Em sua participação no debate público, Chico Bosco tem buscado ser uma voz “desapaixonada”, ao procurar analisar nossa realidade sem a motivação militante e com muito senso crítico. Este, afirma o filósofo, seria o papel do intelectual. Na consistente conversa que teve com a nossa repórter especial Débora Nascimento, ele enfatizou a importância desta disposição e chamou atenção às dificuldades que temos tido para encarar os dissensos, vivendo no que ele indica como lógica de grupo. Quem não tem passado por isso? Eis uma entrevista, portanto, que atravessa este momento político infeliz no país e que vale como bússola para nossas relações.
O esforço intelectual e crítico também está presente em nossa reportagem de capa do mês, assinada pela jornalista Erika Muniz, que articula um pensamento em torno da construção social dos padrões de beleza e suas consequências sobre os corpos, sobretudo de mulheres cis e trans. Tomando o Brasil como contexto principal, mas considerando o paradigma eurocêntrico ocidental, o texto reúne depoimentos contundentes de pesquisadoras e profissionais que trabalham com o tema nas áreas de sociologia, artes, história, comunicação, pedagogia, medicina, psicologia e da própria estética. Com a reportagem, aprendemos o quanto a questão beleza atravessa as aparências e performances, mas esconde um sistema de normatizações profundo vinculado a mecanismos de poder que oprimem a diversidade das vidas que não se encaixam “no padrão hegemônico do homem branco, cristão, heterossexual, burguês, sem deficiências e magro como medida de todas as ‘coisas’”.
A reportagem traz ainda referências da literatura e das artes, texto que ganha novas camadas com as ilustrações da artista Flávia Bomfim, que foi nosso Portfólio na edição 259, de julho.