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Maíra Erlich
Ao invés das tradicionais imagens de casamentos, fotógrafa privilegia momentos descontraídos
O editorial é um dos últimos textos escritos numa publicação como esta. Isso porque, como o leitor percebe, ele se configura num olhar a posteriori, quando tudo está pronto e temos a possibilidade de comentar e estabelecer relações entre os conteúdos que pretendemos apresentar ao leitor. Nesta edição, chama a nossa atenção o antagonismo temático entre dois assuntos de destaque: a matéria de capa, sobre o fascínio pelo horror, e a reportagem sobre a adoração a Virgem Maria, em Cimbres.
O melhor dessas situações antagônicas são as nuances que nos colocam diante de uma complexidade nem sempre visível. No caso aqui posto, por exemplo, tendemos a atribuir um selo de “bem” à veneração à imagem e de “mal” ao fascínio pelo horror. Diante de uma leitura mais aproximada, esse impulso classificatório – herança de anos de cultura cristã maniqueísta – cede lugar a uma ressalva (se não inédita, ao menos, estimulante) de que o bem e o mal não estão apartados, mas caminham lado a lado, para desespero da nossa necessidade de paz.
Na reportagem sobre a adoração a Nossa Senhora, uma apuração que passou por reviravoltas, ficamos sabendo que as melhores intenções podem revelar discórdias, conflitos, disputas. Quem poderia imaginar que em torno de Nossa Senhora das Graças, em Pesqueira, tanta cizânia já foi criada? Isso foi constatado ao chegarmos lá.
Com relação ao horror, tendemos a achar esquisito alguém declarar seu amor a vampiros, lobisomens e almas penadas. E nos perguntamos sobre o porquê de tal comportamento. Essa indagação nos levou ao material que publicamos aqui, e os colaboradores convidados são justamente aqueles que afirmam interesse permanente pelo assunto. Assim, partimos de uma leitura, digamos, afetiva, do horror, com textos sobre literatura, cinema e música. Para completar a abordagem, convidamos um psicanalista para que nos ajudasse a entender esse fascínio. Um trecho no artigo do especialista resume bem a história:
“Nosso fascínio pelas narrativas de terror e boa parte de sua benéfica ação psicológica decorre do exercício com a própria fantasia, da tensão entre o que não se deve saber e o que não se pode acreditar”. Há outras informações bastante reveladoras sobre nosso desejo de sentir medo, ainda que este seja experimentado na confortável posição de leitor, espectador ou ouvinte. Leia e constate.
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