Entrevista
Ruy Guerra
Cineasta fala sobre seu novo filme, relembra o Cinema Novo e comenta sua relação com o digital
Mais do que simples efemérides, marcos temporais tendem a operar como pontos de inflexão em processos históricos. Na conturbada narrativa recente do Brasil, na qual a realidade em muito parece suplantar a capacidade ficcional de fabulação, as Jornadas de Junho, transcorridas em 2013, ganham espaço de destaque. Embora se trate de um curto período para se pensar a historiografia do presente, não há quem olhe para os acontecimentos de cinco anos atrás e não veja, ali, diversos vínculos com o que se vive agora.
É como se, com a ocupação das ruas por milhares de manifestantes em várias capitais do Brasil, fosse destampada a versão contemporânea e brasileira da mítica Caixa de Pandora. Dali, tudo saiu, em meio à desordem e ao caos. Um ano depois, as eleições presidenciais de 2014 se revelam as mais acirradas do século XXI; dois anos depois, Eduardo Cunha assume a presidência da Câmara dos Deputados; três anos depois, Dilma Rousseff é afastada em um rito de impeachment; quatro anos depois, Michel Temer se torna o primeiro presidente do Brasil formalmente acusado pela Procuradoria Geral da República; cinco anos depois, qual o cenário possível para as eleições marcadas para outubro?
Sob o signo da indefinição, contudo, despontam respostas no campo simbólico. Para nossa reportagem de capa, escrita pela repórter Luciana Veras, ouvimos artistas, curadores e analistas sociais para refletir sobre como a arte tem respondido à crise sociopolítica estabelecida no país desde junho de 2013. Vem da arte um revide que mescla resistência, ativismo e ironia para se posicionar contra o desalento.
Em outro registro mental e emocional, junho é também o mês do futebol, em ano de Copa do Mundo, e das tradições juninas. Um artigo da repórter Débora Nascimento respalda o legado de Mário Filho, nascido há 110 anos, um dos mais importantes cronistas da bola no “país de chuteiras”, expressão cunhada pelo seu irmão mais famoso, o dramaturgo Nelson Rodrigues. E, em ensaio com texto e fotos de Marcelo Soares, investigamos a origem do bacamarte, uma arma tão antiga – remonta às invasões holandesas do século XVII – quanto icônica nas celebrações nordestinas.
De futebol, festas e manifestações artísticas em tempos de ebulição política, afinal, também se constitui o Brasil em junho de 2018.
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