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Bicicleta sem Freio
A rock art dos designers goianos já rompeu as barreiras do instável circuito alternativo
Há coisas para as quais não damos importância, elas estão ali, adormecidas, invisíveis. Somente uma crise é capaz de tirá-las desse limbo. Como nós, da revista Continente, gostaríamos que nossa reportagem sobre a azulejaria pernambucana surtisse esse efeito de crise bem-vinda, que pudesse de alguma forma reverter a situação por nós encontrada!
Quando pautamos a matéria, como conta a repórter Danielle Romani na abertura de sua reportagem, nossa intenção era sobretudo estética: queríamos destacar a riqueza desses elementos arquitetônicos, que tanto caracterizam as cidades históricas do Brasil, associando-as ao passado colonial e imperial. Munidos de documentação segura, fomos ao confronto com a realidade. Romani gastou sola de sapato seguindo os passos antes dados pela arquiteta Sylvia Tigre, que registrou em dois livros a azulejaria civil e religiosa do estado.
Veio o susto. Parte daquele tesouro restava sob os escombros do descaso ou tinha simplesmente desaparecido! Embora houvesse em nós a expectativa de que o acervo religioso estivesse em melhores condições que o civil, por diversos fatores que o leitor verificará ao ler a matéria, o que se constatou também foi a precariedade de conservação dos azulejos que revestem igrejas e conventos. Verificamos que aquilo que estava conservado pertencia à parte mais esclarecida e endinheirada da sociedade, embora isso significasse – em alguns casos – a sujeição do patrimônio histórico às regras do mercado imobiliário, como na recorrente permanência de portentosos casarões espremidos em terrenos agora ocupados pelos arranha-céus que dominam os endereços nobres da cidade.
Sabíamos que não havia um judas a quem pudesse ser imputada a culpa de tal situação. Depois de apurações junto a vários moradores, arquitetos e urbanistas, especialistas e técnicos em conservação e restauro, funcionários públicos ligados às instituições de preservação patrimonial, chegamos à conclusão de que o risco de desaparecimento a que está submetida a arte azulejar de Pernambuco associa-se a uma cultura de descarte e de desobediência que perpassa todos os agentes da sociedade. O que precisamos, neste caso, é tomar consciência desse estado de coisas, enfrentar a crise e sair do torpor ou indiferença, valorizando aquilo que está tão próximo de nós e que não queremos ver.
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