Naïf: Arte que se reinventa de modo espontâneo
No mundo dominado por instalações, performances, vídeos e objetos, a pintura primitiva multiplica suas cores e mostra ao mundo que resiste à morte de grandes mestres, como Bajado e Heitor dos Praz
TEXTO Olívia Mindêlo
01 de Setembro de 2011
Em 1890, Henri Rousseau pintou seu autorretrato à beira do cais
Imagem Reprodução
A morte da pintura já foi anunciada algumas vezes, desde que a arte ganhou status privilegiado na história. Uma das sentenças mais famosas foi proferida pelo pintor Paul Delaroche (1797-1856), em 1836. Representante do gênero histórico acadêmico, à época uma referência na produção pictórica da Europa, ele e demais “caçadores de realidade” se viram diante de uma ameaça: o advento da fotografia. Era como se seus trabalhos não fizessem mais sentido, tivessem ficado obsoletos. Mas os impressionistas, e todos os outros “istas” de vanguarda que os sucederam, provaram que o auge da pintura só estava por vir. A obsessão pela perspectiva mimética, pela qual se buscava o “real” através do quadro, levou rasteira do gesto das pinceladas, fixando-se mais na tela do que no lado de fora. A pintura “morria” para o mundo, mas nascia para si, rumo a uma sofisticação estética sem precedentes. Em outras palavras, em direção ao abstracionismo.
Os pintores realistas e figurativos, contudo, jamais deixaram de existir e enxergar através da janela, emoldurando o que viam vida afora em suas obras. Independentemente da maneira como buscavam transcrever essa realidade, com ou sem regras, e de como os outros julgavam essa representação. A despeito do que nos impingem, a história não é estanque. Nem mesmo outra sentença sobre a morte da pintura, dessa vez dita em tom de ironia por Marcel Duchamp (1887-1968), foi suficiente para aposentar os pincéis dos artistas do mundo. Ao defender uma criação mais conceitual e “livre” de amarras estéticas, em grande parte herdada de uma atitude duchampiana, a arte contemporânea pôs em xeque o sentido da habilidade manual para o fazer artístico, até então dominado pelas tintas. Mas o trabalho dos pintores seguiu, mesmo no território tomado por instalações, performances, vídeos e objetos.
O teórico de arte contemporânea Thierry de Duve, estudioso do próprio Duchamp, disse certa vez que a pintura nunca vai deixar de existir, porque é uma expressão primitiva, instintiva. Está relacionada aos sentidos. Ao tato. Ao cheiro. À vida mais próxima que se pode alcançar com os olhos, o nariz e as mãos. A observação do crítico belga parece definir bem aquela que persiste até hoje: a arte naïf, também conhecida como ingênua, espontânea ou primitiva. Tal qual a pintura, ela não morreu. No Brasil, na Guatemala, na Ucrânia, na França e em outros países, segue, no geral, atrelada ao trabalho de autodidatas.
Iemanjá pintada pelo “artista de Olinda”, como era chamado Bajado.
Imagem: Reprodução
O naïf pode não estar nas bienais mais prestigiadas da atualidade, enquanto espera um olhar sensível em alguma calçada ou ateliê. Pode estar fadado a um mundo paralelo dentro de um campo artístico que o separa segundo sistemas classificatórios hierarquizados. Mas encontra como sobreviver e ter reconhecimento. O historiador da arte Pierre Francastel diz que “a obra é fixa, mas a visão está em movimento”, o que significa que é o olhar situado sócio-historicamente que constrói o valor e a concepção da obra. Ao longo da história, o naïf encontrou seu lugar de legitimação no mundo da arte, embora quase nunca na primeira fileira do espetáculo; às vezes, bem distante do teatro. O processo de refinamento e elitização da arte, contudo, não impediu os artistas de produzir sem parar e garantir um tempo, um espaço e um olhar para as suas criações, quase sempre representações coloridas de um povo, em suas diferentes facetas.
LEGITIMAÇÃO
Recentemente, o Museu Internacional de Arte Naïf (Mian), no Rio de Janeiro, fechou as portas, com mais de 6 mil obras entregues à umidade e à sorte de talvez voltar a funcionar. Enquanto o espaço não recebe aportes financeiros, galerias, colecionadores e, principalmente, os próprios artistas vão dando conta de manter o naïf num Brasil em que editais, exposições, museus e demais instituições se voltam quase que exclusivamente à produção visual contemporânea.
Uma das exceções é a Bienal Naïfs do Brasil, realizada desde 1986, no Sesc de Piracicaba, interior de São Paulo. Além de procurar valorizar o trabalho dos artistas ditos primitivos, cedendo espaço expositivo, a iniciativa premia e dá destaque à obra de mais de uma centena de nomes vivos, muitas vezes desconhecidos. Homenageia, também, a cada dois anos, talentos brasileiros consagrados, como o paulista José Antônio da Silva (1909-1996), o carioca Heitor dos Prazeres (1898-1966), os pernambucanos Crisaldo Morais (1932-1997) e Ivonaldo, além de outros mestres. Dessa lista, Ivonaldo, nascido em 1943, é o único vivo, mas há dois anos foi obrigado a deixar dormentes suas criaturas vibrantes de olhos aboticados, para lidar com uma doença de difícil cura.
A galerista e colecionadora Vilma Eid, que participou do júri oficial da mostra no ano passado, ressalta que a Bienal é não somente o único concurso do gênero no país, como cumpre a função de revelar “talentos da nossa terra”. Em 2010, mais de 800 obras brasileiras foram inscritas nessa Bienal. “Um artista que eu não conhecia, e que fiquei conhecendo depois desse trabalho, foi Neves Torres (MG). Há muito tempo, não via um pintor tão puro”, aponta Vilma, que hoje representa o artista na sua Galeria Estação. O espaço funciona no Bairro de Pinheiros, em São Paulo, com rica coleção, garimpada por ela.
Cena familiar, pintada pela paulista Eliza Mello, em 1983. Imagem: Reprodução
Vilma, contudo, considera o termo naïf insuficiente. A questão da conceituação é quase inevitável, tanto em discussões sobre arte primitiva quanto sobre arte contemporânea. Na visão da galerista, que prefere a denominação de arte espontânea, isso é algo relevante a ser refletido. “Existe uma diferença em relação à arte popular e espontânea. No Brasil, do meu ponto de vista, qualquer pessoa que estudar artes plásticas pode escolher o naïf como escola. É mais uma escola. Na Europa, é diferente. Não existe a arte popular que a gente tem, geralmente feita por não eruditos. E já vi exemplos, por aqui, de naïfs com erudição. Acho que essa é uma distinção que precisa ser feita no país”, argumenta Vilma.
Para Jacques Ardies, galerista belga especializado em naïf brasileiro desde 1979, não importa tanto se o artista é popular ou não. “Tem artista naïf que é advogado, não precisa ser necessariamente do povo. Isso não faz sentido. O popular, popular mesmo, é normalmente associado a uma arte feita pelo povo, que vai se fazendo em série, reproduzindo como um artesanato”, comenta Ardies, autor do livro A arte naïf no Brasil, de 1998, e dono da galeria que leva seu nome em São Paulo. Na visão de Vilma, um artista popular genuíno não copia o próprio trabalho.
A despeito dessa questão, Ardies admite que o termo naïf pode ser até pejorativo, implicando uma falsa ideia de que se trata de uma arte produzida por alguém que é ingênuo e não sabe de nada. Ainda assim, o galerista pondera que essa é uma palavra internacional, que acabou vingando em várias línguas do mundo. Mas faz também um alerta: “A arte naïf não pode ser confundida com suvenir vendido em ponto turístico”.
ORIGENS
Em 1994, o escritor Ariano Suassuna afirmou não compreender o porquê dessas definições cultivadas pelo mundo da arte, sobretudo em relação à produção artística do povo. “Nunca entendi muito bem a distinção que judiciosos críticos europeus fazem entre arte ingênua, bruta e primitiva. A única coisa que sei – porque sinto – é que as três não têm nada a ver com arte primária”, escreveu Suassuna, no texto de apresentação da mostra dos pintores Régis e Leonardo Loureiro, pai e filho, instalados até hoje na Casa Cultura, no Recife. Fundir os limites entre o popular e o erudito tem sido uma das principais missões do escritor, aliás, desde a década de 1970, quando idealizou e criou o Movimento Armorial em Pernambuco.
Obra do pintor português Antonio Poteiro, radicado no Brasil, alcança altos valores no mercado. Imagem: Reprodução
Naïf, ingênuo, primitivo, popular, espontâneo... é uma arte que não possuía quaisquer classificações antes de a produção artística ter valor na história. Essas classificações configuram uma invenção da modernidade, a partir do processo de profissionalização do campo artístico, capaz de legitimar na história a relevância de obras criadas.
Há quem defenda que a origem do naïf esteja nas inscrições rupestres. Há quem o defina como forma artística surgida a partir das vanguardas do fim do século 19 e início do 20. Nessa época, um funcionário alfandegário, chamado Henri Rousseau (1844-1910), apareceu no Salão dos Recusados de Paris e, em 1886, chamou a atenção com a tela Uma noite de Carnaval. Motivo de chacotas, foi visto como o rapaz da pintura quase infantil de tão ingênua – daí o nome naïf, em francês, atribuído primeiramente a ele. Suas telas, desobrigadas de uma educação formal, caíram no gosto de modernistas consagrados, como Pablo Picasso (1881-1973). De certa forma, tal “apadrinhamento” era de se esperar, se levarmos em conta que pintores cubistas, impressionistas, expressionistas e surrealistas, tão logo festejados, buscavam justamente romper com o academicismo pictórico tradicional a que os pintores espontâneos estavam originalmente desvinculados. Ser naïf, portanto, passou a um reconhecimento tipicamente moderno, ainda que artistas com esse perfil tenham existido desde muito tempo.
O livro Arte naïve (autor desconhecido) defende que, na história da humanidade, o primeiro artista foi verdadeiramente naïf, “pois vivia numa época em que ainda não tinha sido inventado qualquer sistema de representação pictórica”. E, ainda que vários padrões pictóricos ou escultóricos tenham sido criados e estabelecidos, os que não dominam as técnicas – e muitas vezes nem se dão conta disso – encontram uma forma genuína e espontânea de se expressar, aproximando-se do viés quase instintivo a que está associado o ator de pintar, como, de certa forma, se referiu o teórico Thierry de Duve ao mencionar a persistência da pintura na história.
Como não tinha dinheiro para comprar material, no início da carreira, o artista Zé Som criou estilo com sua pintura a dedo. Imagem: Reprodução
INTUITIVA
“O naïf é um fenômeno primordial”, atesta o crítico, curador e artista paraibano Raul Córdula. Ele não consegue distinguir arte popular de naïf e procura olhar com sensibilidade a produção que o cerca, sobretudo quando se mudou para Olinda, nos anos 1970. Lá, contaminou-se pelo espírito gregário que, na sua visão, marca os artistas naïf. Viu várias vezes Bajado (1912-1996) acenar da janela da casa 186 da Rua do Amparo. Uma cena tão peculiar quanto os quadros por ele criados.
Bajado não estava preocupado se seu trabalho era naïf ou não.“Ele não podia passar um dia sem riscar. Sempre tinha que estar com um lápis na mão”, recorda sua filha Gilzelda Pereira Amâncio (a pintora Deda de Bajado), em entrevista concedida ao jornalista Thiago Marinho, para o catálogo do 6ª Olinda Arte em Toda Parte, publicado em sua homenagem. Na ocasião, em 2006, fazia 10 anos que Bajado tinha dado o último adeus da janela de onde viu o mundo.
Também olindense, o artista Zé Som, de 61 anos, compartilha do mesmo espírito espontâneo de Bajado. Pelas suas mãos, Olinda ganhou contornos tão diferentes do amigo do Amparo – e igualmente representativos para a pintura local. “Naïf? Não sei nem o que é. É primitivo, essas coisas? Pode ser. Eu pinto com os dedos, não tenho escola”, diz Zé Som, que passou a usar os dedos porque não tinha dinheiro para comprar pincel, quando começou a pintar, na década de 1980.
Apesar de ser um terreno fértil de arte no país, não é só em Olinda que se encontram exemplares do gênero. Em diferentes partes do mundo, há artistas com perfis similares, ajudando a estabelecer a ideia de um gênero naïf na arte. Raul Córdula lista algumas características comuns a ela: o não interesse pelas regras acadêmicas; o abuso da cor, recortada, pura e chapada, na maioria das vezes; o tema posto na tela como se tudo estivesse em primeiro plano; o desenho de contorno; e as cenas - às vezes pitorescas - da vida cotidiana.
Pinturas do artista romeno caracterizam-se pelo onirismo, tendo situações
campesinas como tema. Imagem: Reprodução
De acordo com ele, o tema religioso também é um motivo que tradicionalmente alimenta a pintura naïf. Santos católicos, orixás e outras divindades religiosas, também colocadas num plano de sincretismo, costumam ser fonte para composições visuais feitas por diferentes artistas primitivos. Um dos mais conhecidos e criativos nesse sentido é o baiano Waldomiro de Deus, de 67 anos, cuja pintura eclética, por assim dizer, costuma ser vista pelo viés do mágico e do religioso, tal qual relatou Oscar d’Ambrósio, no livro Os pincéis de Deus, voltado à vida e à obra do artista.
Português radicado no Brasil, Antônio Poteiro, 86, é outro exemplo. Com pegada burlesca e pinceladas espontâneas, inventa situações como a Ceia no inferno, de personagens totalmente hedonistas, e A cruz maldita, que voa no céu enquanto uma multidão roga por ela na Terra. Mas, de seu repertório saem ainda criações mais “inocentes”.
Em se tratando de Waldomiro, existem, ainda, exemplos de situações “fantásticas”, como a do peixe na cadeira do dentista (Deixa-me ver o dentinho), além de retratos de lendas, mitos e histórias populares. Motivos mais “psicodélicos” também perpassam uma parte de sua produção, mais próxima de um passado hippie, ao qual, já morando em São Paulo, Waldomiro também se vinculou, nos anos 1970.
O mundo mágico da arte espontânea, entretanto, não passa apenas por lisérgicos e ondas coloridas, vai além do universo “paz e amor”. E, tampouco, somente por temas sacros. Muitas vezes, o próprio percurso figurativo ultrapassa a vontade de replicar um mundo exterior, mergulhando no terreno do onírico e do fictício, sem que suas criaturas cumpram apenas a função de representar a realidade circundante tal qual ela lhe é sugerida. Isso não ocorre somente no Brasil. Artistas como os romenos Camelia Ciobanu (1966) e Mihai Dascalu (1960) subvertem cenas campestres, pendurando habitantes e casas em galhos de árvores e potes, numa simbologia menos direta. Daí, a possível associação entre o naïf e o Surrealismo.
Paisagens rurais, em que se harmonizam figuras humanas, animais e
elementos da natureza, em contornos luminosos, são características
de Ivonaldo. Imagem: Reprodução
INCONSCIENTE
Há, ainda, quem atribua a espontaneidade dessa arte a questões do inconsciente, capazes de fazer com que o artista traga à superfície um mundo simbólico. Na perspectiva da psicologia de Carl Jung, seria o equivalente à expressão de símbolos, manifesta em imagens arquetípicas que, na forma de pintura, por exemplo, nasce sem nenhuma preocupação com técnicas ou regras acadêmicas de construção pictórica. Embora não coloquem em termos de um gênero naïf, a visão dos junguianos sobre o processo criativo humano se aproxima bastante, pelo menos no terreno das artes plásticas, da ideia que os estetas e os historiadores têm do que seja arte naïf, espontânea, primitiva ou até bruta.
“Para Jung, o inconsciente se apresenta enquanto imagens. Ele dá uma ênfase maior a isso e trabalha na perspectiva do símbolo, que apresenta ao consciente uma vivência do inconsciente. O processo criativo é importante para ele, sobretudo porque é um organizador psíquico, é a possibilidade de contato com esse inconsciente”, explica Lívia Campello, psicóloga, arte-terapeuta e especialista em psicologia junguiana. Como ela lembra, o próprio Jung fez incursão por essa arte, principalmente no período de reclusão que deu origem a relatos e ilustrações espontâneas presentes no seu O livro vermelho – Liber novus, que só veio à tona há pouco tempo.
Independentemente dos limites que separam a consciência e a inconsciência no fazer artístico, e sejam quais forem as perspectivas que recaiam sobre quem se expressa espontaneamente, esse é um tipo de arte que parece lidar, na forma e no conteúdo, muito mais diretamente com uma motivação: a intuitiva, ainda que os motivos simbólicos, místicos, religiosos, surreais ou fantásticos não sejam um privilégio do naïf.
Como Raul Córdula, o galerista Jacques Ardies também acredita que a pintura figurativa se confunde com a própria noção de arte naïf, mesmo que se manifeste de formas menos miméticas e mais intuitivas. Embora não descarte a escultura e a gravura como expressões primitivas, para ele, o mais fascinante desse universo, que chamou sua atenção pela originalidade com que retrata a cultura brasileira, é como os artistas conseguem representar de forma completamente diferente o mesmo tema. A Olinda de Bajado e a de Zé Som, por exemplo, são distintas, apesar de significativas para seu local de origem. “Se você pedir para vários pintores fazerem um cafezal, cada um vai lhe dar pinturas totalmente diferentes. Isso é que é rico”, observa Ardies.
O psicanalista Carl Gustav Jung utilizou a criação intuitiva em
pinturas reunidas n’O livro vermelho - Liber novus.
Imagem: Reprodução
“O que me encanta é a sofisticação que encontro na espontaneidade desses artistas. Existe uma dureza e também uma sofisticação. Ao mesmo tempo, não há preocupação dos artistas com isso”, procura definir Vilma Eid. Para a galerista, a arte espontânea e a pintura popular ainda sofrem preconceitos, embora bem menos do que antes. Ardies confirma. Segundo ele, a pintura naïf brasileira aumentou bastante de valor, desde que abriu a sua galeria. Hoje, é vendida na Europa, por exemplo, a preços muito semelhantes aos dos artistas do Velho Continente, o que antes não acontecia. Apesar de o interesse dos brasileiros pelas obrasnaïfs ter crescido, os estrangeiros ainda representam 70% de sua clientela.
“São os colecionadores mais sofisticados que mais apreciam a pintura espontânea”, afirma Vilma, que respeita o trabalho de Ardies e compartilha com ele alguns pontos de vista. A galerista, entretanto, diz desenvolver algo diferente em seu espaço, garimpando artistas que vão além do conceito que julga insuficiente para agrupar suas obras – o naïf.
“Alguns curadores e críticos ficam discutindo se o artista Arthur Bispo do Rosário, por exemplo, é contemporâneo, popular ou doente mental. No meu modo de entender, isso não vai levar a nada. O importante não é discutir a classificação, mas reconhecer o talento dele”, defende Vilma.
Para identificar esse valor, é preciso ir além dos parâmetros de mercado. O que está em jogo é muito mais uma questão simbólica. Admirar essa arte à qual se vinculam tantas denominações, mas nunca um “A” maiúsculo, significa despir-se de crenças pré-concebidas e reproduzidas na história da arte. Significa livrar os olhos de amarras e encontrar universos inusitados, cheios de surpresas criativas. Mais ainda, significa reconhecer que ela existe. O que não existe é ingenuidade sempre que for preciso colar um rótulo onde quer que seja. Com as obras de arte, não é diferente.
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