Sua atuação se dá na intersecção entre a arte e o design, deixando de lado possíveis barreiras entre os dois campos. Por isso, ele prefere não ser chamado de artista plástico, mas de artista visual. Isso faz sentido diante da variedade de trabalhos realizados pelo artista/ilustrador/designer, e pelo fato de seus traços aparecerem tanto em desenhos autorais quanto em produtos feitos sob encomenda, capas de celular, blusas, vestidos, pôsteres.
Não é à toa que Gabriel tem conseguido aliar de forma harmoniosa sua produção autoral àquela feita sob encomenda. Mesmo no início da carreira, quando dava expediente em agências de publicidade e empresas de branding (gestão de marcas), encontrava tempo para desenvolver atividades mais livres, nas quais podia dar vazão à criatividade, como nos cartazes que produziu para peças de teatro de um grupo de amigos. Hoje, sua aproximação com a cena cultural se consolidou e lhe rendeu projetos com artistas como Karina Buhr, Jards Macalé, Los Sebosos Postizos e a cantora e atriz portuguesa Maria de Medeiros.
Imagem: Reprodução
A estética tropicalista e kitsch, embasada numa ideia de excesso, seja de cores ou de elementos, marca seu trabalho. “Claro que minha produção como designer atende a uma demanda do mercado e do cliente, e, por isso, nem sempre posso fazer como quero. Porém, acredito que consigo deixar minha cara em tudo que faço.” O universo invocado por ele é caótico – traço refletido no próprio uso de técnicas distintas num mesmo trabalho, como o desenho manual e digital, a colagem, os recortes – e tropical, com referências à natureza e suas cores. “O figura humana também é recorrente. Acho que isso tem relação com esse meu desejo de me aproximar das pessoas”, diz.
Com desenhos manuais, traz referências tropicalistas.
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Um recorte interessante de sua produção autoral é a sua primeira exposição individual Caos navalha, que passou pelo Recife (na Casa do Cachorro Preto) no início do ano, seguindo depois para Buenos Aires. Nos trabalhos, ele lança um olhar sobre o contexto desordenado do Carnaval. Segundo ele, essa característica desfaz divisores sociais importantes como sexualidade, política, status financeiro, formação intelectual e religião.
Composição feita para o show de Karina Buhr. Imagem: Reprodução
A ideia de caos pode ser associada ainda às técnicas utilizadas pelo artista, que foge do clichê, desconstruindo figuras típicas dos festejos de Momo com o uso de texturas, recortes e colagens sobre os desenhos. Aparentemente, o seu desejo é apresentar as coisas fora da ordem natural, sem o uso de referências óbvias. “Essa exposição diz muito sobre o meu local. O Recife é meu ponto de partida”, comenta.
Cores fortes são uma recorrência. Imagem: Reprodução
Ainda na universidade, Gabriel ensaiou uma entrada no campo da moda, fazendo aí trabalhos pontuais. Já em São Paulo, os detalhes de seus cartazes chamaram a atenção de uma grande empresa têxtil, que produz estampas para diversas marcas nacionais. Foi assim que seus desenhos viraram estampas. Hoje, ele produz padronagens exclusivas para uma marca.
Em Caos navalha, releituras de figuras do Carnaval. Imagem: Reprodução
Com um trabalho consolidado no campo do design, Gabriel deseja encontrar espaço no mercado da arte, e um dos seus recursos, nesse sentido, é fazer Caos navalha circular em terras brasileiras.
MARIANA OLIVEIRA, editora-assistente da revista Continente.