Edição #131

Novembro 11

Nesta edição

Necrópoles

Você recebe a notícia de que o Cemitério de Santo Amaro será destruído para dar lugar a um conjunto habitacional. Em poucos meses, aquele lugar, que faz parte da paisagem urbana do Recife desde 1851, deixará de existir. Tudo bem, você não é o que se poderia chamar de habitué da necrópole, como o aposentado que o jornalista Roberto Beltrão encontrou quando estava em campo para realizar a reportagem que leremos nas próximas páginas, mas não gostaria de ver desaparecer uma parte importante da história da cidade.

A demolição de um cemitério centenário para dar lugar a torres residenciais é o que está acontecendo agora, em Cingapura, com o Bukit Brown, uma construção também do século 19. Em depoimento à imprensa internacional, o professor Irving Johnson, da Universidade Nacional, disse, em defesa do patrimônio: “Um cemitério não é, apenas, um lugar para enterrar as pessoas. Fala, também, da história e do passado. Bukit Brown contém, sem dúvida, as mais antigas sepulturas chinesas de Cingapura”.

Embora não tenham sido as palavras do professor a nos orientar, elas expressam o que pensamos ser a contribuição que o campo-santo traz à memória citadina. Aspecto que nos motivou a buscar esse enfoque para a reportagem especial do mês dedicado ao tema da morte.

Por outro lado, sabemos o quanto a riqueza histórica, artística e arquitetônica do Cemitério de Santo Amaro tem sido negligenciada, no que diz respeito à conservação, seja porque a sociedade contemporânea evita ao máximo o seu contato com os rituais fúnebres – o que a afasta desse tipo de lugar e de sua possível beleza –, seja porque o aumento populacional e a necessidade de rodízio das catacumbas enfeiam o cemitério, dando-lhe um aspecto de eterno canteiro de obras. Pode soar irônico, mas a verticalização e o inchaço da cidade também resvalam para a necrópole.

O Recife, ainda, é tema que nos mobiliza nesta edição. Dedicamos 32 páginas a “cantálo”, num entrelaçamento de fotografias e trechos de romances que à cidade se referem. Nossa fonte foi o livro O Recife dos romancistas, uma vivaz compilação feita pelo sociólogo e jornalista Abdias Moura, sobre a qual você lerá nas páginas finais da revista.

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