Edição #244

Abril 21

Nesta edição

Sobre proibir e cancelar

Era abril de 2020 e estávamos todos vivendo as primeiras semanas da quarentena da pandemia, que provocaria a maior crise sanitária vivida pelo Brasil. Em nossa capa, naquela edição #232, a repórter Luciana Veras se debruçava sobre o encarceramento em massa no país. Um número chamava a atenção, entre os vários dados apresentados: segundo o InfoPen, 304 mil cidadãos e cidadãs brasileiras cumprem pena por tráfico de entorpecentes e delitos adjacentes, como associação, operação e indução ao uso de drogas – 39,4% do total da nossa população carcerária. 

E é sobre as drogas que lançamos nosso olhar neste abril de 2021, quando vivemos o pior momento da pandemia. Foi nesse tema polêmico e envolto em tantos preconceitos que a nossa repórter Luciana Veras mergulhou nos últimos meses. Através das variadas fontes que ela reúne em sua reportagem, não é difícil chegar à conclusão de que, no Brasil, o debate em torno das drogas não conseguiu evoluir, sair do viés proibicionista e moralista, para uma compreensão ampla e diversa do tema. 

A reportagem apresenta abordagem sobre o uso da maconha para fins medicinais no Brasil, faz um apanhado histórico do uso recreativo de algumas drogas ao longo do tempo e propõe uma reflexão sobre o porquê de algumas drogas serem consideradas lícitas, como o álcool, e outras serem duramente combatidas. As vozes são muitas, mas a conclusão é apenas uma: tratar esse problema como uma proibição não é o caminho. 

Trazemos ainda uma potente reflexão sobre a cultura do cancelamento, provocada pelos recentes acontecimentos envolvendo participantes do Big Brother Brasil. Convidamos o psicanalista e professor Carlos Ferraz para discutir nuances importantes desse comportamento que, ao que tudo indica, veio para ficar. Resta-nos apenas aprender a tirar o melhor disso tudo, construindo pontes, e não as destruindo. “O acolhimento crítico diante dos que demonstram diferenças e mesmo preconceitos, mas que não inviabilizem um diálogo amplo, parece uma conduta politicamente mais madura, pedagogicamente mais promissora e psicanaliticamente mais sustentável. Fora um outro fato: o uso dessa lupa minuciosa e amplificadora não permite um lugar ao sol nem mesmo para os ativistas”, escreve Carlos. Que neste 2021, que começa tão sofrido, possamos ter a sabedoria de sempre buscar a empatia e o diálogo. 

Capa: Ilustração Greg

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