Arquivo
Gabriel Azevedo
Estética tropicalista e kitsch marca o estilo do artista, ilustrador e designer
Houve uma época em que andar pelas ruas do Bairro do Recife dava pena. Ali pelos anos 1990, os imensos edifícios ecléticos, desabitados ou feitos cortiços, decadentes prostíbulos, estavam em ruínas. Mas, num sopro, houve um reinteresse pelo lugar, que esteve muito relacionado com sua arquitetura, com as edificações, o patrimônio. Evidência disso foi o surto “Curaçao” que ali se deu, com os prédios pintados em cores berrantes e variadas (claro, havia um impulso turístico, mas essa é outra história...), como que a torná-los outdoors de suas potencialidades.
Nesse tempo, a arquitetura eclética dominante no lugar foi revalorizada. Havia uma nostalgia, também, pelos “tempos áureos” da cidade, de quando aquela ilha era o “centro” do Recife, na primeira metade do século 20 e antes. À Rua Marquês de Olinda, localizava-se o Edifício Luciano Costa, que, no final dos anos 1950, em plena “modernização” do Recife, passou por uma intervenção que tornou sua fachada gritantemente diferente do entorno. Aquela malha de cobogós criada pelo arquiteto Luiz Nunes foi então questionada.
E deu-se o debate: manter, demolir ou demolir parcialmente o revestimento? Na discussão, pesava o prestígio que a arquitetura eclética mantinha em relação à moderna. Embora parecesse mais coerente com a história da arquitetura manter os cobogós – ou ao menos parte deles, como que num diálogo entre diferentes tempos construtivos –, a malha de elementos vazados ruiu, revelando novamente o edifício eclético original aos passantes.
Quantos edifícios modernos – hoje tornados também parte do patrimônio arquitetônico – estão mantidos em seu projeto original no Recife? Por que a arquitetura moderna parece em desvantagem aqui, sendo constantemente demolida ou descaracterizada? Quem mora na cidade e mantém qualquer interesse por esse assunto, percebe facilmente essa realidade. É ela que nos motiva, nesta edição, a uma “defesa” do acervo moderno.
Na catalogação, tivemos dificuldade de encontrar casas – e não prédios, como se verá nas páginas adiante – modernas no Recife. Simplesmente porque várias delas deixaram de existir, ou não podem assim ser chamadas, tal a degradação ou descaracterização por que passaram. Concordamos com o que disseram vários entrevistados da reportagem: a valorização dessa arquitetura passa essencialmente pela conscientização e apreço dos moradores da cidade. Caso contrário, ela será apenas parte de um “obituário”, como já observou o arquiteto Luiz Amorim.
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