Mas a rock art do Bicicleta Sem Freio, que os rapazes gostam de resumir no slogan “Muito fetiche e belas mulheres”, já rompeu as barreiras do instável circuito alternativo. Gigantes corporativos como Sony, Nike e Converse não resistiram ao hedonismo que o coletivo estampa em seus trabalhos.
Cartaz foi o primeiro desenho feito em conjunto pelos artistas.
Imagem: Reprodução
Os três goianos se conheceram em 2003, na Faculdade de Artes Visuais da UFG. Organizaram o grupo, dois anos depois, quando estiveram reunidos num congresso estudantil, e hoje fazem parte de um “estúdio de criação focado em animação e ilustração”, segundo Renato Reno. Ele, Victor e Douglas não têm um modo de operar pré-estabelecido. “O importante é sair bem-feito e com nossa identidade, depois de muita conversa fiada, rabiscos e mesa de luz”, detalha Reno. Assim, os meninos soltam suas cores num improviso: é jazz gráfico. Ou rock gráfico.
A pin-up foi desenhada para um estúdio de tatuagem goiano.
Imagem: Reprodução
É que dois terços do coletivo (Douglas e Victor) ainda arranjam tempo para integrar a Black Drawing Chalks, banda que já provou seu poder de fogo no circuito independente nacional e, mais recentemente, tem se arriscado no exterior, versando sobre “tudo o que importa”, na opinião deles: cerveja e mulheres. A temática explorada pelos “gizes negros para desenho” converge com o pequeno mundo de prazer que o BSF costuma retratar.
Trabalho do BSF que teve mais visualizações no Flickr. Imagem: Reprodução
Não por acaso, o trio concebeu a animação de My favourite way (música de trabalho do segundo disco da Black Drawing Chalks), clipe em parceria com o diretor Marck Al, que rendeu uma indicação no Video Music Brasil 2009, a tradicional premiação da MTV. O clipe, que somou mais de 165 mil exibições no Youtube, é um desfile de clichês picantes, com muitas mulheres e pouca roupa.
Ilustração sobre foto para a capa do vinil da banda goiana MQN. Imagem: Reprodução
Os artistas ilustram não apenas as capas de CDs da Black Drawing Chalks, mas também as dos discos de bandas da cena independente nacional, como AMP e Macaco Bong. Tudo com a identidade do coletivo: cores berrantes e os mencionados objetos de desejo, enquadrados em primeiro plano, sugerindo todo tipo de pecado – em excesso cavalar, como reza a cartilha do rock. Alguns desenhos chegam a indicar sadomasoquismo e não faltam olheiras, pupilas dilatadas e traços que remetem à pop art, a filmes B e quadrinhos.
Cartaz levou o maior lance em leilão do N Design,
evento nacional e estudantil da área.
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Os integrantes, inclusive, já fizeram tabelinha com Rafael Grampá, autor da ultraviolenta HQ Mesmo delivery e ganhador do Eisner Award (importante prêmio do universo HQ) de 2008, conquistado com a coletânea 5, da qual é coautor. Mestres dos quadrinhos underground, como Robert Crumb e Charles Burns, são influências decisivas para o Bicicleta Sem Freio. Quando os artistas conseguem deixar um pouco de lado suas sinuosas mulheres, traçam quadros claramente inspirados nos moldes da produção desses artistas, como a sujeira tão familiar à arte de Crumb.
Em meio às vertentes das artes visuais, Renato Reno diz que o foco do trio é desenhar cartazes de pequenos eventos e capas de discos, apesar de vir chamando a atenção de grandes empresas.
THIAGO LINS, repórter especial da revista Continente.