Matéria Corrida

Alguma revolução

TEXTO José Cláudio

17 de Maio de 2021

'Noite de São João'. Acrílica sobre eucatex, 40 x 50 cm, 2020

'Noite de São João'. Acrílica sobre eucatex, 40 x 50 cm, 2020

Pintura Adriano Cabral/Reprodução

Enquanto a grande revolução que se deu, qual hecatombe, no século XX; ou, quem sabe, assim fomos levados a crer pelo fato de se tratar do século em que viemos ao mundo e datamos tudo em relação a nossa existência; embora essa revolução seja permanente desde o começo, desde a pintura das cavernas, passando por assírios e babilônicos, gregos e romanos, e o cristianismo, que veio acabando com tudo; fazendo-nos, pelo menos no que diz respeito ao ocidente, começar do zero; parece que, neste nosso século 21, está havendo uma parte que ficou de fora; por exaustão, por descrença, por desencanto; muitos pretendentes a artistas, pintores, escultores, voltaram a dizer como Fernando Pessoa, “não sei por onde vou, sei que não vou por aqui”; isso sem falar naqueles que continuaram estagnados na chamada arte acadêmica, que nunca foi arte época nenhuma, limitando-se a arremedar a pintura clássica, renascentista, que colonizou a Europa durante algum tempo. Até chegar Velázquez. 

Essa nova geração, ou não tão nova, mas que escapou da revolução modernista, parece que se cansou dela e parece que quer deixar claro, com ou sem consciência disso, não ter compromisso com ismos do século 20, embora lhes seja resultado. Tais pintores resolveram, deliberadamente ou não, começar tudo de novo, em busca da inocência perdida ou intocada. Acredito mesmo que alguns nem conhecem mais de perto esses nomes que nos enlouqueceram, do impressionismo para cá. Mas não vamos atribuir à falta de conhecimento o alheamento em relação aos grandes acontecimentos na pintura, principalmente desde Gauguin, Van Gogh, Cézanne e por aí vai, até instalação, performance, intervenções na paisagem e inúmeras formas de fazer arte, a cada dia surgindo mais. Então se torna impossível, ao indivíduo que quer pintar um quadro, que sua pintura não seja considerada ultrapassada. Aliás pintar quadro, qualquer que seja, já está fora de moda há mais de um século, desde que Marcel Duchamp pegou um mictório e assinou como obra sua. 

Esqueçamos os pioneiros, que isso de ser pioneiro também é coisa do passado. Quero assinalar pois esse recomeço, como julgo propõem esses pintores a quem me referi, sem ter dado nomes, na crônica Pintura mirim (março, 2021) como ouvi de passagem em conversa com o meu filho também pintor, Mané Tatu. Citar pintores ainda pouco conhecidos, sem estampar-lhes uma obra, é deixar o leitor em jejum total. Seguem umas poucas reproduções e legendas, melhor que nada ou meus insossos comentários.


Antônio Coji. Engenho. Acrílica sobre tela, 35 x 49 cm, 2020


Waldir Aracaty. Sítio verde. Acrílica sobre tela, 50 x 70 cm, 2019


AT. Pássaro. Pedra, 6 x 11,5 cm, sem data


Ricardo Filizola. Passarinhos. Madeira, 7 x 19,5 cm, sem data


Jeder.
Tatu-peba. Madeira, 16 x 37 cm, 2021

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*As opiniões expressas pelos autores não representam
necessariamente a opinião da revista Continente.

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