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Fábio Baroli

Pesquisa, transgressão e erotismo

TEXTO Marina Suassuna

01 de Março de 2014

Na série 'Semblantes', o artista retoma a tradição do gênero

Na série 'Semblantes', o artista retoma a tradição do gênero

Imagem Reprodução

Há quem diga que nada é mais íntimo para um artista que seu ateliê. No entanto, o mineiro Fábio Baroli faz questão de desmistificar tal percepção. Ele, que sempre teve seus espaços de criação movimentados com música, festa, alegria e bastante frequentados por outros artistas, entende o ateliê não como um espaço de clausura, mas como um ambiente de troca e reflexão.


Pinturas de um grupo de jovens rebelados entre si e contra os espectadores.
Imagem: Reprodução

“Claro que, em certos momentos, precisamos de um pouco de solidão. Contudo, isso é uma condição humana. As pessoas querem ver o artista em seu momento de criação quase divino, mas não tem mistério nenhum. Não vejo por que se isolar para produzir. A coisa acontece e o processo tem sua naturalidade”, diz o artista plástico de 32 anos, nascido em Uberaba, interior de Minas Gerais, cujo primeiro ateliê foi montado no fundo da casa dos pais, em 1999, logo após concluir o Ensino Médio.

Na época, Fábio, que sempre estudou em escolas públicas, com pouco acesso à cultura e arte, decidiu buscar uma vivência nas linguagens de desenho, escultura e pintura sem muitas referências. “Acho que fui motivado mais por uma necessidade de fazer que pela consciência da razão.”


Imagem: Reprodução

Até perceber a necessidade de focar nos estudos de arte contemporânea, passaram-se cinco anos de experiência amadora no ateliê da casa dos pais, tempo que lhe forneceu a base necessária para decidir o caminho que seguiria. Foi quando, em 2004, ingressou no curso de bacharelado em Artes Plásticas da Universidade de Brasília (UnB). A partir de 2007, passou a se dedicar à pintura, sua principal linguagem artística.


Muitas vezes, o artista constrói relatos imagéticos. Imagem: Reprodução

A intimidade que estabeleceu com os pincéis transgride noções de representação sob a lente subjetiva do lirismo. Seus traços largos, marcantes, enfatizam uma crueza realista, em especial a do corpo humano. Segundo o artista, a forma como conceitua, sistematiza e executa seu trabalho foi adquirida na academia, fruto de um processo infindo que exige empenho e pesquisa.


Erotismo é tema é recorrente em seus trabalhos. Imagem: Reprodução

Fábio costuma desenvolver suas obras em séries, utilizando apenas óleo sobre tela, sobre uma base de gesso-cré. “Uma série é um conjunto de trabalhos que lidam com os mesmos questionamentos. Costumo escolher um assunto e desdobrá-lo ao máximo. Daí a particularidade de cada série.”


Baroli explora toda a crueza do corpo humano. Imagem: Reprodução

Por outro lado, o artista percebe que os temas presentes em suas criações vão se fundindo num grande conjunto, que é a obra em sua totalidade. É o caso da arte erótica, que reincide em várias de suas séries como sintoma de uma pesquisa iniciada ainda nos tempos de graduação.


Pintura de uma mulher interiorana traz em composição objetos icônicos da cultura tradicional. Imagem: Reprodução

“Percebo meu trabalho em uma situação triangular: a pintura como linguagem, a apropriação como método e o erotismo como tema. Porém, em cada um desses pontos, há desdobramentos que fazem com que o processo aconteça de formas variadas.”


Série retrata a nova geração de crianças do bairro em que cresceu, em Uberaba (MG). Imagem: Reprodução

Colecionador de imagens é como se define o artista, uma vez que se alimenta de referenciais imagéticos de fontes distintas: álbuns de família, sites pornográficos, blogs e redes sociais, como também de música, literatura e vivências cotidianas. “Procuro juntar todas as imagens num mesmo plano, dentro de uma composição sob a forma de colagem”, diz ele, que não costuma fazer esboços nem voltar na pintura, obtendo no primeiro gesto o resultado final.


Imagem: Reprodução

Além do erotismo, foram temas de suas séries o regionalismo e o imaginário infantil em sua cidade natal. “De um modo geral, procuro sempre estabelecer diálogos com a tradição, mas com a preocupação da pertinência do trabalho na atualidade.” 

MARINA SUASSUNA, jornalista.

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