Edição #142

Outubro 12

Nesta edição

Corpo

Então, é preciso escolher: o corpo vestido, virginal; o corpo despido, devassado. Porém, nesse caso, quem delibera não é a dona do corpo, mas o “outro”, não apenas o masculino, mas também o “social” . Quantas vezes as mulheres se vestem para quem as julga? E quantos desses julgamentos não são duros, preconceituosos? Muitas delas vão a público “vestindo” essas sentenças. Ainda pesa sobre a mulher, que precisa escolher entre ser santa ou diaba, a decisão: ela será perfeita e jovem, sem mácula (o que significa dizer: não será gorda, não terá estria, celulite ou ruga).

Eis que surge o paradoxo: se, para ser aceita socialmente, deve ser pudica e perfeita, como olhar para si e enxergar a sua contraparte arquetípica, a “mulher construída”, presente a cada piscadela? São as Vênus da publicidade, as Lilith do sexo, musas que empestam os produtos midiáticos e publicitários, desafiando qualquer mulher de carne e osso a equipará-las, superá-las. Evidentemente, isso coloca em conflito as fêmeas, que precisam tomar decisões sobre como enfrentar tais imposições. Claro, há uma gama variadíssima de estratégias nesse sentido, que percorrem a escala da sujeição radical à reação radical.

Supomos que a sujeição não seja uma estratégia eficaz, porque não transforma – aquieta-se, acanha-se, acomoda-se. Isto, quando não significa a anuência e o apoio a sentenças decrépitas (contra si mesma...).

Nesta edição, preferimos olhar para a segunda estratégia, a da reação. Sim, movimentos feministas já varreram muito esse chão, já limparam o território antes de chegarmos aqui e a elas somos gratas. Mas, hoje, têm ocorrido manifestações que desagradam tanto a conservadores quanto a progressistas, pelo seu caráter ambíguo.

Atos como a Marcha das Vadias são um acinte e surgem como resposta a pronunciamentos como o do policial canadense, que disse que se as mulheres não se vestissem como “vadias” elas seriam menos agredidas. Mulheres que saem às ruas com os microtudo são as “cachorras”, mas elas estão apoderando-se do que lhes pertence: o próprio corpo. São questões nada tranquilas como essas que nos propomos a tratar aqui.

A senhora que posa na capa nasceu Maria das Dores, no interior de Pernambuco, e, desde pequena, gostava de andar nua, o que causava desconforto à sua família. Um dia, decidiu que ia mudar-se de cidade e de nome. Hoje, Vera, 70 anos, comemora 50 como modelo nu em São Paulo, profissão com a qual conquistou a liberdade sempre sonhada.

Leia

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Sumário

Chacal

Escritor, letrista e poeta critica a criação artística voltada ao mercado

Galo de Souza

Grafiteiro que começou a intervir em muros como pichador é hoje dono do próprio estilo

Nudez

Intolerância ao vestuário ou amamentação pública revela preconceitos contra corpo da mulher

Literatura

É adequado estabelecer critérios morais em editais de criação e premiação literárias?

Fileteado

Elemento decorativo típico de Buenos Aires extrapolou limites territoriais e de suporte

Maciel Melo

Forrozeiro comemora 30 anos de carreira com disco produzido por Zeca Pagodinho

Rota do Imperador

Cidades de Piranhas e Penedo contam com trilha que percorre trajeto de Dom Pedro II

Catedral de Petrolina

Templo destaca-se pela fachada imponente e pelos belos vitrais franceses

Goma de mascar

Livro conta história do chiclete no Brasil, da sua chegada até o seu ingresso na cultura jovem

Infantojuvenil

Conjunto de livros, lançado pela Cepe, valoriza o diálogo com esse público

Gilberto Mendes

Compositor absorveu principais influências do século 20, criando repertório anticonvencional

Auto do Salão do Automóvel

Grupo monta peça de Osman Lins, que há 40 anos debatia complexificação dos centros urbanos

Arthur Bispo do Rosário

30ª Bienal de SP homenageia o artista que viveu 50 anos numa instituição psiquiátrica

José Cláudio

Eduardo Araújo

Sokurov

Com narrativa vigorosa de 'Fausto', cineasta russo encerra sua tetralogia sobre o poder

Raquel do Monte

A formação do olhar no cineclubismo

Alexandre Barros

Sabe lá o que é isso