A Troça FrevoAlternativo – é a partir dessas duas nomenclaturas que o grupo de Camaragibe designa seu significado. O grupo surgiu em meados de 2009, quando o vocalista Uel Borges retornou de João Pessoa a Pernambuco. Influenciado pelo sertão paraibano e pela visão de fora sobre seu estado, as composições nasceram ao longo de sua estada de dois anos na Paraíba. “A banda surge com cinco canções, de gêneros diferentes. A gente chamava de regional, porque tinha baião, forró e tal”, conta Uel.
A Troça surge do desejo dos intagrantes de praticar "guerrilha" musical com o frevo.
Foto: Kristopher Kim/Divulgação
Em casa, Uel teve uma base musical. Seu pai é violonista e o irmão toca saxofone. “A brincadeira da gente era compor. Cantávamos músicas que inventávamos”, rememora o vocalista.Mas foi numa breve diáspora que Uel passou a compor. “Música tem muito a ver com a imagem, para mim. O cenário nordestino me ajudou a criar. Há muita propriedade quando a gente fala da caatinga, dos olhos verdes das pessoas. Em algumas músicas, repito esse termo: olhos verdes da cor de cana. Tenho uma escrita muito voltada para a imagem, para a fisionomia das pessoas”, exemplifica.
Na Paraíba, ele começou a fazer canções para sua cunhada cantar. Mas ela não as utilizou e, como resultado, ele criou a banda, que conta com mais cinco integrantes, incluindo seu irmão Ivson Borges. Inicialmente, havia uma forte influência regional. A música A volante, por exemplo, é recitada, porém com uma base rock’n’roll. A partir da nomenclatura troça, que foi colocada por dois ex-integrantes, surgiu a ideia de falar sobre situações lúdicas, carnavalescas. O nome passou a orientar o ritmo. Nos shows, a banda interage com o público através de um megafone, referência à cultura popular.
Para o vocalista, é necessário ir além da mistura de ritmos. Isso porque ele passou a observar o público nos carnavais recentes. As pessoas dançavam, mas tinham uma reação de estranhamento assim que a banda mudava do frevo para o rock. Hoje, o grupo preocupa-se em usar o ritmo pernambucano como elemento principal das músicas.
A Troça possui dois EPs, lançados e gravados de maneira totalmente independente. O primeiro, intitulado Na quarta-feira, conta com três canções, enquanto o segundo, Megafone frevo, possui oito músicas. Nesse último, a discussão em torno do frevo atinge seu ponto alto. “É a culminância do que a gente pensa a respeito da guerrilha que temos com o ritmo, que é um patrimônio nosso, e a gente não consegue ouvi-lo o ano inteiro”, observa Uel.
Nesse EP, a banda utiliza dois elementos indispensáveis. O frevo como ritmo e o megafone, cuja função é, segundo o vocalista, ser um instrumento de protesto. “Se eu tenho um ritmo que é patrimônio da minha cultura, por que não posso exercê-lo o ano inteiro? Quero que as pessoas absorvam isso e que não se sintam incomodadas em ouvir a banda em outras épocas do ano.” O próximo EP do grupo tem previsão de lançamento para 2017. No entanto, ele já possui um título: O homem que perdeu sua batuta, só que em latim. Será uma homenagem ao avô do baixista, que foi barrado no seu próprio bloco de carnaval.
MARIA EDUARDA BARBOSA, estudante de Jornalismo e estagiária da Continente.