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Efrain Almeida
Histórias assombradas contadas pela avó, iconografia católica e sertaneja estão na sua obra
A gente se acostumou tanto com a ideia de que o amor é um sentimento que nos é intrínseco, que apenas esperamos que um dia ele aconteça. Como não encontrar a “alma gêmea”? Esta é uma premissa de felicidade e realização. Quando acontece de “não dar certo”, é como se a gente fosse assim... doente.
Também não é fácil. De todo lado, a toda hora, somos estimulados a “viver o amor”. Fora as tradições religiosa e romântica, os romances, as novelas, os happy ends do cinema, a publicidade, as letras de músicas nos azucrinam: ame, ame, ame! Talvez essa pressão só perca para a de enriquecer.
Por conta dessa onipresença, esta edição voltou-se para o amor. Na matéria, Fabio Lucas escreve: “Nas últimas décadas, graças à ampliação do alcance da produção cultural, o amor está no ar de forma epidêmica: na mídia, no desejo de consumo, nas prateleiras, no calendário, nos bares, na moda, na TV, nas redes sociais, na música, na literatura, no cinema. E na mente de cada um parece ter sido depositada a noção de que sem aquele amor arquetípico, de vitrine, do comercial de shopping, a própria vida não vale a pena”.
Quem veio nos tirar esse “peso de amar” foram os estudos da mente, que derrubaram o mito, afi rmando: o amor é uma invenção. O psicanalista Jurandir Freire Costa, citado na nossa matéria, afi rmou: “O amor é uma crença emocional e, como toda crença, pode ser mantida, alterada, dispensada, trocada, melhorada, piorada ou abolida. O amor foi inventado como o fogo, a roda, o casamento, a medicina, o fabrico do pão, a arte erótica chinesa, o computador, o cuidado com o próximo, as heresias, a democracia, o nazismo, os deuses e as diversas imagens do universo”.
Para dar uma forcinha na distensão, a também psicanalista Bianca Dias disse à reportagem: “Não existe ninguém que possa completar outro alguém. Essa é uma relação imaginária com o amor. O encontro com o outro se dá nessa construção simbólica a partir da estranheza e da alteridade radical que o outro é”.
Pois a ideia é não se iludir e ter mais liberdade: se amar é bom, é porque assim queremos, não somos obrigados, e cada um escolhe a melhor forma de se jogar nessa aventura de alegria e dor.
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