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Rubem Grilo
Gravurista cria obras ricas em detalhes, xilogravuras que exibem sua visão crítica da sociedade
Sim, é verdade que, em décadas passadas, eles estavam mais à vista, ocupando calçadas e passeios. Montavam ali suas tendas, e esperavam os possíveis fregueses para suas composições coloridas, vibrantes. Eram os pintores naïfs. Hoje, verifica-se uma retração de tal fenômeno, e, possivelmente, vamos encontrar como justificativa disso não apenas o maior controle do estado sobre o ambiente urbano, mas a brutalização das relações humanas, numa cidade que cede cada vez mais espaço para indiferenças. Onde se encontram os naïfs, então? Qual o espaço, atualmente, para esse gênero artístico?
Foram essas duas perguntas que motivaram, inicialmente, o nosso interesse em abordar o tema da arte naïf. Principalmente, quando sabemos que muitos desses artistas, a maioria autodidatas vindos das camadas mais populares, estabelecem sua relação com o público de forma direta, sem as mediações sofisticadas e bem-articuladas da arte contemporânea, por exemplo.
A primeira resposta às nossas indagações apontava para um quadro desolador, pois a mais representativa instituição para o gênero no Brasil, com acervo de 6 mil obras, o Museu Internacional de Arte Naïf (Mian), instalado no bairro do Cosme Velho, no Rio de Janeiro, anunciava seu fechamento. Pinturas de artistas importantes como Heitor dos Prazeres, Chico da Silva, Miriam, Bajado, Cardosinho e tantos outros foram enterradas vivas, já que não há verbas para sua manutenção. Quem nos conta essa história é a diretora do Mian, Jacqueline Finkelstein, filha do francês Lucien, que foi admirador e colecionador do gênero, criando uma fundação para sua preservação, agora sob ameaça.
O que percebemos, pelo que nos foi trazido pelas reportagens publicadas nesta edição, é que – embora não viva um momento de supervalorização, como ocorreu nos anos 1970, no Brasil – a arte naïf encontra seu espaço e reconhecimento. Artistas que não se detêm em nomear-se como tal, mas que acabam sendo revelados como naïfs, continuam a surgir; galerias para a venda dessas obras se estabelecem e mantêm uma rede de compradores (sobretudo estrangeiros); e o público ainda se admira diante dessa arte que expressa beleza simples e desejo de felicidade.
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