Edição #212

Agosto 18

Nesta edição

Na era do compartilhar...

Entre a década de 1930, quando o sergipano Joel Silveira chegou ao Rio de Janeiro para ser repórter, e um turbulento 2018, muito se passou no Brasil. Mudanças relevantes, como governos populistas, ditaduras militares, redemocratização e impeachments, sacudiram o país. Toda essa metamorfose foi retratada pela imprensa. As reportagens publicadas nos jornais e as notícias de rádio e televisão relataram a cambiante trajetória do país. Hoje, no entanto, diante da incerteza política às vésperas de uma eleição presidencial e dos novos modos de difusão gerados pela internet, a própria mídia atravessa transformações significativas.

O que diria Joel Silveira, apelidado de “víbora” por Assis Chateaubriand e autor de uma coluna nesta Continente de 2001 a 2007, se soubesse que notícias falsas circulam em celulares e atingem um vasto público que as compartilha sem checar a veracidade? A partir do olhar sobre o uso político de ferramentas como o WhatsApp, do contexto de disseminação das chamadas fake news e de uma reflexão sobre a ideia de “pós-verdade” e erosão dos fatos, construímos a reportagem de capa desta edição.

Ao conversar com jornalistas e pesquisadores sobre o assunto, tão urgente quanto crucial num país onde 76% da população usa o WhatsApp, a repórter especial Luciana Veras buscou entrever, ainda, o horizonte reservado ao próprio jornalismo. Se vivo fosse, Joel Silveira completaria cem anos e decerto usaria sua experiência na cobertura de episódios marcantes da história brasileira, como a participação na Segunda Guerra Mundial e o Golpe de 1964, para contribuir com o debate. Silveira é tema do perfil desta edição, assinado por Marcelo Abreu.

Por fim, trazemos o respiro da literatura e da natureza. Na primeira seara, o escritor pernambucano José Luiz Passos costura um diálogo ficcional a partir do norte-americano Philip Roth, falecido em maio, e outros por ele influenciados, como Ian McEwan. Na segunda, surge a Amazônia no depoimento do artista visual Rodrigo Braga. Manauara de nascimento, recifense por adoção, ele percorre paisagens de extrema beleza com a delicadeza de um olhar à procura do pertencimento. Agosto marca sua primeira exposição no Recife após um hiato de 10 anos e, no seu resgate daquela fecunda região, vislumbra-se a força desse universo simbólico no seu trabalho.

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