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Maurício Castro
Depois de experimentar vários suportes, artista plástico retorna à pintura e gravura
O corpo e a arte sempre mantiveram uma relação estreita. Ao longo da História, essa ligação foi tensionada e transformada, sobretudo quando, no século 20, aquilo que era apenas representação – em pinturas e esculturas, mas também na dança e no teatro – passou a ser suporte para experimentos, tornado-se não apenas um meio para discutir determinada temática, sendo ele o próprio tema. Entre os artistas que empreenderam as rupturas na concepção do corpo na arte, a partir dos anos 1960–70, está a sérvia Marina Abramovic. Sozinha ou junto com o parceiro de mais de uma década, Ulay, ela realizou performances inquietantes e questionadoras, de intensidade poética e grande plasticidade.
Este mês, será aberta, no Sesc Pompeia (SP), a exposição Terra comunal, que empreende uma retrospectiva do trabalho seminal de Abramovic. Este fato é o ponto de partida da nossa matéria de capa, que traz a discussão sobre a relação arte-corpo, da qual a artista é protagonista.
Além do retrospecto histórico, fundamental para a compreensão do tema, o material parte para a discussão contemporânea do papel do corpo nas linguagens artísticas. Uma das vozes presentes é a da psicanalista e pesquisadora de arte Suely Rolnik, a partir das conceituações que estabeleceu de “corpo-que-sabe” e “corpo recalcado”. Esse último seria centrado no eu, reforçando uma perspectiva estéril do corpo, já o “corpo-que-sabe” seria questionador, “um corpo, enfim, que sabe e existe em potencial até serem ‘ligadas’ suas conexões sensíveis e performativas em relação ao meio circundante”, como explica a jornalista Olívia Mindêlo.
Tudo indica que migramos, como afirma o francês Michel Bernard, “da civilização contra o corpo para a civilização do corpo”. Hoje, experimentações performativas têm forte cunho político, como aquelas que operam catarses na memória de corpos marcados historicamente por escravizações, explorações e torturas, como os das mulheres e de gays. As redes sociais e a internet também têm se mostrado, na contemporaneidade, ambientes propícios a essas provocações, manipulações e exibição da intimidade.
Ainda nesta edição, retomamos a Conversa, projeto lançado na edição de janeiro, dentro das comemorações dos 15 anos da Continente, que, a cada dois meses, reúne profissionais de uma determinada linguagem artística para discutir as principais inquietações das suas áreas. Neste segundo encontro, reunimos cinco profissionais das artes cênicas.
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