Agora, com 467 contatos no seu perfil, Eider reconhece ser um usuário assíduo no Facebook, embora não abra mão do contato pessoal para a criação e a solidificação de uma amizade. “Há pessoas que moram fora do Rio com quem eu mantenho contato permanente até hoje por ter muito a ver comigo, mesmo sem conhecê-las pessoalmente ainda. Com outras, pude desenvolver pessoalmente uma amizade a partir do Face, sobretudo pelo caráter, a lealdade, a sinceridade e a aproximação proporcionada”, diz o administrador de empresas aposentado.
CONEXÃO NAS RUAS
Para Muniz Sodré, a conexão é um elemento poderoso na lógica da midiatização. Ele toma como exemplo as manifestações que ocorreram no Brasil em 2013. “As pessoas entraram num êxtase de conexão nas ruas. Já estavam sideradas pelo êxtase da conexão nas redes sociais,e provaram o do contato coletivo direto, que é diferente. Havia dizeres nos protestos fazendo referência ao fato de as pessoas terem ido das redes sociais para o encontro nas ruas. Algumas delas, como o sociólogo Manuel Castells, interpretaram isso como: ‘O Facebook nos uniu’. Interpretei de outra forma: ‘Nós saímos do Facebook’. Para mim, a rede foi só mobilizadora. Foi um meio de conexão. As manifestações de rua não foram internéticas. Foram uma fricção da tensão comunitária de jovens que sentiram no corpo a discriminação e a indignação frente a uma situação social específica”, considera.
A jornalista cearense Clarisse Cavalcante, 30, foi uma das pessoas mobilizadas pelas redes para participar das passeatas ocorridas no Rio de Janeiro, onde realiza o seu mestrado atualmente. “As redes tiveram um papel importantíssimo. Era através delas que eu me informava sobre os eventos criados a partir das primeiras manifestações e sobre os próximos passos. Passei a acompanhar pessoas, adicionando algumas delas aos meus contatos pela análise e pelo compartilhamento que faziam dos eventos. Eu, que sempre fui ligada ao movimento estudantil no tempo da faculdade, vi novamente a mobilização das pessoas em torno de causas maiores que as suas próprias. Evidentemente, interessei-me em participar das manifestações. E tive que aprender também a lidar com os perigos das redes, com os diversos perfis e chamadas para eventos falsos. Mas, no geral, a virtualidade da rede potencializou as manifestações nas ruas”, avalia Clarisse.
Dentre as principais comunidades ligadas ao processo de midiatização, Muniz Sodré cita os jovens como um núcleo potencial, bem como as mulheres e algumas minorias emergentes, a exemplo dos gays, que a mídia acaba acolhendo. “A mídia sempre privilegia os grupos em função do consumo, de quem pode consumir mais. Então, não é qualquer comunidade, apenas aquelas que apresentam formas de subjetivação compatíveis com o mercado e a tecnologia”, considera.
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