Todas as razões estão ao seu lado, certeiras, exatas e inevitáveis. Quem monopoliza e constrói o sem sentido é a vida: essa é a verdadeira desconhecida. A morte não tem resposta. Já se encontra “respondida” e o homem, tal qual uma criança no escuro, continua tateando uma réplica impossível. A morte é a regra da qual a vida é a exceção. Todavia, a regra só possui existência dado que a exceção está lá, perturbando a impenetrável obscuridade.
Pode-se pensar na morte e na vida como duas atrizes que apresentam monólogos. A vida começa seu espetáculo e o encerra. Quando a morte irá começar sua parte, as cortinas já estão se fechando. A morte não é uma possibilidade pouco iluminável por parte do sujeito: é justamente a região em que nenhuma luz pode ser acesa.
Se nos é possível detectar na morte alguma essência, essa é a não resposta. A vida que carrega em si a fragrância da finitude. Esse aroma está impregnado nos desenhos animados, na música, nos jogos de video game, nos antigos amores, no crescimento das crianças e no ganho de alguns quilos. A ideia de infinito é tentadora, mas não consola realmente. Para alguns, enxergar a finitude dos eventos, enquanto eles ainda acontecem, desvirtua a fruição do momento. Ao contrário, pode-se viver mais intensamente um evento, quando se cultiva a difícil lucidez da transitoriedade.
Desse modo, existenciar acontecimentos com plenitude consiste em não se deixar iludir por nenhuma ideia de eternidade, ainda que a inautêntica fantasia do para sempre agrade universalmente. A eternidade não é uma instância de tempo, é um sentimento. Enquanto há o sentimento de eternidade, nada termina realmente. É o fim que faz o agora ter consistência. O homem não se trata apenas de um ser biológico. Estamos falando de um animal biográfico.
RAPHAEL DOUGLAS TENÓRIO, mestre em Filosofia pela UFPE.