Edição #237

Setembro 20

Nesta edição

Nós, a morte e o amadurecer

Incrível pensar que Jimi Hendrix estaria hoje com quase 80 anos se, naquele 18 de setembro de 1970, não tivesse se afogado no próprio vômito, aos 27 anos. Muito jovem e talentoso, Jimi Hendrix teve uma passagem tão marcante e fugaz pela Terra, que muitos fãs até hoje se perguntam: o que ele mais faria na música, se permanecesse vivo? 

É exatamente esse movimento de imaginação que a repórter especial Débora Nascimento faz, na narrativa ficcional Jimi, espere até amanhã, cujo título é inspirado no da música Wait until tomorrow, de 1967. No texto, escrito em tributo aos seus 50 anos, a jornalista imagina quais parcerias, encontros, eventos e discos o artista realizaria nas décadas seguintes.  Os acontecimentos pós-1970 misturam ficção e realidade, como a realização do primeiro Rock in Rio, o Live Aid de 1985, o Festival da Ilha de Wight, de 1970, e a edição de 1978 do de Montreux. 

Para a edição dessa narrativa, que nos enche de alegria pela possibilidade de Hendrix ter-se mantido vivo, contamos com a colaboração do guitarrista e artista plástico Neilton Carvalho, da banda Devotos, que aceitou o convite de Débora para criar três ilustrações a partir da leitura dessa biografia desejada do músico norte-americano.

Para o nosso bem, nem todos os artistas se vão tão cedo quanto Hendrix, e podemos acompanhar o amadurecimento deles. Nesta edição, temos testemunho disso, na conversa que Leonardo Vila Nova teve com o também músico Arnaldo Antunes, que completa seis décadas de vida. Uma das qualidades desse diálogo é a disponibilidade de Arnaldo em falar de modo franco e sereno desse processo, certamente marcado por questionamentos de várias ordens pelos que o experienciam. 

“A coisa interior do amadurecimento é algo que a gente vai vivendo e sentindo. Claro que eu teria mil coisas para falar sobre o processo de envelhecer, de ver os filhos crescendo, de ter um olhar mais maduro sobre a criação e como a depuração vai acontecendo no decorrer do tempo, o aprendizado desses anos todos. Mas acho que qualquer coisa que eu diga é melhor dita nas minhas músicas”, comenta o músico, poeta, artista visual, que depois pontua: “Acho que tem o ganho de amadurecimento, sim. É claro que a gente não tem a mesma vitalidade da juventude, mas, de certa forma, quer manter uma inquietação. Eu espero, aos meus 60, aos 70, nunca perder uma certa inquietação”. 

Estamos com Arnaldo Antunes, e emendamos, numa paródia à sentença famosa: Há que envelhecer, mas sem perder a inquietação, jamais.

Foto de capa | José de Holanda

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