Perfil

Claudionor Germano, a voz do frevo

A trajetória do cantor, hoje aos 90 anos, cujas interpretações marcaram os grandes clássicos do gênero musical pernambucano

TEXTO José Teles

01 de Março de 2023

Claudinor Germano

Claudinor Germano

Foto Leo Caldas

[conteúdo na íntegra | ed. 267 | março de 2023]

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Capiba 25 anos de frevo é um dos álbuns mais bem-sucedidos da música popular brasileira. Lançado em 1959, para o Carnaval de 1960, o disco espalhou-se pelo Nordeste feito fogo em pradaria de relva seca, nunca saiu de catálogo, e continua sendo o mais tocado nas emissoras de rádio de Pernambuco. O repertório é formado por composições de Capiba – Lourenço da Fonseca Barbosa (1904-1998) –, interpretadas por Claudionor Germano, com Nelson Ferreira (1902-1976) regendo a orquestra e o coral Mocambo (da gravadora Rozenblit). 

Claudionor Germano estava com 27 anos quando o gravou, simultaneamente, com um LP com músicas de Nelson Ferreira, O que eu fiz e você gostou: “Fui convidado, por Capiba, para gravar apenas um LP. Depois, Nelson me disse que ia ter mais esse, ele e Capiba, foram amigos, mas tinham essa rivalidade”, revela o cantor, que não tinha ideia do quanto esses dois álbuns alterariam a rota de sua vida e do próprio frevo que era, até então, o único gênero musical brasileiro no qual o autor tinha mais importância e destaque do que o intérprete. Tanto é assim que as matérias dos jornais recifenses sobre esses LPs enfatizam os compositores, deixando em segundo plano o cantor. Em Capiba 25 anos de frevo, por exemplo, o nome de Claudionor só aparece, quase imperceptível, no canto esquerdo, na parte inferior da capa. 

O gancho para o álbum dedicado à obra de Capiba era celebrar os 25 anos de seu primeiro grande sucesso no carnaval pernambucano: É de amargar –  vencedora de um concurso de frevos, promovido pelo Diario de Pernambuco, em 1934. O álbum chegou às lojas em outubro de 1959, mas teve lançamento oficial em janeiro de 1960, quando o mesmo jornal publicou uma entrevista de meia página com Capiba: “Em sua homenagem, a Mocambo gravou, e já fez o lançamento, de um LP (capa de Orlando da Costa Ferreira, e voz de Claudionor Germano), uma seleção notável, que vem obtendo enorme aceitação”. Apenas nesse trecho da matéria cita-se o nome do intérprete, mesmo assim entre parênteses. 

No ano seguinte, Claudionor Germano gravaria mais dois LPs com frevos-canção dos mesmos autores, Carnaval começa com C de Capiba e O que faltou e você pediu, batendo um recorde ainda não quebrado na MPB: o de único cantor com quatro LPs inteiros de música carnavalesca, num espaço de dois anos. Com esses álbuns, Claudionor criou a figura do cantor de frevo e, com o passar dos anos, passou a ser sinônimo de carnaval em Pernambuco. O “Senhor frevo” ou “A voz do frevo”.



O disco Capiba 25 anos de frevo inaugura uma fértil parceria
entre Claudionor Germano e Capiba.
Imagens: Editora Cepe/Acervo José Alves Batista/
Reprodução (1) e Reprodução (2)

Em janeiro de 2023, ele está rumando para os 91 anos: “Minha idade é o mistério do frevo. Nasci em 19 de abril, mas, no registro, está em 10 de agosto. Meu pai demorou a me registrar e a pessoa do cartório colocou o dia em que ele foi lá”, comenta rindo, numa conversa na sala do apartamento onde mora com a esposa, Ana Lúcia, em Boa Viagem. Protelar o registro de nascimento de filhos não era incomum na época. Resultado: Claudionor Germano tem seu aniversário comemorado duas vezes. Esta não é sua única peculiaridade. Numa família  em que todos os irmãos (quatro) e irmãs (duas) dedicaram-se aos estudos, ele foi o único que, desde cedo, manifestou mais inclinação pela música do que pelos bancos escolares. Antes de Claudionor se tornar famoso, a família da Hora teria um artista renomado, o pintor e escultor Abelardo da Hora, que se formou em Direito e em Belas Artes.

“Quando estudava no Ginásio Pernambucano, eu fugia pra jogar futebol com bola de meia, na campina dos Coelhos, a gente morava ali perto do Pátio de Santa Cruz”, relembra Claudionor, que nasceu na casa 1056, da Avenida Caxangá. Várias vezes foi retirado das peladas pelo braço forte de Bianor, que não era apenas irmão mais velho, como também uma espécie de tutor: “Bianor me obrigava a ficar em casa. Cheguei a levar surra de cinturão dele, porque eu era meio malandro, fugia das aulas. Quando estudei no Ginásio Pernambucano, fugia para o (Parque) 13 de Maio”. Bianor da Hora, foi médico renomado na capital pernambucana e severo professor de Anatomia na Faculdade de Medicina, da Universidade do Recife (desde 1967, Universidade Federal de Pernambuco).

Mas o cinturão do irmão não foi capaz de levar o menino a desistir de cantar. Desde criança, seu ídolo era o maestro Nelson Ferreira, que entrou para a Rádio Clube um ano antes de Claudionor Germano nascer. E foi o maestro quem deu a primeira oportunidade para o garoto, então com 13 anos incompletos, de cantar diante da seleta plateia que lotou o Teatro de Santa Isabel, em 3 de janeiro de 1945. Estavam ali para ver a apresentação de Orlando Silva (1915-1978), ainda em pleno vigor de sua voz privilegiada. Claudionor foi levado para o Santa Isabel por sua madrinha, e maior incentivadora, Lília Regueira Costa, senhora da sociedade recifense.

Orlando Silva era conhecido pelo epíteto de “O cantor das multidões”. Hospedado no Grande Hotel, no Cais de Santa Rita, próximo ao teatro em que se apresentaria, ele resolveu fazer o trajeto até lá a pé. O assédio dos fãs foi tamanho, que a caminhada de alguns minutos levou mais de uma hora, deixando o público que o esperava inquieto e impaciente. O maestro Nelson Ferreira, que iria reger a orquestra que acompanharia Orlando Silva, vislumbrou Claudionor Germano numa frisa com dona Lília. Já conhecia os dotes vocais do rapazola, e o convocou para entreter a plateia.


Três gerações do frevo: Claudionor Germano, Ivanildo Silva, Nonô Germano e Paulo da Hora. Foto: Editora Cepe/Acervo José Alves Batista/Reprodução

“Eu ainda usava calças curtas. Nelson me chamou e eu topei. Estava cantando Vistas do Brasil (samba-exaltação de Lauro Miller/Conde), quando ouço uma voz por trás de mim. Era ele, Orlando Silva. Terminamos a música juntos, foi uma das maiores emoções da minha vida”, conta Claudionor. Relembra o episódio acontecido há 77 anos, enquanto manuseia papéis que tira de uma pasta. São projetos de musicais, uns já realizados, outros pendentes. Na nona década de vida, ele ainda pensa nos palcos, embora tenha passado o cetro e coroa para o filho Nonô Germano, em 2015, numa cerimônia na Câmara de Vereadores do Recife. Nonô é cantor, assim como seu irmão mais velho, Paulo da Hora, filho do primeiro casamento de Claudionor Germano com Maria Conceição (ele casou com 19 anos), com quem teve mais quatro filhas: Claudecy, Conceição, Claudete e Claucyta. 

Embora o irascível irmão mais velho tentasse demovê-lo da ideia de ser cantor de rádio, Claudionor se envolvia cada vez mais com a música. Começou a cantar, aos 14 anos, no Diabos Verdes, conjunto vocal formado por frequentadores do Jet Clube, na Boa Vista. No ano seguinte, foi convidado para substituir Luiz Bandeira no conceituado grupo Ases do Ritmo, e assinou contrato com a Rádio Clube de Pernambuco, em 2 de outubro de 1947, marco inicial de sua carreira de cantor profissional. “Mas desde o início eu sempre tive outro emprego, para não depender só do rádio. Não fosse isso, certamente eu estaria em outra situação”, comenta Claudionor, olhando em volta da sala do apartamento espaçoso na zona sul do Recife.

Na época em que foi contratado pela Rádio Clube, trabalhava na loja de um português, Manuel Cavadinha, na Rua Estreita do Rosário, no Centro do Recife. Não deixou o emprego, mesmo estando em situação confortável no Ases do Ritmo, no qual ficou pouco tempo. Em 1949, já seguia carreira solo. Nessa época, a Rádio Clube esforçava-se para enfrentar Rádio Jornal do Commercio, sua rival, inaugurada em 1948, pelo empresário Francisco Pessoa de Queiroz, que não poupou esforços nem recursos para que suas instalações fossem as mais modernas do país, atraindo astros e estrelas da concorrência pelos polpudos salários que pagava. A transferência de Claudionor para a rádio de F. Pessoa de Queiroz aconteceu logo depois de ter estreado em disco, com o frevo-canção Boneca (José Menezes/Aldemar Paiva), o 78 rotações inaugural do que seria a Fábrica de Discos Rozenblit (na outra face, está o frevo de rua Come e dorme, de Nelson Ferreira).

IDA PARA O “SUL”
Apesar do prestígio e do dinheiro proporcionados pela Rádio Jornal do Commercio, o sonho de todo artista que atuava no Nordeste era emigrar para o “Sul”, como se chamava o Sudeste, onde se localizavam as emissoras mais importantes do Brasil, sobretudo a Rádio Nacional. Depois de um ano de Rádio Jornal, um imbróglio na renovação do contrato, e a insistência de Luiz Bandeira, que atuava no cast de cantores da Nacional, motivaram Claudionor Germano a tentar vencer no Rio. 

Uma vaquinha feita entre os parentes garantiu sua ida à capital federal. “Quando fui à Nacional, Chiquinho do Acordeom ia passando no carro, chamei o nome dele, que parou e me perguntou pra onde eu ia. Disse que procurava Bandeira.” Ele encontrou Luiz Bandeira e também Chico Anísio, que já conhecia da Rádio Jornal, onde o humorista fazia, com Aldemar Paiva, a Escolinha Dona Pinoia e seus Brotinhos, embrião da Escolinha do Professor Raimundo. “Eu levei tão pouco dinheiro, que pedi pra Bandeira guardar pra mim, pra que não gastasse com besteira.”

Claudionor Germano poderia ter continuado no Rio, numa das emissoras cariocas, como vários ex-colegas da Rádio Jornal: Jackson do Pandeiro e Almira Castilho, Sivuca, José Tobias e o citado Luiz Bandeira (que se popularizou também como compositor de sambas e frevos, entre os quais Voltei, Recife. Estava em conversações com Victor Costa, o todo-poderoso da Rádio Nacional, quando se deparou com Amarílio Nicéas, diretor da Rádio Jornal, que foi ao Rio a mando de Pessoa de Queiroz, a fim de convencer Claudionor Germano a voltar para sua emissora, com um salário tentador e convencedor. Maior do qualquer valor que a Nacional lhe oferecesse. 

Claudionor Germano aceitou, com uma exigência: queria conhecer São Paulo, com passagens pagas pela Rádio Jornal. “Amarílio concordou, mas desde que fosse junto comigo. Tinha receio de que alguma rádio de São Paulo me oferecesse um contrato.” Claudionor conheceu São Paulo e voltou para sua cidade. Para o bem do frevo, ele nunca mais pensou em se mudar para o Sudeste, mesmo quando o sistema de comunicação de F. Pessoa de Queiroz, que consistia de uma emissora de TV e de rádios na capital e pelo interior, começou a afundar, nos anos 1970. O que o fez permanecer no Recife foi manter uma atividade paralela. O que aconteceu também com Capiba, do qual foi o principal intérprete.

Enquanto Capiba sustentava-se com o então cobiçado salário do Banco do Brasil, no qual entrou por concurso em 1930, Claudionor Germano exerceu vários ofícios, entre os quais o de representante comercial de uma vinícola, ou do Rum Montilla, além de exercer cargos públicos, como o de superintendente do Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães, o Geraldão, equipamento da Prefeitura do Recife. 

O vinho que representava chamava-se Chateau D’Argent. Viajava por capitais e cidades importantes do interior. Numa dessas viagens, em Natal (RN), encontrou-se com Luiz Gonzaga num restaurante em que fazia a divulgação da bebida: “Ele me viu lá e perguntou onde eu iria cantar. Expliquei a história do vinho. Prontamente Gonzaga me disse que deixasse com ele. Pegou uma garrafa, e saiu de mesa em mesa dizendo pro pessoal que aquele era um dos melhores vinhos do mundo, que era o que ele bebia, e sugeriu que comprasse uma garrafa. Me fez propaganda de graça, e eu nunca fui amigo dele, a gente só se conhecia”. 


Claudionor cantou na Frevioca, criada nos anos 1980 para estimular
o carnaval de rua do Recife. Imagem: Editora Cepe/Acervo José
Alves Batista/Reprodução

Ele divulgou o Rum Montilla com Expedito Baracho (1935-2017), o cantor potiguar, radicado desde a juventude no Recife (com uma breve passagem por São Paulo). Ótimo intérprete de frevo, Expedito era tido como rival de Claudionor, mas os dois foram grandes amigos, e considerados os melhores intérpretes da história do frevo-canção, os mais requisitados pelos maestros para os bailes carnavalescos.

Animando o Carnaval de clubes desde os anos 1950, Claudionor Germano, mais uma peculiaridade dele, nunca foi um grande folião, embora gostasse de ver as agremiações. “Morava ali perto do Pátio de Santa Cruz, ia ver os Lenhadores, que tinha sede na Rua Da Glória. Não sou carnavalesco, sou um cantor de carnaval. Não é dizer que eu não goste, é que não caí no frevo, não caí no passo”, revela. “No tempo de menino, no carnaval de maior participação do povo, ficava sentado na calçada esperando os clubes.

Quando eles vinham, a gente corria para fazer o passo no meio do povo e para ver de perto.”

INTÉRPRETE VERSÁTIL
A música para carnaval era música de época, com prazo de validade, efêmera. As gravadoras faturavam bem com marchinhas, sambas e frevos, porém, depois da festa de Momo, poucas mostravam força suficiente para ser tocadas nos anos seguintes. Os cantores e cantoras de rádio focavam a carreira nos gêneros de meio de ano. As músicas sazonais, juninas, carnavalescas, ou natalinas, eram gravadas quase como uma obrigação, seu sucesso dependia muito do acaso. 

Claudionor Germano não se dedicou a um único tipo de música. Nos anos 1950 era conhecido como cantor romântico, intérprete de boleros, sambas-canção. Só seria considerado o cantor de frevo com os citados quatro LPs gravados em 1959 e 1960. O fato de ter lançado um disco de sambas, também em 1960, não o livrou de ser visto como um “frevista”. O LP chama-se Sambas de Capiba, uma raridade disputada, nunca reeditada. Dele destacou-se A mesma rosa amarela, que se tornou um clássico da MPB, porém não com Claudionor. A música foi descoberta por Maysa, que a gravou em 1962. Daí em diante seria a composição mais regravada de Capiba.

Dos muitos shows com a chamada música de meio de ano, o mais curioso foi um que Claudionor Germano realizou em 1964, logo depois do golpe militar. Abelardo da Hora, comunista de carteirinha, foi um dos primeiros a ser preso, quando os militares depuseram o governo de João Goulart. Condenado sumariamente, foi trancafiado na Casa de Detenção, no Centro do Recife (desativada em 1973 e transformada, em 1976, em Casa da Cultura) . Essa seria uma das aproximadas 70 prisões que sofreria Abelardo da Hora. Quando Claudionor Germano conseguiu permissão para visitá-lo, ouviu do irmão que do que mais sentia falta era de música. 

A Casa de Detenção tem forma de cruz. A cela de Abelardo dava para uma rua próxima à Estação Central dos trens, o que deu uma ideia a Claudionor de como levar música ao irmão.  À noite, ele  foi com um amigo violonista até a calçada da prisão, postou-se exatamente embaixo da janela da cela em que estava Abelardo da Hora, e fez-lhe uma inusitada serenata, que prosseguiu até quando surgirem os soldados que interromperam a inusitada apresentação.

Ele ratificaria sua versatilidade ao defender composições de Capiba e Ariano Suassuna em festivais promovidos pela TV Record, e pela TV Globo, nos anos 1960. Uma concessão que as emissoras faziam aos dois parceiros, já que a praxe era escalar artistas de fama nacional, o que não era o caso de Claudionor Germano. Quando defendeu o baião São os do Norte que vêm, no II Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo, em 1967, recebeu elogios rasgados do severo crítico José Ramos Tinhorão. Ele incluiria essas canções pouco lembradas de Capiba e Ariano no repertório dos shows da edição de 1979, do Projeto Pixinguinha, de que participaria com José Milton (mais conhecido como produtor de discos), a cantora maranhense Irene Portela e a Banda de Pífanos de Caruaru. 


Claudionor e Nonô Germano em show no carnaval do Recife, em 2016.
Foto: Peu Ricardo/PCR/Divulgação

A falência da Rozenblit, acentuada na segunda metade dos anos 1970, abalou o frevo, que começou a decair em popularidade, quando passou a tocar muito pouco no rádio. Claudionor Germano continuou lançando discos pela RCA, Som Livre, por selos recifenses, mas poucas vezes emplacou um grande sucesso. Das poucas exceções foi Morena azeite, de Severino Araújo (não o da Orquestra Tabajara), vencedora da edição de 1983 do festival Frevança

A Voz do Frevo ameaçou se calar nesse período em que se sentiu desprestigiado. O astral seria levantado pela participação, a partir de 1980, na Frevioca, com o filho Paulo, e a orquestra de Ademir Araújo. A Frevioca foi idealizada pelo jornalista, escritor, e carnavalesco Leonardo Dantas Silva, numa tentativa de reerguer o carnaval de rua do Centro do Recife, reduzido praticamente aos desfiles de agremiações na Avenida Dantas Barreto. Um caminhão adaptado para abrigar uma orquestra e crooner, a Frevioca foi a resposta pernambucana aos trios elétricos baianos, que faziam grande sucesso desde o início dos anos 1970. Em 2010, tornou-se Patrimônio Artístico Cultural do Recife, projeto aprovado na Câmara de Vereadores do município.

MÚSICA PREFERIDA
De volta à sala do apartamento de Claudionor Germano, depois de quase duas horas de conversa, na qual ele fala de sua trajetória com orgulho, mas sem nostalgia, pela primeira vez se emociona, com uma pergunta trivial: entre as centenas de frevos que gravou, qual o seu preferido? Para uma indagação clichê, uma resposta que surpreende: “Peço perdão a Capiba, mas o que mais gosto é Por que saideira?, de Rudy Barbosa, um compositor que fez muito jingle”. Faz a revelação e cantarola os versos iniciais deste obscuro frevo-canção (parceria de Rudy Barbosa com Adelmo Tenório), gravado num LP da série O bom do carnaval, em 1980: “Estou vendo/ a manhã tá dizendo/ já é quarta-feira/ por que saideira?/ se não queria pra casa voltar/ voltar pra quê, voltar pra quê?/se vai voltar esta saudade de você”, os olhos marejam, a voz fica embargada, ele pede desculpas. Desculpadíssimo.

JOSÉ TELES, jornalista e crítico musical.

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