Edição #222

Junho 19

Nesta edição

Vamos todxs cirandar!

Das manifestações de matriz popular que acontecem em Pernambuco, a ciranda é provavelmente a mais despojada. Isso porque não precisa de muito aparato para acontecer, bastando para ela um lugar onde as pessoas possam se reunir em torno de um cantor e poucos músicos, juntar as mãos e dançar. Não tem figurino, paramento ou preceito: acontece ali, na hora, é pura diversão. Isso a aproxima, por exemplo, do forró, que se faz simplesmente criação artística, e a distingue do maracatu nação, cuja gênese remete a princípios hierárquicos e de religiosidade de matriz afro-brasileira.

Na nossa reportagem especial deste mês, empreendida por Erika Muniz e Breno Laprovitera, voltamos à ciranda, motivados por metáforas políticas como “ninguém solta a mão de ninguém”, presentes no imaginário nacional desde as últimas eleições. Ao mesmo tempo que essa mobilização nos inspirava, ocorria no Recife a Ciranda Rural, projeto do Som na Rural que levou a nata da ciranda pernambucana para apresentações dominicais no Pátio de São Pedro, ao longo do segundo semestre de 2018. E reparem um diacronismo em relação a esse ponto: o Pátio de São Pedro foi o lugar, no Recife dos anos 1970 e da ditadura militar, em que a ciranda ganhou corpo e juntou muita gente, como rememoramos na nossa reportagem, pois era ali também que aconteciam os Festivais de Ciranda.

Nessa reportagem, perfilamos mestres cirandeiros de longas datas, como a musa da capa, Lia de Itamaracá; Severina Baracho – filha do Mestre Antônio Baracho, o Rei sem Coroa, como ele se autointitulava; João Limoeiro, de Carpina; Santino Cirandeiro, de Nazaré da Mata, e jovens no ofício, como o Mestre Anderson Miguel, também da Zona da Mata Norte, local de origem dos trabalhadores rurais e cirandeiros Bi e Luciano Ferreira. (Quando a revista seguia para a gráfica,  recebemos a notícia triste da partida prematura, aos 34 anos, de Luciano, que faleceu de infarto,  no dia 17/5, vestido de caboclo de lança, em frente da igreja matriz de Nazaré da Mata, que estava em festa pelos seus 186 anos. Que siga em luz, Luciano.)

Também nos interessavam, nesse contexto, as analogias que se poderiam fazer entre a ciranda e outras danças circulares; colhemos ótimos depoimentos a esse respeito. Enfim, leitor, convidamos você a entrar nessa roda democrática, “onde todo mundo é igual”. 

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