Edição #159

Março 14

Nesta edição

1964 Luta desarmada

Em situações-limite e regimes de exceção, somos forçados a comportamentos extremados. Isso aconteceu com os brasileiros durante a ditadura militar (1964-1985), quando as liberdades foram suprimidas. Houve os executores do regime, os que a ele aderiram, os que foram acuados. Houve os que reagiram com veemência, os que se expuseram e os que se opuseram aos militares de forma mais cautelosa. Hoje, meio século depois, a história e a justiça buscam esclarecer acontecimentos que fi caram submersos durante anos, sacrifícios, torturas, mortes. Houve aqueles que se tornaram os mártires e heróis da ditadura e que hoje são ícones da resistência no país. Os 50 anos do golpe militar são uma data marcante, lembrada em várias instâncias pelo país.

Quando sugerimos ao jornalista e escritor Samarone Lima abordar o tema para a Continente, ele nos propôs contar pequenas histórias de amor e solidariedade em meio a tantos episódios de perseguição, violência, injustiça. E assim fi zemos. Nesta edição, abordamos a data a partir da perspectiva dos heróis “silenciosos”, aqueles que não estão registrados por grandes feitos, mas que viveram dramas e tragédias e foram capazes de superar o medo para ajudar pessoas que sofriam perseguições.

Samarone encontrou na história de Sylvia Montarroyos um emblema das distorções reincidentes no período. Ela – como tantos outros jovens – queria “mudar o mundo”, estava apaixonada e fazia parte do que se chamava militância de base. Por ter conseguido escapar de uma prisão, enquanto seus amigos eram espancados em outra sala do quartel, ela foi caçada como uma inimiga feroz, transformada pela propaganda do regime numa fi gura de alta periculosidade. A história de Sylvia acabaria em morte, não fossem intervenções de pessoas que ela sequer conhecia. Gente que a ajudou por simples gesto de humanidade. A sua história é o elemento desencadeador da reportagem que você lerá a seguir.

Um bem-vindo contraponto ao ambiente opressor que se instalara na ditadura foi o da reabertura política, sobretudo com a campanha pelas eleições diretas para presidente, em 1984. Naquele momento, a população sentia que a reabertura não recuaria e que havia o retorno à liberdade de expressão. Foi um momento especial para o humorismo e para as artes em geral, que – observadas à distância de 30 anos – manifestam com precisão a euforia então vivida.

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