onde estão os personagens.
Se a prática leva à perfeição, é bom levarmos em conta que a produção de HQs no Recife ainda é incipiente, em termos de mercado, principalmente quando se fala de narrativas longas. Nas curtas, temos vários exemplos excelentes, entre eles a Ragu, antologia que congrega artistas pernambucanos, brasileiros e estrangeiros. Ainda é muito raro no Nordeste o aparecimento de uma graphic novel, ou seja, um álbum de quadrinhos contando uma única histórica ou histórias tematicamente ligadas.
A produção brasileira desses álbuns de quadrinhos vai bem, obrigado, com fluxo constante nas livrarias. Mas, em nosso cenário, que tem excelentes profissionais de ilustração e quadrinhos, o mercado é ainda imaturo, inclusive pela grande concentração das editoras no Sul/Sudeste. A morte e a morte de Frei Caneca surge como uma exceção a essa regra.
GERMANO RABELLO, jornalista.