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Flora Pimentel
Fotógrafa documenta orquestras sinfônicas, em ensaio que registra momentos de descontração
Qual a força gerada por uma palavra? Muitas vezes, falamos sem ao menos imaginar o efeito que o dito produz. Em outros momentos, calculamos resultados, usando expressões singelas, amenas, sóbrias, neutras ou, ao contrário, fortes, enfáticas, agressivas, chulas. Há muitas gradações para o léxico, e esses níveis são conferidos não apenas pelos vocábulos, mas pelo que os acompanha e contextualiza, como a modulação da voz, os gestos e as expressões.
Há um consenso de que certas palavras devem ser ditas e que outras estão interditas. O palavrão figura entre as últimas. Uma pessoa de “boca suja” é mal vista, condenada socialmente. Quem usa palavrão desceu ao baixo nível. Se igualou à ralé. Esse é o senso comum, que orienta a etiqueta da fala. Moderado é aquele que controla seus instintos e revela temperança no discurso. Gente educada não fala palavrão, é o que aprendemos desde a infância.
Se assim é, porque os nomes feios insistem em surgir? Por que os soltamos? Na matéria de capa desta edição, fizemos “amizade” com o palavrão, observando com tolerância sua presença entre nós. O jornalista Gilson Oliveira constatou, por exemplo, que chega a ser injusta a fama de desbocados que os brasileiros imputam a si mesmos. Porque, quando deu por finalizado seu Dicionário do palavrão e termos afins, o etnólogo Mário Souto Maior havia registrado três mil desses verbetes em língua portuguesa, enquanto, na Alemanha, no mesmo período, o livro O sexo na linguagem popular registrava mais de nove mil.
Se o material produzido por Gilson já apontava para a vinculação entre palavrão e sexualidade, o artigo de Marlos de Barros Pessoa foi a última pá de cal a esse respeito. Num artigo leve e instrutivo, ele explica linguisticamente a relação que se estabelece entre tais expressões e o “baixo corporal”. O professor coloca um monte de palavrão no seu texto e, no entanto, eles não soam nada chulos, porque foram retirados do contexto que os origina e colocados no campo da reflexão.
Isso nos leva a uma evidência: uma palavra ou palavrão podem soar contrários àquilo que exprimiriam. Assim, um” FDP” dito num ambiente fraterno pode ser bem-vindo, enquanto que um “querida” proferido por alguém que lhe espicaça soará muito desagradável.
Nesta edição, ainda, oferecemos dois presentes ao leitor: um CD inédito do cantor e compositor Geraldo Maia, Estrada, e uma edição especial, encartada, sobre o crítico literário caruaruense Álvaro Lins, cujo centenário de nascimento comemora-se em dezembro.
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