O paulista ComixTrip tem como diferencial o foco no quadrinho nacional. O seu criador, Alexandre Montadon, também quadrinista, coloca como missão o desafio de popularizar as HQs para quem não é leitor habitual ou colecionador. Dono da Qualidade em Quadrinhos Editora, voltada para obras didáticas e institucionais, sua experiência na área digital se deu após criar um aplicativo de leitura a pedido do Sebrae. Deu tão certo, que ele decidiu investir em algo parecido para dar mais visibilidade aos títulos brasileiros de quadrinhos. “O sonho da gente é levar quadrinhos para 100 mil pessoas. Acredito que os aplicativos de streaming são a forma mais viável, a médio prazo, de conseguir fazer isso. No impresso ainda é bem difícil chegar a essa tiragem.”
LÓGICA DE MERCADO
Ainda que as editoras não divulguem números consolidados de tiragens e vendas, é possível perceber esse mercado bem-aquecido pelo número de novos títulos que chegam às bancas e livrarias. No FIQ, que aconteceu em novembro de 2015, o número de autores lançando novas obras havia triplicado em relação aos dois anos anteriores. No entanto, o mercado não consegue acompanhar esse crescimento do número de leitores. E as obras não param de aumentar de preço. Um dos motivos diz respeito justamente às baixas tiragens, preço do papel em alta e custos de distribuição e logística.
Para enfrentar essa barreira, os autores foram em busca de uma nova lógica de mercado. A primeira solução encontrada foi o financiamento coletivo, em plataformas como o Catarse e o Kickante. Autores mostravam seu trabalho e leitores compravam o título como uma espécie de pré-venda. Se o projeto fosse bem-sucedido, a produção era iniciada e todos os apoiadores ganhavam o livro e outras recompensas. Em caso contrário, todo mundo que investiu recebia o dinheiro de volta. Esse modelo mostrou o potencial do quadrinho autoral e chamou a atenção de editoras, que foram atrás desses novos nomes para aumentar o alcance com o lançamento em livrarias. Apenas o Catarse chega a ter 50 projetos simultaneamente em busca de financiamento. O streaming representa um segundo momento nessa busca de um maior alcance dos quadrinhos no Brasil.
Para os criadores dos aplicativos de streaming, o público-leitor brasileiro de HQ ainda está longe do seu potencial. “Existe um público grande que gosta de histórias boas e é nele que devemos apostar. Digo isso porque minha editora já vendeu mais de 6 milhões de obras para quem não lê quadrinhos”, afirmou Moldanon, em seu estande no FIQ. “Outra grande sacada do streaming é cobrar um preço que você nem sente no final do mês e ter acesso a um grande volume direcionado aos seus gostos. Desse jeito, conseguiremos chegar a quem ainda não lê HQs de forma habitual”, disse Ramon, do Cosmic.
E a experiência do papel, supostamente bastante relacionada aos quadrinhos? “O streaming não chega para substituir a HQ de papel, é apenas uma nova experiência. Muda apenas o suporte”, disse Moldanon, do ComixTrip.
PAULO FLORO, jornalista, escreve para a revista digital O Grito!.