Arquivo
Anabella López
Dona de uma paleta colorida e elegante, argentina radicada em Porto de Galinhas recebe o Jabuti
De vez em quando, nas nossas reuniões mensais de pauta, quando juntamos a equipe da redação para discussão de propostas de matérias, surgem ideias “nonsense”. “Baralho”? Como assim, uma matéria especial sobre “isso”?! (Um objeto sem relevância, seria mais ou menos o tom da interjeição.) Porém, leitor, não somente o jornalismo, mas a vida nos ensina que preconceitos nos levam muito frequentemente a erros. Veja você, um assunto tão simples, ou plano, nos rendeu uma bela reportagem de apenas 18 páginas!
E observe que nos restringimos aos pontos de vista que nos concernem, trazendo para esta edição a história desse artefato, o fascínio que exerce sobre apreciadores e jogadores, sua relação com a arte e mesmo com o misticismo, deixando de lado aspectos sempre associados ao baralho, como o vício no jogo, que pode levar indivíduos a situações difíceis. A esse respeito, a jornalista Marina Suassuna – que conduziu essa reportagem – nos trouxe uma informação tranquilizadora, de que o brasileiro lida com o baralho de modo leve, como uma forma barata de lazer, uma prática relaxante, para ser jogada entre amigos, em casa, clubes, casas de praia. Isso nos lembrou os veraneios, as rodadas dos adultos acompanhadas a distância pelas crianças, que não veem a hora de poder, elas mesmas, jogarem “uma partidinha”.
O baralho que jogamos no Brasil foi introduzido na Europa via trocas com o mundo árabe no século 15. Tão nobre, que era artigo de luxo, reservado aos que podiam pagar altos preços pelas lâminas pintadas à mão. Nelas, além dos números de 2 a 10, se estampam valetes, damas, reis, o disputadíssimo e elegante ás, o matreiro curinga. Um estojo de baralho reúne, assim, 52 cartas, pois cada uma delas vem em diferente naipe: ouro, copas, paus e espadas. Não demorou para que tais elementos fossem dotados de significados simbólicos, e o baralho vertido em “cartas de tarô”, através das quais se fazem análises e conjecturas do passado, presente, futuro.
Um dos nossos entrevistados, o historiador Cláudio Décourt, que é especialista no baralho de padrão internacional, afirma algo simples e sábio sobre ele: “O que mais me fascina no baralho é o fato de ser um objeto de criação popular há mais de seis séculos que até hoje é usado para prática de jogos ainda muito populares. Nem a tecnologia moderna dos computadores eliminou essas cartas fantásticas de suas telas”. Então, leitor, convidamos você a embarcar no encantador e rico universo das cartas de baralho.
Leia