Desde a década de 1990, o músico, ator e dançarino Helder Vasconcelos se entregou de corpo e espírito à cultura popular. Há quase três décadas, o garanhuense, hoje com 48 anos, está mergulhado no cavalo marinho e no maracatu rural. No ano de 2000, fundou seu próprio brinquedo, o Boi Marinho que leva adiante até o momento presente.
Pesquisador, não. Um brincante – como ele mesmo prefere ser chamado –, o ex-integrante da banda Mestre Ambrósio dança entre o tradicional e o contemporâneo. Além de transitar pelos terreiros e sambadas de todo o estado, ocupou os palcos do teatro com três trabalhos solo e as telas do cinema, em um dos filmes mais importantes da história do cinema pernambucano, Baile perfumado (dir. Lírio Ferreira e Paulo Caldas, 1997).
Entrevistamos Helder Vasconcelos numa manhã de janeiro, na Praça de Casa Forte, no Recife, em busca de algumas respostas sobre a relação das crianças com a cultura popular, tema da reportagem de capa da Continente de fevereiro. Sentado em um banco, Helder nos ensinou: “Dentro da tradição, as crianças começam brincando de brincar”.
Na entrevista que segue abaixo, o artista reflete sobre a transmissão de saberes e trocas dentro das famílias e comunidades de brincantes e também sobre religiosidades, corporalidades, política e pedagogia, a partir da cultura popular. “O princípio do educar através do exemplo era pra ser um princípio básico da educação. Na tradição, esse aprender ainda se dá por essa essência, por essa alegria”, afirma.
CONTINENTE Como você enxerga a relação das crianças com a cultura popular? HELDER VASCONCELOS Uma coisa que eu sempre observei, e acho muito legal, é que todas as tradições que eu vivi, sem exceção, têm crianças muito pequenas já com a alma da coisa. Em um maracatu rural, por exemplo, eles pegam uma folha de bananeira, fazem tiras com elas, recortam, e aquilo vira uma lança. A gente considera a tradição uma brincadeira. Uma brincadeira séria. Mas eu percebo que existe o brincar de brincar. É assim que as crianças se iniciam. Os meninos e meninas do meio do maracatu rural brincam de caboclo entre eles. Inventam adereços... Só que eles brincam e, muito rapidamente, eles já fazem parte da brincadeira. Isso é uma das coisas que mais me impressionam: as crianças, ainda muito pequenas, já têm a base, o encaminhamento. Têm o diferencial para aquela tradição. A criança ainda com chupeta na boca, pouco mais de um ano, pega uma alfaia. Isso, em todas as tradições. Na Xambá mesmo, você vê os meninos muito pequenos, sentam no ilu: “Toca pra Iemanjá”! E eles tocam. Que transmissão é essa? Como é que eles sabem tão pequenos? Vem, no mínimo, “de barriga”. Mas vem de antes, né? Eu acho que tem uma relação espiritual mesmo. A criança já nasce com aquela espiritualidade.
CONTINENTE Está sempre muito relacionado com a tradição familiar, com a comunidade... HELDER VASCONCELOS Exatamente! Porque, às vezes, não são os pais. Claro que quando têm os pais, os alicerces, as pilastras são muito mais sedimentadas, mais robustas. Mas também tem a relação de comunidade. Já vi isso também: os pais não brincam, mas também não condenam, aceitam. Aí tem um vizinho, um primo; tem alguma relação próxima e aí ele se encaminha pela relação da rua. Na rua tem um maracatu ou outro brinquedo... Mas aí quando é com os pais, é impressionante. Que aí a criança vive aquilo o tempo todo.
CONTINENTE Tem um processo de mimese, do espelhamento no mais velho que toda criança tem. Só que quando é uma criança inserida nesse universo, a mímese se dá dentro desse repertório, desse universo... HELDER VASCONCELOS Nas minhas observações – não tenho nenhum embasamento científico –, a criança tem uma abertura para as potências da natureza do humano. Ela está mais fresca, né? Eu acredito que ela encontra na cultura popular os princípios dos funcionamentos da natureza. É esse espelhamento, como em toda criança? É. Mas acho que tem uma potencialidade do tipo do fazer, da natureza do fazer, que encontra uma ressonância da intuição do funcionamento da própria natureza.
CONTINENTE Você se refere a uma ancestralidade? HELDER VASCONCELOS Passa pela ancestralidade, pela espiritualidade e passa pela natureza humana, entende? Eu acho que quando uma criança percebe esse fazer, ela está mais aberta, está em construção. Ela se conecta e se integra rapidamente onde quer que tenham esses princípios fundamentais da natureza. Para não ficar uma coisa muito abstrata: existe um princípio dessa forma de fazer tradição popular que é pela repetição. Esse é um princípio de funcionamento da natureza. Por exemplo, a música e a dança não estão focadas numa exigência racional/intelectual. É uma música extremamente simples do ponto de vista racional, mas muito profunda. A profundidade acontece por outros princípios. São muito poucos elementos que se repetem bastante. As tradições acontecem desse jeito. A natureza, igual. É constante e, ao mesmo tempo, diversificada na sua própria repetição. Isso se conecta com a própria natureza do ser humano. Para uma criança, ela reconhece isso muito rápido. É o que a gente pode chamar de lúdico.
CONTINENTE A possibilidade de imersão tem sido cada vez mais rara e carrega diferenças, se comparado às experiências da zona rural e urbana, centro e periferia que dizem respeito à permeabilidade, à troca entre casa e rua. Dentro dos grupos sociais que moram em prédios, é tudo controlado, monitorado. Nas comunidades e no interior, as crianças podem sair de casa mais livremente. Existe uma confiança nos vizinhos, nos colegas da rua, familiares que estão ali por perto. E aí essa coisa fica menos rígida, né? Ela acontece mais organicamente... HELDER VASCONCELOS A experiência dialoga com os hábitos – que passam por andar de pés descalços ou não, por exemplo. É paradoxal, mas é na precariedade que muitas vezes tudo isso acontece. Tem a ver com a corporalidade. Não podemos desassociar do corpo, esse fazer – a pessoa não anda descalça, não dança, não joga bola na rua, não se mela na poeira, não toma banho de chuva. Parece uma conversa boba, mas a gente está falando de corpo. Essas tradições só acontecem dentro de um tônus e um estofo de corpo. Abaixo dessa linha, é o que a gente chama hoje de folclore, encenação pra escola de classe média – o que também cumpre uma função. Mas falando de uma coisa real, do que é essa experiência, ela só começa a partir de um certo grau de expansão de corpo (físico-muscular, tônus) para experienciar o que é espiritual também. O espírito não está desconectado do corpo, nunca esteve. Para essa experiência espiritual – e não estou falando especificamente de religião, de incorporação, nada disso (que também existem) –, é preciso que haja experimentações de expansão do próprio corpo. As escolas, de um modo geral, são completamente desconectadas desse fazer cultural tradicional. Às vezes, as escolas estão lado a lado de onde acontecem as brincadeiras, no mesmo bairro, mas seguem um programa desconectado, folclorizante. É muito louco porque a criança brinca maracatu, aí vai para a escola e a escola acaba tratando a coisa do mesmo jeito que trata em outros lugares onde o maracatu não existe ou está distante. Era para integrar. Na Zona da Mata, o caboclo de lança é figura simbólica. Mesmo tão próximo, o sistema educacional olha como coisa simbólica. Não percebe a força que tem. Pelo contrário, em alguns lugares até reprimem.
CONTINENTE Enquanto você vai falando, eu, daqui, vou tentando fazer algumas reflexões. De um lado tem um processo de educação não formal e de formação humana que, como você bem disse, atravessam técnicas como a música, a dança, o toque: a cultura popular é uma forma de vida... HELDER VASCONCELOS A arte sempre foi um espaço de educação e é fundamental ter essa visão e trabalhar isso, usar ferramentas, pensar isso como educação. Acho que a gente tem que olhar para os espaços das escolas porque as crianças estão ali, mas não podemos nos restringir ao institucional. É preciso pensar educação como um todo, o que pode incluir também esse fazer institucional da escola. Mas não é possível cair nessa de que educação tem que ser na instituição. Na institucionalidade, a gente acaba engessando, restringindo e perdendo um grande potencial da educação que estão nessas tradições e nesses saberes, no fazer tradicional. Não é só um saber específico, técnico de tocar e dançar. Eu chamo isso de “jeito de fazer”. É uma forma de ver o mundo, uma forma de fazer que você pode aplicar em qualquer setor da sua vida. Eu venho formalizando isso em certos princípios. Tem princípios básicos de funcionamento daquela música que você pode e deve levar para outros fazeres, que não sejam especificamente de música.
CONTINENTE Quais são esses princípios? HELDER VASCONCELOS Tem dois elementos básicos que dão a base pra os princípios de atuação. O primeiro elemento é a percepção de um fazer interior – como na tradição, as coisas simbólicas e práticas não estão desassociadas. Quando eu falo interior, é interior do corpo mesmo. Por exemplo: o impulso para um passo – o que a gente vê – acontece primeiro dentro. Isso serve pra qualquer coisa na sua vida. Parece uma loucura dizer isso: “A gente faz alguma coisa que não parte de dentro?”. Faz um monte de coisa. A sociedade está viciada em fazer coisas que não têm relação nenhuma com o seu interior. Um outro elemento importante é a pulsação. Você ter a consciência que o fazer é pulsante, vivo, tem uma frequência. Na tradição, essa pulsação é perceptível e regular. Humanamente, o mundo inteiro percebe essa marcação que é a marcação de tempo. Isso é a base. A partir daí, eu elenco quatro princípios-base. O primeiro é: existe uma relação direta e precisa entre essa pulsação regular com o fazer. Ou seja, a música e a dança seguem essa pulsação regular. Ela tem uma precisão com relação a isso. O outro princípio é o da continuidade. Você faz isso dentro de uma pulsação regular e perceptível e repete, continua. Você repete, repete, repete até chegar a um limite físico. Quando você chega a um limite físico, o que você tem que fazer é repetir ainda mais. E aí tem o terceiro princípio, que é o da superação dessa barreira física – repetindo ainda mais. Aí começa a atuar o quarto princípio, que é quando você supera, você expande e começa a se retroalimentar desse próprio fazer: quanto mais você faz, mais você ganha energia. Até o terceiro princípio, você tem explicações físicas. No quarto, começa a atuar uma outra ordem. Sua musculatura, seu corpo, vão ter um limite, mas você tem um fazer que te alimenta. Essa é a grande potência do negócio. Você vai mais fundo. Aí consegue repetir mais, expandir mais e ganha mais energia. Isso é um saber/fazer que você pode levar pra educação. A educação formal institucional esqueceu disso. Ela não tem uma pulsação regular. Enfia um monte de matérias que não têm regularidade, que não têm continuidade. As coisas tinham que ter mais regularidade, uma pulsação mais clara, perceptível. Às vezes, o moleque não tem relação nenhuma com o conteúdo. Você tinha que achar o conteúdo que tivesse relação interna com a pessoa. A escola não tem diversidade nenhuma. Os alunos não conseguem experienciar essa expansão nem essa retroalimentação. Eu vejo que poderíamos levar esses princípios para a educação formal.
CONTINENTE Você acha que, dentro do brinquedo da cultura popular, há uma complementação da educação formal e familiar –transmissão de valores éticos, morais, partilha, troca, respeito...? HELDER VASCONCELOS Não tenha dúvida! Porque a criança está aberta a tudo. O afeto e a afeição e essa busca da relação familiar ela encontra no brinquedo. Essas relações subjetivas não estão desassociadas do fazer prático. Sem esses valores, a brincadeira não acontece. Quando você vê um maracatu indo brincar – dois ônibus, um caminhão carregado de coisas –, quando encostam, as pessoas saem de dentro, se organizam no meio da rua e apesar das dificuldades, ficam prontos em 20 minutos. Aquilo é um sistema de educação absurdo (com criança, com tudo). Aí você olha e se pergunta: “De onde vem essa vontade que move?”. Isso é de uma educação, de um aprendizado, de um respeito absurdo. Você olha e pensa: “Nossa, que caos!”. Não é! Aquilo é de uma coordenação fora do comum.
CONTINENTE Existe uma relação de muito respeito e cuidado entre as crianças e os mais velhos. De valorização e escuta enquanto sabedoria acumulada. Ao mesmo tempo, parece que o repasse, às vezes, tem uma centralidade na vida dos mais velhos, como se essa fosse a sua própria razão de viver. Onde há criança desejando aprender, o brinquedo está vivo. Parece que esse é mais um dos princípios da cultura popular. HELDER VASCONCELOS Como que pode existir outra coisa que não seja isso? Como é que você pode pensar num sistema de educação que não esse? Como que a transmissão do saber não é pelo exemplo, não é pelo próprio fazer dos adultos? Onde é que a gente arrumou essa cilada pra sociedade? Onde é que isso se inverteu? A educação formal é um programa completamente desconectado, feito por burocratas que não têm relação nenhuma com a comunidade, que implementam um negócio igual pra todo mundo. A sociedade vai mudando, os meios são outros e eu não sou contra a mudança. Mas a gente tem que entender os princípios. O princípio do educar através do exemplo era pra ser um princípio básico da educação. Você educa pelo exemplo, não é por uma ideia ou formalização, num livro ou num programa. Por que é que as crianças brincam com tanto gosto? Porque elas querem brincar! Não é por outra coisa. Não é por uma imposição. Ele vai aprendendo pelo próprio brincar. Por que qualquer criança vai dizer que a escola é um saco? Porque é um saco. É um equívoco. É um erro do jeito que ela é. Deixou de seguir a naturalidade do aprender. Qual a pessoa no mundo não quer aprender alguma coisa? Não existe. O ser humano fica feliz quando aprende. Isso tá no instinto, na natureza. Se ele não quer aprender, o problema está na forma que se ensina.
Na tradição, esse aprender ainda se dá por essa essência, por essa alegria de brincar. Quem é que não quer ver algo em que acredita ter continuidade além da sua própria vida? Você morre e aquela coisa fica. Quem é que não quer deixar um legado de um fazer? Qualquer ser humano tem isso intuitivamente. Ou você quer morrer e não ficar nada? A gente puxa muito facilmente pra questão da espiritualidade porque eu acho que isso também tá na natureza do próprio humano. Esse, para mim, é o ponto-chave do que nós estamos vivendo hoje. Um momento de desafio tão louco – político, ideológico, econômico, social. Eu nunca imaginei viver uma crise dessas, onde parece que tudo está tão descarado, tão absurdo. Tem um sarcasmo institucional assumido com esse governo Bolsonaro. É tudo tão desafiador, que algo em mim diz que a gente tem que avançar pra uma coisa que a gente não experimentou ainda. Ao chegar nesse raciocínio, o que me vem é ligado a uma natureza do que nós somos, que é a espiritualidade. Nós não vamos chegar numa vida mais interessante sem a integração das nossas vidas cotidianas com essa espiritualidade, que faz parte da nossa essência. Muita coisa que a gente vive, muitas dificuldades, é porque a gente ainda não sabe integrar de forma natural, cotidiana, simples, a espiritualidade na nossa vida. É como se a gente tivesse descartando uma coisa que faz parte da gente e isso causa problemas. Eu quero dizer que a gente não vai mais resolver essas questões sem a gente integrar esse determinado conjunto de valores implicando a espiritualidade. Trazer isso pro dia a dia é o nosso desafio agora. Entender que existe uma essência que tá além da materialidade, da física, dos sentidos, da visão, do paladar. É algo que está além do que a gente toma como realidade, do que a gente se acostumou a ver como realidade. Tem a ver com a nossa transcendência. Tem a ver com algo que está além da vida, além do corpo. É algo que nos conecta por uma essência mais sutil, atemporal, que não tem a ver com nosso tempo cronológico.
É por isso que a ancestralidade é tão viva, não é uma questão do passado, é uma conexão. Se a gente não fizer isso, vamos continuar brigando com nós mesmos. Isso tem que chegar na sociedade. Isso tem que chegar nos movimentos. Isso tem que chegar na política, na economia, em tudo. Como é que a gente integra isso na prática, na forma de viver, de se relacionar, de atuar? Ignorando ela, a gente não consegue resolver. Essa forma de ver o mundo é uma forma que nos conecta, que faz a gente perceber que não adianta de nada esse pensamento desintegrado. Integrar a sociedade, um pensamento social, é uma opção de sobrevivência. Integrar é da natureza.
CONTINENTE Os brinquedos, muitos deles, têm relação com essa espiritualidade de que você fala. As crianças estão aprendendo a brincar e também estão aprendendo a se conectar. Tem um acordo não falado, muitas vezes, que é: tem a brincadeira voltada para a apresentação, profana, mas isso tá sempre conectado e sustentado por uma dimensão da espiritualidade. Eu queria que tu falasse de forma mais aplicada como é que a espiritualidade está dentro dessa educação também, das crianças, dessa transmissão dos brinquedos. HELDER VASCONCELOS Eu acho que existem graus que a gente pode ir entendendo e nomeando. Em determinadas tradições, você não tem o procedimento de instituição religiosa, mas tem os procedimentos da própria brincadeira pelo fazer da dança e da música. Isso é interessante. Você experimenta essa espiritualidade pelo próprio fazer da brincadeira. Não é uma pregação religiosa, não é um conceito que você está repassando. Mas existem tradições onde essa relação é direta.
CONTINENTE A perseguição à cultura popular não é uma novidade, é histórica e já foi, em alguns momentos, até institucionalizada em forma de lei. Nos dias atuais, ela ganha uma cara específica devido ao crescimento das igrejas evangélicas e do poder político delas. É um perigo para a manutenção desses brinquedos... HELDER VASCONCELOS É um perigo. É uma afronta. Há alguns anos, ou você era uma coisa ou outra. Era maracatuzeiro e, se resolvia entrar para a igreja evangélica, tinha que deixar de sair no maracatu. Hoje não. Existe uma permissividade perversa que deixa o cara brincar e, aos poucos, vai minando. Botam os caras para cantar de Jesus na brincadeira. Vão sofisticando. Hoje você tem banda de reggae, o símbolo do uso da maconha, cantando Jesus. Sabem que a concorrência é muito grande e criam novas formas. Isso é pra ser estudado…
CONTINENTE A cultura popular não só surge como se perpetua até hoje em lugares periféricos, de baixa renda, seja no interior, seja na capital. Como você vê essa relação entre cultura popular e classe? HELDER VASCONCELOS Esses lugares sempre foram de resistência. A gente se assusta um pouco agora porque pode perder recursos públicos para a cultura, mas tem uma classe que já vive esses cortes e que consegue ter uma visão muito mais abrangente desse fazer do que alguém que tá numa classe média estudando num colégio ou universidade. Esse aprendizado é de muita potência. Não é à toa que essas tradições, elas subsistem nesses lugares. Não é uma resistência racional, discursiva. É resistência real. A grande contradição é que é nessa dureza que se tem o aprendizado. Eu acho que a grande busca da sociedade é justamente a gente poder estar nessa potência sem essa dor. Superar essa mazela. Essa que pra mim seria a grande história.
CHICO LUDERMIR, jornalista, escritor e artista visual, é mestre em Sociologia.