Arquivo
Ciranda Bordadeira
Grupo produz peças a partir de obras artísticas canônicas e populares
A cidade é um tema constante: sedutor e angustiante, a um só tempo. Em várias edições da Continente, temos abordado o assunto, adotando diferentes tons: ora idílico, ora problematizador.
No ano passado, por exemplo, em janeiro, trouxemos uma matéria sobre passear em Paris de bicicletas, um transporte que tem suscitado debates no que diz respeito aos congestionamentos e problemas ambientais. Em abril, discutimos os contrastes que habitam o Recife, uma cidade de ruas em que trafegam utilitários possantes e carroças puxadas a cavalo, antagonismo que evidencia acentuados desníveis sociais. Em agosto, visitamos os quintais do sítio histórico de Olinda, que trazem tanta calma aos seus moradores. Em setembro, entrevistamos o antropólogo Antônio Risério, que analisou com agudez os problemas das metrópoles brasileiras. Em outubro, observamos como um elemento decorativo é capaz de traduzir uma cidade, no caso, o fileteado argentino, que enfeita construções e objetos nas ruas de Buenos Aires.
Nesta primeira edição de 2013, o tema nos mobiliza mais uma vez. Agora, uma realidade que submete todos, de modo onipresente e devastador: a paisagem sonora. Dita assim, parece tratar-se de coisa agradável, pela denominação “paisagem”, que nos remete à “beleza”. Mas o que temos vivido é bem diverso de algo aprazível. Na verdade, convivemos com tal babel de sons e ruídos, que não podemos discordar do pensador Murray Schafer. Na década de 1970, ele já havia dito que “em todo o mundo a paisagem sonora atingiu o ápice da vulgaridade”. Por onde andamos, alguma coisa se diz, grita-se, propaga-se, e nem mesmo em nossa mente há silêncio, visto que não paramos de pensar. Seria o silêncio, assim, uma utopia?
Para abordar o assunto, contamos com dois jornalistas e um fotógrafo, que reuniram material junto a pesquisadores, artistas, técnicos e gente que trafega na rua, que gosta de silêncio, que gosta de barulho ou que nem mesmo estabelece esse tipo de diferenciação. Embora traga incômodo e tenha gerado iniciativas de regulamentação, a poluição ambiental causada por emissão de sons ainda é um assunto incipiente, não de todo assimilado pela sociedade. No que diz respeito a esse tema, estamos próximos do impasse que avistamos em relação aos muitos “recifes” que encontramos naquela matéria de abril de 2012: os que podem, “blindam-se” com isolamentos acústicos; os que não têm as mesmas condições, chafurdam no caos sonoro, do qual é difícil escapar.
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