Entrevista

“Talvez 'Bacurau' seja o maior filme pernambucano já feito”

Diz Kleber Mendonça Filho sobre o orçamento do longa que codirige com Juliano Dornelles e que estreia na principal seleção do Festival de Cannes 2019, com custo raro para o contexto local

TEXTO Luciana Veras

15 de Maio de 2019

Juliano Dornelles, Emilie Lesclaux e Kleber Mendonça Filho no 'set' de 'Bacurau'

Juliano Dornelles, Emilie Lesclaux e Kleber Mendonça Filho no 'set' de 'Bacurau'

Foto Victor Jucá/Divulgação

[conteúdo exclusivo Continente Online]

Nesta quarta, 15 de maio de 2019, os realizadores pernambucanos Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles descortinam Bacurau na maior das telas do Festival de Cannes. É o segundo dia da 72ª edição deste que é vértice importante dos eventos que balizam o calendário cinematográfico mundial – Berlim em fevereiro, Cannes em maio e Veneza em setembro – e o único filme brasileiro na competição pela Palma de Ouro será mostrado em uma sessão de gala, às 22h (17h no Brasil).

Bacurau é uma coprodução Brasil/França entre a CinemaScopio, produtora de Kleber e Emilie Lesclaux, e a SBS (de Saïd Ben Saïd), mesmo time por trás de Aquarius, o segundo longa-metragem de ficção de Kleber que esteve na disputa pela Palma em 2016. Muito embora Il traditore, de Marco Bellocchio, tenha o Brasil também como país coprodutor ao lado da Alemanha e da França, está listado como sendo da Itália entre os filmes na mostra principal. Portanto, é esse “western brasileiro, filme de aventura e ficção científica”, como a dupla de diretores descreve no material de divulgação, que pode dar ao cinema brasileiro sua segunda Palma de Ouro – a única veio em 1962, com O pagador de promessas, de Anselmo Duarte.

Duas semanas antes de chegarem a Cannes, Kleber e Juliano, amigos e parceiros de vários filmes (Dornelles fez a direção de arte de Aquarius e do curta Recife frio, que Kleber dirigiu em 2009), conversavam com jornalistas no café do Cinema da Fundação, no Recife. Pouquíssimo se sabia, além da sinopse, que a imprensa havia difundido tão logo foi feito o anúncio de Cannes – “Daqui a alguns anos... Bacurau, um pequeno povoado do sertão brasileiro, dá adeus a Dona Carmelita, mulher forte e querida, falecida aos 94 anos. Dias depois, os moradores de Bacurau percebem que a comunidade não consta mais nos mapas”.

No espaço de duas horas, gravaram uma entrevista para o Canal Brasil, concedida ao jornalista Júlio Cavani, e já nela revelaram como apreciaram a experiência de rodar Bacurau com uma equipe que mesclava quem já vinha de Aquarius, como Edu Serrano na montagem, Thales Junqueira na direção de arte, Dora Amorim na produção e Pedro Sotero na fotografia, entre outros, com atores estrangeiros como o alemão Udo Kier. “Não temos como fazer um exame psicotécnico em todo mundo que chamamos para fazer um filme, mas demos sorte porque além de profissionais incríveis, as pessoas eram incríveis”, comentava Kleber.

Abaixo, lemos uma entrevista exclusiva dos diretores concedida à Continente.

CONTINENTE
Quando Bacurau estava sendo rodado, há exatamente um ano, em maio de 2018, conversei com o jornalista Júlio Cavani sobre a possibilidade de irmos até o set. Ponderei também com Adriana Dória Matos, a editora da Continente, e vimos que não conseguiríamos nos deslocar até o Rio Grande do Norte, porque seria uma viagem muito extensa – de fato, vocês estavam filmando bem longe daqui (do Recife). Isso tudo para dizer que havia, naquela época, muita especulação sobre o que era e do que se tratava o filme. Por isso a primeira pergunta é: o que é Bacurau?
KLEBER MENDONÇA FILHO Um ônibus, um pássaro (risos). A história se passa na atualidade daqui a alguns anos, talvez, e é sobre uma comunidade geograficamente isolada. Bacurau é um povoado antigo que tem um problema com água.
JULIANO DORNELLES Não é em 2100, não é em 2022 ou 2023, nada disso fica definido, mas é cada vez mais atual.

CONTINENTE Que tipo de problema? Escassez?
KLEBER MENDONÇA FILHO Não exatamente. É muito difícil esse momento de falar sobre Bacurau quando o filme já está em evidência porque você, por exemplo, não viu o filme, mas a gente conhece bem. Eu não quero ficar aqui de vendedor de enciclopédia, de Avon do filme, apenas para dizer que é “maravilhoso” e “incrível”. Quero proteger a experiência do que vai ser descobrir esse filme, principalmente porque vai passar em Cannes.
JULIANO DORNELLES Mas podemos dizer que o filme tem um plot simples de westerns clássicos: é uma comunidade sob ameaça.


Cena de Bacurau (enterro de Carmelita). Foto: Cinemascopio/Divulgação

CONTINENTE Essa ameaça seria sobrenatural? Porque essa era uma das ideias que circulavam por aqui também enquanto vocês rodavam sob sigilo total: que o filme tinha algo de fantasia ou de terror.
KLEBER MENDONÇA FILHO Se você entender que o mal é uma força sobrenatural, eu diria que sim.

CONTINENTE Esse povoado ameaçado pelo mal é localizado na trama ou o público pode pensar que é em qualquer lugar?
KLEBER MENDONÇA FILHO É como se fosse Pernambuco. Oeste de Pernambuco.

CONTINENTE Oeste? Assim como nos faroestes?
KLEBER MENDONÇA FILHO Sim, oeste (risos). Palavrinha malandra.

CONTINENTE Como foi o processo de criação do roteiro em dupla e da transformação dessas ideias em imagem? Como vocês dois, que antes de realizadores são cinéfilos ao extremo, chegaram à composição da imagem de Bacurau?
KLEBER MENDONÇA FILHO Durante o processo de escrita, toda vez que estávamos travados, descíamos para ver um filme. Não era nada planejado, mas sempre dava uma energia a mais. Às vezes, teve filme que não serviu para nada, às vezes tinha uma cena que despertava algo.

CONTINENTE Que tipo de filmes, westerns clássicos, Sam Peckinpah?
KLEBER MENDONÇA FILHO Sim, westerns clássicos, tipo Major Dundee, de Peckinpah, com Charlton Heston, que é um bom filme estragado pela interferência do estúdio.
JULIANO DORNELLES Às vezes, a gente sabia que o filme ali não tinha nada a ver com o que a gente estava buscando, mas tinha uma cena, um jeito, alguma coisa que acendia... Tipo em Companheiros, de Sérgio Corbucci, um filme italiano que se passa no México. Nele tem uma cena de uma figura de poder chegando a um vilarejo e a reação das pessoas a ele, e como esse cara trata aquelas pessoas. E isso, quando a gente vê, repercute, sim, no processo orgânico de escrita.
KLEBER MENDONÇA FILHO E um aspecto interessante e muito importante, no final das contas, é a imagem do filme. A gente conseguiu trabalhar com lentes anamórficas Panavision, que são do final dos anos 1960, início dos anos 1970, responsáveis por uma imagem muito particular do cinema americano, de filmes de realizadores como Michael Cimino e de diretores de fotografia como Vilmos Zsigmond, que fez Contatos imediatos do terceiro grau. Essa lente tem uma distorção muito particular e sutil e traz a memória de algo familiar, dos filmes daquela época.

CONTINENTE Vou pedir para vocês dois, cineastas fissurados em detalhes técnicos e com uma imensa bagagem de cinefilia, explicar mais a opção por essas lentes específicas. A ideia era deixar a imagem mais afiada, era isso?
KLEBER MENDONÇA FILHO Não, o contrário. Quando você pega uma câmera de tecnologia de última ponta, como a Alexa, que foi a câmera que usamos, tanto para mim como para Juliano não interessava usar essa câmera cutting edge com lentes igualmente cutting edge, porque aí teríamos imagens que nem essas que vemos nas vitrines das lojas, das TVs de LED.

CONTINENTE E vocês queriam mais cinema?
JULIANO DORNELLES Sim. Bacurau é no formato scope. Quando você usa uma lente normal, esférica, para virar scope, você perde área. Mesmo que recue mais na hora de enquadrar, não vai ter o mesmo comportamento de uma lente anamórfica, que espreme e estica. Essa lente é um passo além, mesmo sendo uma Panavision de 40 anos atrás. Alugamos de Paris, de onde veio também a Alexa especialmente preparada para ser acoplada a ela.

CONTINENTE É o primeiro filme no Brasil feito com essas lentes?
KLEBER MENDONÇA FILHO Filme de cinema, sim. De publicidade, acho até que já se fez algo, mas é o primeiro filme de cinema brasileiro rodado com essas lentes Panavision. Aliás, como Juliano falou, a Panavision de Paris mandou pedir essa lente em Los Angeles. Trouxemos o combo todo.
JULIANO DORNELLES E nós dois, que somos diretores muito ligados nessa coisa da imagem, já íamos botando a câmera no lugar enquanto ainda escrevíamos o roteiro. Às vezes, um chegava para o outro e dizia assim: “Vamo colocar a câmera aqui que nem Duro de matar”.
KLEBER MENDONÇA FILHO Ou que nem A hora e a vez de Augusto Matraga, Os fuzis... tem Nelson Pereira dos Santos, Ruy Guerra, Roberto Santos, Glauber Rocha.
JULIANO DORNELLES É curioso pensar que o maior estuário de filme de gênero são os Estados Unidos e estão lá essas referências, misturadas com esses nomes do cinema brasileiro. De repente, temos um filme.

CONTINENTE Vamos falar sobre cinema de gênero então. Por tudo que vocês dizem, Bacurau tem elementos do western, mas também de aventura e ficção científica, como o material de divulgação explicita. No Brasil, a ideia desse cinema de gênero talvez ainda não tenha bom respaldo do público, se pensarmos que ótimos filmes como O animal cordial, de Gabriela Amaral Almeida, e As boas maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra, ficaram na casa dos 9 mil, 10 mil espectadores.
KLEBER MENDONÇA FILHO O cinema brasileiro nunca esteve fazendo tantos filmes de gênero. Quando eu comecei, o filme de gênero era uma coisa muito menosprezada, tratada com muito desprezo. Fiz A menina do algodão (curta-metragem de 2002, codirigido com Daniel Bandeira) e muita gente gostou, mas muita gente não levou a sério porque, óbvio para eles, era uma brincadeira. Depois fiz Vinil verde e conquistou muita gente, mas as mesmas pessoas continuam não levando a sério, porque, afinal, era trash. Então fiz Eletrodoméstica e aí sim, ufa!, era realismo social e agora eu era um cineasta. O cinema brasileiro é muito realista, se você pega exemplos como Aquarius ou Que horas ela volta?. Ao mesmo tempo, o grande público come na mão do cinema de gênero americano. Uma parte desse público quer muito ver um cinema brasileiro de gênero, mas, ao mesmo tempo, eles não veem e isso é um ciclo vicioso muito estranho. Ainda não sabemos como Bacurau vai ser recebido no Brasil, mas é um filme brasileiro de gênero.
JULIANO DORNELLES Acho que o filme consegue transcender o gênero. Uma pessoa que teria preconceito ou desprezo sobre os filmes de gênero veria esse filme sem perceber que é um espécime desses. Isso é um palpite, não sei bem como vai ser.


Sônia Braga volta a estrelar filme de Kleber Mendonça Filho. 
Foto: Cinemascopio/Divulgação


CONTINENTE Mas sabemos que os filmes usam o gênero para falar de questões atuais, como tudo sugere que seja o caso de Bacurau. Em Corra!, Jordan Peele fez um filme de horror para falar de racismo.
KLEBER MENDONÇA FILHO Isso. Tem filmes de gênero que colocam o gênero em segundo ou terceiro grau. Em Bacurau, parece que você tá vendo um drama rural, mas aos poucos... Aquarius e O som ao redor iam no realismo, mas colocavam o pezinho no gênero e voltavam. Esse não, ele vai, vai e de repente... (mexe as mãos, faz um ruído que parece uma pequena explosão e sorri).

CONTINENTE E como foi montar a logística para que esse filme brasileiro de gênero existisse? Sendo uma coprodução Brasil-França, tem investimento dos dois países, não é?
JULIANO DORNELLES Uma coprodução envolve várias áreas e decidimos que, no Brasil, concentraríamos todos os processos de filmagem e na França, como uma parte da grana tinha que ser gasta lá, por uma questão de produção, iríamos fazer a parte de finalização. Podíamos ter contratado um diretor de fotografia francês, por exemplo, mas nosso diretor já era Pedro Sotero. Então, em abril, passamos 20 dias em Paris fazendo correção de cor e de som. Estávamos lá, inclusive, quando soubemos da seleção para Cannes.
KLEBER MENDONÇA FILHO Foi tudo muito diferente com esse filme. Tivemos a pré-produção no Recife, depois dois meses de filmagens no sertão do Seridó, no Rio Grande do Norte, e mais 10 meses de montagem no Bairro do Recife. Aí, depois, fomos a Paris para finalizar som, correção de cor e efeitos especiais e daqui continuamos aprovando tudo, recebendo (aponta para o celular) e dando o OK.
JULIANO DORNELLES Efeito é um negócio complicado de acertar, tem relação com o tempo da cena. Por exemplo, tem um mergulho de câmera feito artificialmente que queremos que a câmera vá um pouco para lá (aponta para a esquerda), mas aí o movimento é feito e ela vai para cá (aponta para a direita). Então, daqui a uma semana, chega a nova versão. É por aí.

CONTINENTE E em quanto ficou o orçamento?
JULIANO DORNELLES Em R$ 8 milhões. Não é big budget para o Brasil, mas certamente é para Pernambuco.
KLEBER MENDONÇA FILHO Talvez seja o maior filme pernambucano já feito, nesse sentido do orçamento. O filme tem investimento do Funcultura, da Petrobras, do Fundo Setorial do Audiovisual, do Arte France Cinema na França e ainda do Telecine, Globo Filmes e Canal Brasil.

CONTINENTE Vocês se dividiam no set? Ouvi vocês comentando antes que teve momentos nas filmagens em que foi um para cada lado.
JULIANO DORNELLES Sim. Tivemos oito semanas de filmagens e, em quatro delas, pudemos contar com duas equipes de fotografia. Pedro era nosso diretor, mas na metade do tempo, tivemos Ivo Lopes Araújo lá, fazendo uma segunda unidade. Então, eu ia fazer uma coisa, Kleber ia fazer outra, cada um com sua equipe. Tinha uma logística de produção que tinha que ser mantida, um cronograma a ser cumprido. Tivemos algumas adversidades, como temporais. E as locações eram em lugares que demorava, às vezes, uma hora para chegar.

CONTINENTE No ano passado, em momentos distintos, pude entrevistar Karine Teles e Thomás Aquino, dois dos integrantes do elenco de Bacurau. E quando perguntei se podiam adiantar algo do filme, eles disseram que não, mas que tinha sido uma experiência inacreditável. Esse é um filme coral, de muitos atores e atrizes, como aliás o próprio cartaz deixa ver – Karine, Thomás, Sônia Braga, Udo Kier, Bárbara Colen. Como foi a dinâmica com o elenco nas locações?
JULIANO DORNELLES O trabalho começou no Recife ainda. Na verdade, investimos dois anos para achar o elenco. Marcelo Caetano fez o casting, passou dois anos achando gente para o filme. Quando as pessoas virem, entenderão que o filme traz questões delicadas de representação e a gente queria ter muita certeza de que tipos de rostos seriam esses. Então, temos atores do Recife, de João Pessoa, Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte, do Rio de Janeiro, de São Paulo. Leonardo Lacca e Amanda Gabriel trabalharam com Sônia, Bárbara, Karine e Thomás ainda no Recife e Renata Roberta fez um trabalho específico com a figuração lá em Parelhas e outras cidades. Sônia, por exemplo, mesmo não estando em todas as cenas, passou o tempo inteiro com a gente no Sertão.
KLEBER MENDONÇA FILHO A relação com os figurantes nos tocou muito. Imagina você chegar numa comunidade onde existem pessoas que na vida real são hostilizadas, escanteadas ou tratadas com preconceito e todas elas, em peso, compareceram para trabalhar no filme. Durante aqueles três meses, no filme, elas são valorizadas como nunca foram. Todo dia, ônibus e vans iam pegá-las para elas irem ao set participar de tudo aquilo. No último dia de filmagem, elas entendem que vão voltar para a realidade. No último jantar com todo mundo, elas escreveram um poema e nos declamaram. Foi algo muito, muito emocionante. O vídeo está lá no meu Facebook, foi algo entre 6 e 10 de maio de 2018.


Foto: Cinemascopio/Divulgação

CONTINENTE Falando em emoção, como é estar na seleção oficial de Cannes ao lado de Jim Jarmusch, Terrence Malick, Quentin Tarantino, Pedro Almodóvar, Ken Loach, Elia Suleiman e dos irmãos Dardenne?
JULIANO DORNELLES Afe Maria.
KLEBER MENDONÇA FILHO Acho incrível, mas tento não pensar muito sobre isso. Para mim, só exibir o filme no Palais já será inacreditável, então não quero ficar pensando em como será a reação da imprensa, nessas coisas. Mas acho um pouco estranho porque frequentei muito Cannes como jornalista e crítico, então vi muitos filmes dessas pessoas. Estava no festival quando Almodóvar apresentou Tudo sobre minha mãe, que era para ter sido a Palma de Ouro dele, mas quem ganhou foi justamente Rosetta, o primeiro filme dos Dardenne.

CONTINENTE Isso foi em 1999. Faz 20 anos, então. E agora, você e Juliano com Bacurau.
KLEBER MENDONÇA FILHO Vinte anos? Uau, é mesmo, nem tinha pensado.
JULIANO DORNELLES Não tenho nem o que dizer. Mandaram para mim uma lista dos cineastas brasileiros que concorreram à Palma de Ouro e, de repente, meu nome está nessa lista que tem Anselmo Duarte, Walter Salles, Cacá Diegues... A sensação que tenho é: “O que é que estou fazendo aqui?” (risos). É completamente diferente de Kleber, que tem uma carreira sólida e extensa de curtas-metragens. É como se eu tivesse pulado algumas casas no Jogo da Vida. É assim que me sinto, de verdade. E acho que Bacurau é um belo filme. Trabalhamos bem para fazê-lo assim.

CONTINENTE Em 2016, Aquarius foi exibido em Cannes em maio e, em agosto, chegou aos cinemas. Acredito que esse hiato curto beneficiou a carreira do filme, que bateu a marca dos 400 mil espectadores. Agora em fevereiro, Marighella, de Wagner Moura, foi exibido fora de competição, mas com estrondo na Berlinale, porém os produtores e distribuidores falam em um lançamento apenas para 2020. Vocês já pensaram em como será Bacurau depois do festival?
KLEBER MENDONÇA FILHO O grande problema é que não temos dinheiro para o lançamento, então não sabemos. Do ponto de vista do dinheiro público, o Brasil investiu muito, acho até que um pouco mais da metade do orçamento é de verba brasileira, e tivemos um trabalho gigantesco durante dois anos para fazer o filme. Mas agora Bacurau fica sem dinheiro para existir no mercado. As pessoas não sabem disso e acham que Vingadores: ultimato está em 2,7 mil salas porque é um filme do caralho. Como informar às pessoas que não é exatamente assim? Que o filme pode até ser bom, mas que está lá porque tem um orçamento gigantesco para estar ali? O filme precisa de dinheiro para ser colocado nas salas de cinema.
JULIANO DORNELLES Tudo vai depender se a gente vai arranjar dinheiro para lançar Bacurau. A vontade é lançar o quanto antes, certamente ainda em 2019.

CONTINENTE Torço por isso, tanto para Marighella como para Bacurau. Mesmo sem ter visto o filme, a julgar pelo que vocês dois colocam e antecipam, percebe-se que essa é uma obra para ser vista no Brasil de 2019.
KLEBER MENDONÇA FILHO Acho que, com tudo que está acontecendo no país, Bacurau terminou sendo antecipado. Vejo-o bem atual. É um filme sobre o fascismo.

LUCIANA VERAS é repórter especial e crítica da Continente.

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