Os três romances mais interessantes publicados nos últimos meses no Brasil tratam do mesmo tema: a morte dos filhos. Não estou sugerindo que haja alguma tendência literária ou um possível movimento estético. Deve ter sido coincidência. Como Lincoln no limbo, Canção de ninar e O pai da menina morta têm semelhanças intrigantes, para além do tema candente e delicado, acho que o esforço comparativo pode revelar algo de interessante para o nosso tempo. Se não isso, ao menos uma reflexão produtiva sobre o estatuto da literatura contemporânea é possível tirar do confronto entre eles. Na pior das hipóteses, algumas ideias sobre leitura devem aparecer.
Os três narradores são bastante diferentes. Canção de ninar, da escritora franco-marroquina Leïla Slimani, é o único em terceira pessoa, com o narrador praticamente colado aos acontecimentos. As descrições são minuciosas, as personagens acabam psicologicamente esmiuçadas e muitas vezes o texto lembra uma investigação policial, que aliás não está fora da trama.
Lincoln no limbo, romance de estreia do excelente contista norte-americano George Saunders, é uma exaustiva colagem de fragmentos de notícia de jornal, trechos de livros e vozes de um amplo painel de personagens que vão compondo um plano narrativo multifacetado e bastante dinâmico, indo da ironia à discussão metafísica.
O norte-americano George Saunders, autor do livro Lincoln no limbo. Foto: Reprodução
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EXTRAS:
Leia o trecho do livro O pai da menina morta, de Tiago Ferro.
Leia o trecho do livro Canção de ninar, de Leïla Slimani.
Leia trecho do livro Lincoln no limbo, de George Saunders.
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