Observando a trajetória de José Paulo, não é difícil perceber que seu principal interesse tem sido a construção de objetos. Nesse processo, o desenho aparece como um espaço para projetar e planejar o que será realizado. Contudo, nos últimos anos, esses desenhos de ateliê têm aparecido também nas salas de exposições. É o caso dos 40 exibidos por ele na exposição Retratos e autorretratos, no Centro Cultural Correios, em Salvador.
Em Para nunca mais me esquecer, a técnica também está presente. Voltando-se uma vez mais à questão da barbárie, o artista compôs uma série de três desenhos, nos quais reproduz os rostos de Elizabeth Taylor, Grace Kelly e Sophia Loren com os narizes decepados. A motivação para essa composição veio de uma foto, publicada na revista Time, de uma jovem afegã que teve seu nariz mutilado pelo marido, por ter fugido de casa. Apesar da repercussão, o rosto e a brutalidade do ato foram logo esquecidos. Ao cometer a mesma violência, ao mutilar simbolicamente o nariz de ícones da beleza ocidental, o artista deseja que o caso não seja esquecido, que ele se faça mais uma vez presente no debate público.
Como um “criador de objetos”, José Paulo apresenta, em cada uma das obras expostas, sua preocupação com os aspectos plásticos, acabamentos e detalhes. Ainda que a questão conceitual permeie todas elas, seu apreço aos objetos e à sua finalização se destacam. Algo raro nos dias de hoje.
MARIANA OLIVEIRA, repórter especial da revista Continente.