Edição #162

Junho 14

Nesta edição

Futebol

Em 1953, o Correio da Manhã lançou um concurso nacional para a concepção do uniforme oficial da seleção brasileira. Até então, a Canarinho só jogava de branco. O desenho de um gaúcho de 19 anos foi o escolhido. O jovem usou amarelo com detalhes verdes na camiseta, azul no calção e branco nas meias. A nova configuração teve sua estreia na Copa de 1954 e passou a canalizar e a simbolizar a torcida do Brasil em torno do esporte que surgiu na Europa, mas que foi adotado pelo país tropical como seu.

Há 60 anos, o padrão vem tanto representando essa paixão nacional quanto agregando o país em torno do sentimento de nação. Isso corroboraria a afirmação do comediante Jerry Seinfeld de que não se torce por um time, mas por um uniforme. No entanto, no caso da seleção, poderíamos dizer que o uniforme resumiria, com as cores da bandeira e a alegria proporcionada pelos jogos, a afeição pelo país e o indelével desejo de superar as outras nações a partir da simbologia da vitória. A guerra também parte desse princípio. Mas a diferença é que o esporte proporciona a celebração entre os povos e a busca do ser humano por ultrapassar suas limitações físicas.

Ao longo das últimas seis décadas, o uniforme criado pelo desenhista Aldyr Schlee (esboços acima), sofreu intervenções, inclusive com o acréscimo da marca patrocinadora da seleção, um reflexo de como o futebol cresceu como negócio. O romantismo que envolvia o amadorismo da modalidade na primeira metade do século 20 deu lugar ao extremo controle mercantil de sua realização, o que se reflete até na venda da camiseta oficial da Canarinho, a mais procurada, logo, a mais cara.

Após a terrível derrota brasileira na Copa de 1950, em pleno Maracanã, o país passou por um processo de perda da inocência, enfrentando, a partir da década seguinte, uma ditadura militar que afetou, inclusive, o futebol, que os militares usurparam, principalmente na Copa de 1970. Em paralelo ao poder opressor, crescia também o do esporte. Jogadores e torcedores passaram a notar sua força e expressaram, com suas “armas”, o anseio pela redemocratização.

A trajetória dessa relação entre futebol e política é abordada na matéria de capa deste mês da Continente, que também aborda o processo de mudança no tal uniforme do time nacional e a origem da catarse experimentada no campo, que leva o torcer a chorar, sorrir, abraçar, gritar, xingar e cantar, numa alternância de emoções tão súbita e circular quanto uma bola rolando. E tudo isso por causa dela, que precisa entrar numa rede. Mas não somente por isso.

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