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Thiago Martins de Melo
Pintor maranhense cria obras de grandes dimensões, em prolixa e polifônica crítica política
Sempre há um culpado na história. Às vezes, ele nem merece tanto “prestígio”, mas é quem paga o pato. Desta vez, a culpa é de 50 tons de cinza e sua entrée no cinema, levando fãs excitadas a irem à sessão portando algeminhas e chicotinhos. Não se tratava de aferir se a trilogia de E.L. James é “literatura”. Queríamos discutir o erótico e o pornográfico, tentando entendê-los e como estão postos no texto ficcional. Então fomos ler livros licenciosos e ouvir os que estudam o assunto, para compor a matéria de capa. Um feito prazeroso.
Para a professora da USP Eliane Robert Moraes, são falsas as distinções entre o erótico e o pornográfico, em que o primeiro é velado e o segundo, explícito. “A rigor, livros como os do marquês de Sade, de Georges Bataille, de Glauco Mattoso ou de Reinaldo Moraes são muito mais obscenos do que a pornografia comercial de uma Bruna Surfistinha ou de uma E. L. James. A diferença entre eles não está no grau de obscenidade, mas na composição formal: o valor de um texto nunca se mede por sua moralidade, mas por sua qualidade estética”, afirma para Priscilla Campos.
Com ênfase na recepção, o professor da UFPE, Alfredo Cordiviola, diz: “A definição do que seja erótico ou pornográfico não depende do gênero em si, não é algo intrínseco (se mostra mais ou menos genitália, se tem ou não enredo etc.). Depende da recepção desses textos, do ponto segundo o qual são observados e das expectativas e pressupostos que são gerados na sua recepção”.
Para além das diferenciações, queríamos também traçar uma genealogia da literatura erótica e vislumbrar motivações dos autores. “Entendo que a exaltação do sexo no âmbito das artes depende, em sua origem, de uma dimensão sagrada. Isso porque não há como separar a ideia de erótico de Eros ou Cupido, quer pensemos no mundo grego ou no romano. É a partir dessa relação com o sagrado e com essas divindades que se estabelecem elementos de definição do erótico como força que, de um lado, advém do Caos, e de outro, comporta a noção do intercurso sexual e dos encontros com o outro, os quais envolvem o conceito de beleza, e o conflito alma versus corpo”, aponta o professor do Departamento de História da UniRio, Daniel Wanderson Ferreira, também entrevistado para esta edição.
Há outros pontos de vista aqui reunidos, além de referências a autores que nos levam a obras substanciais deste gênero que agora ousa se revelar para além da leitura de alcova.
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