Entrevista
Dina Alves
Advogada, pesquisadora e militante fala sobre o racismo presente no encarceramento de negras
Em 2019, completam-se os 130 anos da República e os 120 anos de Ó, Abre-alas, que inaugura a canção popular brasileira. Composta pela pianista, maestrina, abolicionista e feminista Chiquinha Gonzaga, em 1899, tornou-se o primeiro grande sucesso musical do século XX. Ao ganhar a boca do povo a partir de 1901, foi a pioneira no reinado das marchinhas, que animavam os carnavais ao mesmo tempo em que repassavam os acontecimentos políticos e sociais do ano anterior, como uma espécie de teatro de revista bailado nas ruas.
Presente na marchinha e em outros gêneros musicais, essa veia cronista nas letras é uma das características marcantes da canção brasileira, que assume um inesperado papel de documento cultural e histórico do país. Por exemplo, como não lembrar de Apesar de você, ao se falar de ditadura militar, ou de O bêbado e a equilibrista, ao se discutir a anistia, assinada em 28 de agosto de 1979, no crepúsculo do regime autoritário? Ou ainda de Coração de estudante, que, de tema instrumental de Wagner Tiso para o filme Jango, de Silvio Tendler (1984), virou o hino de Tancredo Neves, em 1985, com letra de Milton Nascimento. A temática da juventude foi inspirada pelo estudante Edson Luís de Lima Souto, de 17 anos, assassinado com um tiro no peito pela polícia em 1968.
Com o surgimento da indústria fonográfica, em 1902, quase junto ao nascimento da República, a canção brasileira passou a ser gravada e a registrar as transformações do país perante os acontecimentos políticos, econômicos e sociais. Nesta edição, que inicia 2019, celebramos a canção popular brasileira, resgatando um histórico de imbricações entre fatos e músicas, desde a composição de Ó, abre-alas até os dias atuais. Lembramos as composições que abordaram fatos revelantes da República Velha, dos governos de Getúlio Vargas, de Juscelino Kubitschek, as questões atreladas às minorias, negros, índios, mulheres, LGBTs.
Promovemos um passeio musical do passado para o presente, confirmando os avanços da sociedade e a noção de que a história pode ser cíclica, para o bem ou para o mal. Ao som dessas músicas, desejamos um 2019 com muita força para abrir alas e passar.
Leia