Entrevista
Conceição Evaristo
Escritora mineira fala sobre suas obras, seu modo de produção e o conceito de escrevivência
Tem sido, até aqui, uma trajetória de mais de três décadas, desde que a mineira – radicada no Rio de Janerio – Conceição Evaristo publicou seus primeiros poemas na série Cadernos Negros, do grupo Quilombhoje. Uma trajetória que incluiu a atuação na educação e na afirmação de sua negritude; de formação acadêmica, que contou com estudos de mestrado e doutorado. Uma trajetória de legitimação, pois, como ela diz na entrevista que concedeu à jornalista Paula Passos: “Não digo que as pessoas precisam fazer um curso de Letras para serem escritoras, não é isso. Temos uma série de escritores, escritoras negras e escritores negros que não fizeram e não são da área de literatura. Estão aí produzindo muito. Agora, no meu caso, o fato de eu vir da área de Letras, de participar dos seminários de Literatura, ajudou muito a divulgar a minha obra independente no meio universitário. Nós, negros, não podemos ser somente bons. Precisamos ser ótimos”.
A entrevista com Conceição que publicamos este mês teve como fato motivador o relançamento da novela Canção para ninar menino grande, originalmente publicada em 2018 e que foi reescrita pela autora para a recente edição da Pallas. Com esse ponto de partida, conversamos com ela sobre processos criativos, temas e personagens da sua obra, que tem como marco a chegada da novela Ponciá Vicêncio, em 2003. Também, sobre a escrevivência, que ela define como a experiência “relacionada a essa escrita produzida pelas mulheres negras a partir das experiências dessas mulheres negras”.
Neste número da Continente, também, destacamos o início de uma série de ensaios que publicaremos nesta e nas edições de abril e maio sobre a fundação do Recife, cidade que reflete tão bem as contradições do desenvolvimento das cidades brasileiras ao longo da história. Com a colaboração do jornalista Romero Rafael e do artista visual Jeims Duarte, começamos esta jornada pelo Bairro do Recife, de onde a cidade foi se espraiando até o continente. Revisitar essa história com a perspectiva do presente se constitui, como diz Romero, num caminhar sobre ruínas que não silenciam, ao contrário, escancaram as nossas relações com o que se tem chamado de progresso, que passa por cima de quem tenta frear sua voracidade. Esperamos que fiquem instigados em seguir conosco nessa caminhada pelas próximas edições.
Nossa capa: Foto Dani Dacorso
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