“A imagem é consciência de alguma coisa”, assim escreveu Sartre em seu primeiro livro, A imaginação (1936). Se na década de 1930 o filósofo francês nos incitava a pensar sentidos para a existência das imagens através das palavras, é na metalinguagem que a artista Sofia Borges nos leva a uma travessia ontológica sobre a representação. Não há silogismo determinante que leve a uma conclusão a respeito de sua obra. Fotografando não exatamente “coisas”, mas justamente “as camadas de significado que as revestem”, seu trabalho nos revela uma condição de vulnerabilidade da própria experiência do olhar, fragilidade essa que é intrínseca ao que se vê.
Ao mesmo tempo contínua e mutável, sua pesquisa passou do autorretrato ao que, nos últimos anos, vem se configurando como um tipo de “abstração mimética”: em suas imagens, há uma relação contrastante entre a verossimilhança da técnica fotográfica e o esvaziamento de sentido provocado por suas composições visuais, algo como o que Walter Benjamin chamaria de imagem dialética. Quando vistas em conjunto nas suas exposições, ou em seu livro, O pântano (2016), essas provocações visuais potencializam um certo limbo interpretativo: lado a lado, elementos aparentemente aleatórios como cavalo, pedra e homem são alegorias que tensionam os sistemas simbólicos nos quais estão inseridos.
“Eu me esforço muito para fazer com que as imagens se desliguem da narrativa e da temática, para que elas sejam autônomas, que sejam o que são sem que estejam atreladas a uma história. A fotografia está muito associada a uma ideia de tempo e de narrativa, mas quando eu consigo fazer uma foto furar essa capacidade de enxergar e se tornar algo impossível de solucionar, eu atinjo o coração do meu problema, que é você enxergar a realidade sem conseguir solucioná-la”, diz Sofia sobre o seu trabalho, em entrevista à Continente.
O monstro (2016) tomou corpo a partir da pesquisa
em cavernas pré-históricas
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