Cobertura

A pujança e energia do No Ar Coquetel Molotov 2024

O festival aconteceu no último sábado (7) e contou com performances grandiosas de Pabllo Vittar, Tati Quebra Barraco, Ebony, Amaro Freitas e muitos outros

TEXTO Laura Machado

09 de Dezembro de 2024

Apesar de problemas técnicos, o show de Pabllo Vittar arrebatou o público

Apesar de problemas técnicos, o show de Pabllo Vittar arrebatou o público

Foto Hannah Carvalho/Divulgação

Com robustez e vivacidade, a 21ª edição do No Ar Festival Molotov foi realizada no campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), entre a tarde do sábado (7) e as primeiras horas da manhã do domingo (8). O festival, que teve ingressos esgotados e uma procura imensa por revendas online, demonstrou, através de atrações heterogêneas, como se mantém relevante na cena musical durante seus mais de 20 anos de história.

Quando teve início, ainda em 2004, o Molotov trazia a inovação artística e a pluralidade de vozes como uma ideologia e, mesmo 20 anos depois, essa filosofia seguiu estabelecida como um importante mote da grande festa. Assim, a edição deste ano contou com os nomes de Pabllo Vittar, Ebony, Jaloo, Nega do Babado, Rayssa Dias, Tati Quebra Barraco e muitos outros.

Através de apresentações de expoentes do rap nacional como Ajuliacosta e Ebony, a demonstração do talento pernambucano de Amaro Freitas e Nailson Vieira e uma completa imersão nas batidas vibrantes de Dandarona e DJ Ramon Sucesso, o Molotov 2024 fez uma edição exitosa, principalmente em um ano turbulento para a indústria da música ao vivo.

Em 2024, o No Ar Coquetel Molotov contou com uma programação de artistas 70% feminina e, entre as diversas mulheres que fizeram seus shows, muitas delas trouxeram o poder feminino como tema, através de suas vozes.

Ajuliacosta se apresentou no palco principal, com um time de dançarinas que foram propriamente apresentadas e exaltadas pela artista (e pelo público). Nome expoente na cena do rap, a paulista cantou “Poetas no topo 4” e “Você parece com vergonha”, nas quais questiona a igualdade no rap e traz uma letra forte sobre violência doméstica, respectivamente.

Em entrevista à Continente, a rapper salientou a importância de apoiar mulheres em cima e por trás dos palcos como uma das ferramentas de luta contra o machismo na indústria: “Quando a gente se depara com uma situação que a gente não está gostando, a gente precisa falar sobre isso para que pelo menos comece uma discussão. Acho que ‘Poetas no topo 4’ levantou uma questão ali, de que a gente precisa estar presente. Eu sempre bato na tecla de que é mais do que estar em cima do palco, é estar com mulheres por trás dos palcos também, na produção, iluminação, direção, produção. Ter mulheres envolvidas em tudo, para que o sistema do rap seja menos machista”.

Tati Quebra Barraco se apresentou no palco Kamikaze.
Foto: Alan Rodrigues/Divulgação

Quem veio logo depois de Aju no palco Molotov foi Ebony. Cantando e dançando frente a uma multidão gigantesca que a aguardava, a artista levou consigo a DJ Larinhx e cantou alguns dos seus maiores sucessos, como “Hentai” e “Pensamentos intrusivos”, além de também cantar o hit dos anos 2000, “Atoladinha”, do MC Bola de Fogo.

No palco Kamikaze, que contava com uma estrutura intimista e 360º, Tati Quebra Barraco animou o público com a letra política e provocativa da canção “Parabéns Piranha (tu agora ta formada)”, que salienta: “Piranha formada com diploma na mão/ Piranhas doutoradas farão revolução/ Seja uma piranha, mas não esqueça do estudo”. Firmando as origens no baile funk carioca, a artista também cantou outras de suas músicas mais famosas, a exemplo de “Boladona”. Ainda atual no cenário, arrastou um público imenso para o palco, causando até mesmo dificuldade para quem tentava trafegar entre os palcos Natura e Molotov.

Adentrando o festival, as instalações do palco Coquetel Molotov já apareciam atrativas, convidando o público a se aproximar da grade e ouvir os atrações que tocavam por ali. Começando com Jéssica Caitano e Samba de Coco Raízes, unindo a tradição do interior pernambucano com a modernidade do festival, o palco também foi o escolhido para Jaloo e Zaynara se apresentarem. Paraenses, as duas artistas trazem em seus repertórios uma mistura de ritmos e gêneros musicais, que incluem, é claro, o tecnobrega paraense.

Jaloo contou à revista Continente que traz em suas composições muito da sua história e singularidade: “Meu som é muito biográfico, além de ter os ritmos que são diversos, que fazem parte da minha história, da minha existência. Eu curto desde ir pro clube até dançar coladinho a dois, um tecnobrega, um forró. Então pegar tudo isso e juntar com as minhas letras e com o que eu sinto acaba me conectando muito com o público e torna tudo mais especial".

Nailson Vieira também levou muito do seu território para o Molotov. Se apresentando no palco Natura, localizado na Concha Acústica da UFPE, o artista de 22 anos, natural de Nazaré da Mata, aproveitou o show para lançar sua nova música, “Depois”. Influenciado por ritmos pernambucanos, ele encantou o público, acompanhado do trombone, seu fiel instrumento, e, com confiança, chamou o público a dançar.

A paraense Jaloo levou o tecnobrega ao palco do festival.
Foto: Hannah Carvalho/Divulgação

A atração mais esperada da noite começou por volta das 2h30 da madrugada: Pabllo Vittar. A cantora subiu ao palco com energia e um carisma sem igual, cantando os sucessos do último disco, Batidão Tropical 2, e outros hits. Ainda no início da performance, um problema técnico causou uma pausa de poucos minutos. Alguns problemas com o retorno da artista e com o volume do som seguiram por todo o show, provocando uma clara frustração em Pabllo, que chegou a afirmar que estava “tudo dando errado”. O público, por vezes, parecia compartilhar do sentimento de angústia e ouviam-se sussurros apreensivos de “Será que acabou? Será que ela vai encerar?” a cada vez que as luzes do palco se apagavam. O anseio, porém, dava lugar à euforia, a cada nova música iniciada.

Mesmo com as dificuldades, Vittar fez o público dançar e pular animado, mostrando o seu real carisma e capacidade artística orgânica, capaz de levantar a multidão, mesmo quando a situação técnica do show não está das melhores. Elogiando o público, brincando com os fãs e mandando um salve para a galera do Ibura (bairro do Recife onde recentemente gravou um clipe com o pernambucano João Gomes), Pabllo Vittar foi certeira ao mostrar seu vigor no palco.

Vittar fez o público recifense dançar e cantar, já na madrugada do domingo.
Foto: Silla Cadengue/Divulgação

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