Edição #218

Fevereiro 19

Nesta edição

Salve às crianças!

Uma frase dita pela ialorixá Beth de Oxum ao nosso colaborador Chico Ludermir, a propósito da formação de crianças para a cultura popular, assunto da nossa reportagem de capa, ficou martelando na cabeça: “Cultura popular não é um curso que você passa cinco anos, depois pega seu diplominha e vai arranjar um emprego. Está impregnado na alma, na energia familiar”. Martelou, porque oferece muitas interpretações. 

Longe de desdenhar a formação universitária, a fala de Beth nos coloca diante de uma situação vivenciada pelas famílias e comunidades que mantêm seriamente brinquedos: a responsabilidade da transmissão, de deixar uma herança que, antes de material ou instrumental, refere-se à própria existência. E isso não começa quando a pessoa ingressa na maioridade, como num curso universitário, mas desde que nasce. É um compromisso diferente daquele que se coloca quando estamos diante de uma escolha de maturidade, porque somos simplesmente parte daquela história. 

Daí a limpidez das experiências na cultura popular das crianças que integram nossa reportagem, porque elas são essa “alma” à qual a ialorixá se refere, conscientes e comprometidas que estão,  no jeito infantil de serem, com os seus pastoris, reisados, cocos, bois, maracatus. 

Quando temos o privilégio de participar ou de assistir a um brinquedo em que  essa “energia familiar” está fincada, somos tocados de forma verdadeira, conectamo-nos e entendemos por que essas pessoas persistem em manter seus folguedos, a despeito, tantas vezes, das precárias condições materiais para isso.

A matéria que vocês lerão a seguir e que foi belamente fotografada por Rennan Peixe, traduz essa conexão.

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