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Kiko Farkas

Design de tradução

TEXTO Pedro Paz

01 de Novembro de 2011

Entre 2003 e 2007, o designer criou 300 pôsteres, além de todo o material gráfico da Osesp

Entre 2003 e 2007, o designer criou 300 pôsteres, além de todo o material gráfico da Osesp

Imagem Reprodução

“Não é isso que eu quero. Quero que você enlouqueça.” Foi com essa cobrança que o diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), John Neschling, dirigiu-se ao designer gráfico paulista Kiko Farkas, em uma reunião com o alto escalão da instituição. Era março de 2003 e, segurando o projeto gráfico do primeiro programa de concerto daquele ano nas mãos, proposto por Kiko, o dirigente alegou que os cartazes não traduziam a postura moderna da orquestra. Contudo, admitiu que os três meses concedidos para a construção imagética da Osesp, depois do convite feito por telefone, haviam sido um tempo breve demais.


Kiko Farkas entende que seu dever é traduzir o estilo do cliente em elementos visuais.
Foto: Reprodução

A partir desse fato inesperado, o designer entendeu que sua verdadeira função estética é captar e traduzir o espírito do cliente em elementos visuais, ao invés de satisfazer-se somente com a ordenação de informações claras e objetivas nos seus trabalhos. Entre 2003 e 2007, criou cerca de 300 pôsteres, além de todo material gráfico da orquestra. Por meio dessa parceria, consolidou seu estilo na área e solidificou sua empresa, a Máquina Estúdio, fundada em 1987. Hoje, aos 54 anos, Farkas é um dos principais nomes da comunicação visual no Brasil. Ao subverter cânones formais do design, conseguiu desenvolver uma marca própria. Resistente ao uso de signos associados diretamente à música, como imagens de instrumentos ou de compositores, o autor prefere trabalhar com a proposta de elementos da linguagem musical, como ritmo, melodia e dinâmica na composição das cores, formas, escalas e texturas dos seus cartazes. Muito disso se deve à formação artística que teve. Neto de Desidério Farkas, fundador da famosa rede de lojas Fototica, e filho de Thomaz Farkas, notável fotógrafo de origem húngara, o designer nasceu numa família, indiscutivelmente, ligada à imagem.


O artista destaca, em seu recente portfólio, o projeto gráfico de 30 anos de moda no Brasil.
Imagem: Reprodução

Na biblioteca do pai, deparou-se com livros do cartunista Saul Steinberg, HQs do francês Jean-Claude Forest e cartazes do movimento artístico art déco. Assim, foi dando corpo ao seu repertório imagético e olhar culto, até se formar na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, em 1982.



Atualmente, a produção literária tem sido o foco de atenção de Kiko Farkas.
Imagens: Reprodução


Atualmente, Farkas tem flertado, em maior grau, com a produção de obras literárias. Pensar o objeto livro, além do conteúdo, é o que tem lhe instigado nesse momento, na medida em que estuda costura, tato, acabamento e dimensão adequadas para cada publicação. Ele mesmo é autor de literatura infantojuvenil. Escreveu e ilustrou os livros Uma letra puxa a outra (Prêmio Jabuti 93), que já vendeu mais de 100 mil exemplares, e Um número depois do outro, em parceria com o poeta José Paulo Paes. As obras têm o selo da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).


Nesse tipo de trabalho, ele valoriza a composição das cores, formas,
escalas e texturas. Imagem: Reprodução


Kiko Farkas também venceu concurso para fazer toda a ilustração da produção intelectual do escritor baiano Jorge Amado (1912-2001), agora reeditada pela editora Companhia das Letras e prevista para ser concluída no ano que vem. O livro A bola e o goleiro é um dos que já estão nas lojas. Entre seus mais recentes trabalhos, ele ainda destaca o projeto gráfico do livro 30 anos de moda no Brasil, de Marília Scalzo, lançado no segundo semestre do ano passado, pela editora Livre. 

PEDRO PAZ, estudante de Jornalismo e estagiário da Continente.

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