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Joaquim
Em seu novo filme, Marcelo Gomes desconstrói o mito de Tiradentes
Em 20 de abril de 1997, o índio Galdino Jesus dos Santos dormia em uma parada de ônibus da capital federal, 24 horas depois de ter participado das manifestações do Dia do Índio, quando quatro rapazes brancos decidiram queimá-lo vivo. Passaram-se 20 anos desse ato cruel, e os povos indígenas no Brasil seguem sendo vítimas das mais diversas violências – uma situação que perdura desde a chegada dos colonizadores a terras brasileiras. Neste mês, nossa reportagem de capa lança seu olhar sobre a situação dessa população, que se distribui em cerca de 305 povos distintos em todo território nacional.
Já nas primeiras conversas, tínhamos convicção de que não gostaríamos de tomar o lugar de fala dos indígenas, que buscaríamos trazê-los como colaboradores para dentro da revista. Ao avançar nas pesquisas, encontramos eco em algumas leituras e na fala de alguns pesquisadores. O antropólogo Eduardo Viveiros de Casto, no prefácio que escreveu para o livro A queda do céu, do xamã Yanomami Davi Kopenawa e de Bruce Albert, dizia: “Recusar aos índios uma interlocução estética e filosófica radicalmente ‘horizontal’ com nossa sociedade, relegando-os ao papel de objetos de assistencialismo terceirizado, de clientes de um ativismo branco esclarecido, ou de vítimas de um denuncismo desesperado, é recusar a eles a sua contemporaneidade absoluta. Nosso tempo é o tempo do outro, para glosarmos, e invertermos, a bandeira que Johannes Fabian agitava em 1983. Pois os tempos são outros. E o outro, mais ainda”.
Não queríamos recusar aos indígenas essa “contemporaneidade absoluta”, por isso, ainda que o especial traga textos de apoio escritos por não índios, era uma prerrogativa fundamental – sem ela, a matéria não seria publicada – que tivéssemos o depoimento e a voz de indígenas em nossas páginas como protagonistas das suas narrativas. Nessa busca, encontramos Ailton Krenak, Dorinha Pankará, Naine Terena e Vera Tupã Popygua Timotéo da Silva, indígenas de etnias distintas, de regiões variadas, que nos contam um pouco da saga dos seus povos e de como é ser, hoje, um indígena no Brasil.
Além desse tema tão urgente, não era possível deixar passar em branco os 80 anos do poeta, cineasta e crítico cultural Jomard Muniz de Britto, comemorados neste mês de abril. O perfil, assinado por Aristides Oliveira, nos conta um pouco da sua trajetória, marcada pelo inconformismo e pela iconoclastia. Nessa celebração, presenteamos você, leitor, com o documentário-ensaio JMB, o famigerado (2011), da cineasta Luci Alcantâra, que segue encartado nesta edição.
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