Arte moderna
Cem anos depois da Semana de 22, um olhar sobre seu legado e os vários modernismos brasileiros
Deslocar o olhar: um exercício político e necessário, na medida em que nos motiva a perceber o mundo e suas dinâmicas por outros ângulos. Neste centenário da Semana de Arte Moderna de São Paulo, novas visões sobre as ideias transformadoras que provocaram abalos sísmicos no pensamento artístico e intelectual do Brasil questionam a narrativa consolidada (e construída) sobre a fundação do movimento pelos paulistas. Como fica claro na reportagem assinada por Luciana Veras, as experimentações sobre a forma de fazer arte aconteciam em diferentes locais, como Pernambuco, Pará, Rio de Janeiro, entre outros, e já expunham as tensões entre a tradição e o novo. O que é, afinal, ser moderno? E quem pode sê-lo?
Para ilustrar a reportagem, convidamos Dani Acioli, Eduardo Azerêdo, Filipe Aca e João Lin para produzir ilustrações exclusivas, inspiradas nas obras de quatro nomes fundamentais para o movimento: Cícero Dias, Vicente do Rego Monteiro, Mário de Andrade e Tarsila do Amaral. As imagens, assim como o texto, nos provocam e nos deslocam, nos fazem pensar sobre o moderno em vários cantos, em vários eixos.
Ressignificar o ponto de onde se enxerga o mundo e, assim, questionar suas próprias estruturas, é também o que a jornalista e escritora gaúcha Eliane Brum vem fazendo desde 2017, quando deixou São Paulo para viver em Altamira, no Pará. Ao fazer essa mudança, ela queria não só cobrir in loco as dinâmicas da Amazônia, que na sua perspectiva é o centro da Terra, como também reflorestar a si, como ela explica na entrevista deste mês. Além de falar sobre seu novo livro, Banzeiro òkòtó: Uma viagem à Amazônia Centro do Mundo, ela discute o ecocídio das comunidades ribeirinhas, a importância de repensar a linguagem e de colocar em prática novas formas de vida, tomando como exemplo culturas para além da perspectiva masculina, branca, hétero, cis e europeia.
Esperamos que o movimento de olhar para o nosso entorno e para nós mesmos em busca de transformações efetivas seja uma constante neste ano de 2022.
Boa leitura!
Nossa capa: Matheus Melo
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