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Bete Paes

Tudo é design

TEXTO Mariana Oliveira

01 de Agosto de 2013

Detalhes das séries: 'Tao', 'China', 'Tanger' e 'Estrela'

Detalhes das séries: 'Tao', 'China', 'Tanger' e 'Estrela'

Imagem Bete Paes

Não é difícil cruzar com um trabalho dela. Suas criações podem estar adornando a cidade durante a celebração do Natal; nas almofadas jogadas sobre o sofá da casa de alguns amigos; em bancos, cadeiras e mesas de centro com designer arrojado; ou mesmo num acessório de vestuário. É atuando em várias frentes que Bete Paes sente-se verdadeiramente realizada.


Artista também desenha em nanquim sobre papel.
Imagem: Reprodução

Ela cresceu num ambiente criativo: suas avós lhe garantiram o contato precoce com o universo das linhas e das agulhas e com o desejo de “fazer coisas”. Já seus pais a levaram para conhecer o Brasil. Pouco antes de entrar na faculdade de Arquitetura, começou a trabalhar com Janete Costa. Essas foram experiências determinantes para formar a inventiva e inquieta artista.


As estampas ganham vida quando aplicadas em objetos. Imagem: Reprodução

Bete iniciou sua carreira se dedicando aos detalhes, desenhava móveis e estampas, além de desenhar e pintar. Chegou a realizar uma exposição individual no MAC, onde apresentou, discretamente, algumas sedas pintadas à mão. Percebeu ali algo que lhe interessava. “Não vi aquilo como um desvio, mas como um aprofundamento do que me tocava. Queria algo mais aplicado. Eu gosto de ter o resultado do meu trabalho ao alcance das minhas mãos”, diz. Ela havia encontrado uma forma de expressão que não precisava do quadro como suporte, mas que produzia beleza e encantamento, sendo útil e de fácil acesso às pessoas. Arte e design.


Desenhos da primeira fase de sua carreira foram usados para montar estampa.
Imagem: Reprodução

Bete se dedicou a pesquisar técnicas, materiais e cartelas de cores que se relacionassem com suas raízes culturais. As linhas Ex-Votos, Cordel e Mangacaju mostram essa leitura mais contemporânea de expressões bem locais – uma importante demostração da influência de Janete Costa e de todo seu trabalho de junção do universo popular com o erudito. Mesmo com o pé nas suas raízes, a artista sempre se preocupou em não se tornar regionalista. Por meio da convivência com Janete Costa, Bete passou a atuar como consultora de grupos de artesãs, algo que segue fazendo até hoje e influenciando diretamente seu trabalho. “Foi através do contato com um grupo de mulheres de Garanhuns, que introduzi a renda e os bordados em minhas composições.”


Luminária feita com material de descarte participou da Bienal Brasileira de
Design. Imagem: Reprodução

Em sua produção recente, a artista/designer tem utilizado uma técnica que conheceu numa viagem à Índia. O blockprint é uma espécie de carimbo usado para estampar, de forma totalmente artesanal, dando à artista um universo grande de possibilidades, jogando com as sobreposições.


Série teve como base os tradicionais ex-votos. Imagem: Reprodução

Cada uma de suas estampas parecer ter um vida distinta, dependendo do objeto em que são aplicadas. Pois Bete também cria cadeiras, mesas, bolsas, enfim, utilitários que dão tridimensionalidade às suas estampas bidimensionais. Na cadeira Copacabana, por exemplo, a artista faz uma releitura de uma peça dos anos 1950, utilizando vergalhão de ferro – descarte da construção civil – e revestimento de tiras de malha trançadas artesanalmente. Nesse investimento no tridimensional, ela se apaixonou pelo material de descarte. “Eu não posso ver um lixo”, brinca.


Boa parte dos seus projetos de ornamentação usa material de descarte, como isopor e garrafas pet. Foto:  Reprodução

Bete passou a realizar também diversos projetos de cenografia, reciclando materiais, desde as tradicionais garrafas pet até frascos de polietileno de vacina contra febre aftosa. A luminária Balão, por exemplo, feita com tiras de banner e utilizada na decoração de Natal da Praça da República, no Recife, em 2008 , fez parte da Bienal Brasileira de Design, de 2010.


Imagem: Reprodução

Como seu desejo, hoje, mais do que administrar um grande negócio, é criar, terceirizou boa parte da sua produção. Em seu charmoso ateliê no Bairro do Parnamirim, gerencia, com o apoio de apenas uma funcionária, seus diversos projetos, surjam eles da encomenda de um cliente ou de sua inventividade. Como ela gosta de afirmar, seu trabalho é ter ideias. 

MARIANA OLIVEIRA, repórter especial da revista Continente.

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