Ensaio
Suicídio
Psicanalista Christian Dunker analisa o ato a partir de cartas deixadas por artistas
Existem assuntos dos quais tentamos fugir, seja porque são assustadores, constrangedores, tristes, dolorosos, inexplicáveis. Provavelmente, o suicídio se encaixa nessas e em outras categorias, por isso colocamos vários anteparos contra ele. Um tabu, um medo social, um preconceito. Há elementos que podem acirrar o silenciamento sobre o tema, muitos dos quais ligados à religião e à ordem social. Mas olhares diversificados podem ser lançados sobre o suicídio, sobretudo num cenário de aumento de casos no mundo, e também no Brasil, onde se criou a campanha Setembro Amarelo, para fomentar a discussão sobre o assunto.
No ensaio O suicida ou a era do niilismo (Zazie Edições), o filósofo romeno Ciprian Valcan aponta que “o suicida é a personificação da desordem, da intrusão da falta de sentido, da suspensão das obrigações. Se a vida das comunidades é em geral regida pelo cruzamento do eixo horizontal das leis e convenções com o eixo vertical dos princípios e valores, o suicida, acompanhado por um grupo formado por membros menos radicais como o vagabundo, a meretriz ou o maluco, propõe uma intervenção oblíqua, que desequilibra os mecanismos rotineiros de avaliação social, introduzindo variáveis imponderáveis em relação às instâncias tradicionais de quantificação do prestígio e ameaçando deslocar todo o conjunto de certezas instrumentais que permitem a sobrevivência dos indivíduos”.
Num viés mais comportamental de análise, o psicanalista Christian Ingo Lenz Dunker, autor do ensaio de capa desta edição da Continente, observa o suicídio a partir de cartas deixadas por escritores, músicos, poetas. “A carta de suicídio é o testemunho material de um acontecimento inacreditável. Quando alguém tira a própria vida, isso parece ofender não apenas uma crença específica na soberania da vida, na relevância da existência, mas o próprio princípio da crença, ou seja, essa leitura da vida que mantém unido o arco temporal que sai do presente, retorna ao passado e se projeta como realizado no futuro”, pontua ele, logo no início do texto.
Para estar com Dunker nessa abordagem, convidamos a artista visual Clara Moreira, que realizou um belo ensaio visual, que acompanha com intensidade e sutileza o agudo tema. Aqui na Redação, propusemos falar sobre suicídio com cuidado e respeito. Esperamos que você, leitor, acolha o assunto com atenção sensível.
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