Entrevista
Micheliny Verunschk
Escritora pernambucana discorre sobre momentos marcantes de sua trajetória
Diz o dicionário Houaiss que a palavra memória, registrada pela primeira vez no século XIII, vem do latim memorĭa,ae e também de mĕmor,ōris, que traz o sentido de “aquele que se lembra, que se recorda”. Este verbete está espraiado na etimologia e na ontologia desta edição #272 da Continente, que acolhe os ventos de agosto com o sopro das recordações e a importância de lembrar o passado para viver o presente e vislumbrar o futuro.
Retratos fantasmas, quinto longa-metragem do realizador pernambucano Kleber Mendonça Filho, com pré-estreia no Teatro do Parque no próximo dia 14 e lançamento nacional em 24 de agosto, parte das recordações que os cinemas de rua do centro do Recife deixaram no diretor para criar uma cartografia sentimental e afetiva e partilhar uma reflexão sobre a memória. Art Palácio, Trianon, Moderno, Veneza são salas de exibição que ajudaram a formar gerações e gerações de cinéfilos, mas que não mais existem, a não ser nas lembranças.
Na reportagem escrita por Luciana Veras, percorremos um caminho que sai do filme para alinhavar acervos individuais, arquivos familiares, as cenas de filmes antigos em diálogo constante com as obras contemporâneas que enquadram a Ponte da Boa Vista ou o Cinema São Luiz e o modo da capital pernambucana lidar com as camadas e contradições do tempo. As salas de cinema e as pessoas que concretizam seu funcionamento aparecem, também, no ensaio visual do jornalista e fotógrafo Sergio Poroger, que há anos vem registrando as cenas corriqueiras destes espaços tão presentes na vida urbana das cidades.
Por fim, é também a partir do reencontro com suas memórias da infância que a escritora pernambucana Micheliny Verunschk vem erigindo seu percurso literário. Em Caminhando com os mortos, seu mais recente romance, lançado em junho pela editora Companhia das Letras, ela fala de intolerância, fundamentalismo religioso e feminicídio em uma costura ficcional que traz ecos do que viu e vivenciou quando seu pai era delegado em Tupanatinga, no agreste de Pernambuco, e levava para casa os inquéritos policiais de casos violentos. Na entrevista, Micheliny discorre, ainda, sobre seu processo criativo e o bom momento que a literatura contemporânea brasileira vive no mercado.
Capa: Arte de Matheus Melo sobre fotos do Acervo Wilson Carneiro da Cunha (Kiosque do Wilson)/Cinemascópio/Divulgação
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