Reportagem

A beleza tem muitas faces

Uma investigação acerca do paradigma da estética ocidental como dispositivo de violência e opressão sobre os corpos

TEXTO ERIKA MUNIZ
ILUSTRAÇÕES FLÁVIA BONFIM

05 de Outubro de 2022

Ilustração Flávia Bonfim

[ed. 262 | outubro de 2022]

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Em maio deste ano,
entre movimentos para ver publicações recentes no Instagram, me apareceu um vídeo da atriz e diretora carioca Andréa Beltrão. Intérprete de grandes personagens, tanto na TV quanto nos palcos, ela reproduzia na rede uma mensagem que algumas vezes escutara: “Nossa, Andréa! Você tem 58 anos? Mas você está ótima!”. Em uma palavrinha encaixada ali, naquele que parecia um simples elogio, escapava um discurso quase implícito, que ela fez questão de desvelar: “Esse ‘mas’ carrega um preconceito gigante com a idade, mesmo que a intenção seja boa. Olha, elogio com ‘mas’ não é elogio. Eu tenho 58 anos e estou ótima; eu tenho 58 anos e estou cheia de energia; eu tenho 58 anos e me sinto maravilhosa”.

Naquele mesmo mês, a digital influencer texana Golloria (@golloria) postou um de seus vídeos experimentando produtos de maquiagem. Nele, ela prova bases das principais marcas disponíveis no mercado para peles negras. Em questão de segundos, sua demonstração evidencia o quanto várias das empresas da indústria da beleza estão longe de contemplar a pluralidade de tons das peles negras. Somente duas marcas apresentaram tonalidades referentes à pele de Golloria.

A cantora carioca Jojo Todynho participou do talent show Dança dos Famosos, da Rede Globo, no mês de abril. Logo após uma de suas apresentações, ela comentou que parte do público vinha fazendo apontamentos na internet sobre o seu peso e como aquilo repercutia em sua autoconfiança: “No primeiro dia de ensaio, eu chorei, porque às vezes me saboto e leio comentários. As pessoas fazem de tudo para me botar para baixo. ‘Não vão conseguir’. Aí, também fiquei na minha limitação, porque estou bem acima do meu peso, não tenho vergonha disso. Sou orgulhosa de quem eu sou e o que puder fazer para melhorar, vou melhorar”.

Esses são apenas alguns episódios recentes que mostram como padrões estéticos idealizados podem motivar – de diferentes formas e intensidades – situações de incômodo para as pessoas. De vez em quando, artistas internacionais ou nacionais aparecem tendo que lidar com cobranças, hates e comentários discriminatórios direcionados a seus corpos e suas performances. Poderíamos facilmente citar exemplos de outras épocas em que esses mecanismos regulatórios também estão evidentes. E não somente com figuras midiatizadas, mas também em nossas próprias vidas.

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