A composição do baiano é um exemplo de que a saudade não somente está presente no nosso dia a dia, mas impulsiona a criação artística. Na música brasileira, ela aparece em diversos registros: “Saudade, diga a esse moço, por favor, como foi sincero o meu amor”; “De saudade eu chorei e até pensei que ia morrer”; “Ai, que saudade eu tenho da Bahia”; “Ai, que saudade d’Ocê”; “Ai, Meu Deus, que saudade da Amélia!”; “Ai, que saudade tenho do meu Recife, da minha gente que ficou por lá”; “Saudade que eu sinto do Clube das Pás, do Vassouras, passistas traçando tesouras”; “Oh! Que saudade do luar da minha terra”; “A saudade é o pior tormento”; “Foi a saudade que me trouxe pelo braço”; “Saudade, palavra triste, quando se perde um grande amor”; “O fim do termo saudade como charme brasileiro”; “Quem tem saudade não está sozinho, tem o carinho da recordação”; “Saudade até que é bom, é melhor que caminhar vazio”.
Como escreveram Lamartine Babo e Ary Barros, em No rancho fundo, “a dor e a saudade contam coisas da cidade”. Na reportagem de capa desta edição, assinada pela repórter especial Débora Nascimento, trazemos recortes da vida de pessoas que sentem a falta do filho, do marido, da mãe, do pai, da terra natal e até de uma empresa fechada pela ditadura militar. São histórias individuais, mas que acabam encontrando traços em comum, compondo uma grande saudade coletiva e laços com a narrativa histórica.
Você, eu, nós dois, todos já temos um passado. E quem viveu, lembra. Quem lembra, sente saudade, não é mesmo? Cada um sente saudade de experiências diferentes e a seu modo, acrescentando ao vivido o seu testemunho. E, como formulou o filósofo português Eduardo Lourenço: “Com a saudade, não recuperamos apenas o passado como paraíso: inventamo-lo”. Então, vamos em frente, inventando e sentindo saudades.