Um dia a areia branca seus pés irão tocar e vai molhar os seus cabelos a água azul do mar
Em 1969, Roberto Carlos visitou Caetano Veloso e Gilberto Gil, que estavam exilados em Londres. Durante o encontro, o cantor pegou o violão e cantou uma música inédita, que estaria no seu disco a ser lançado em dezembro daquele ano. Ao ouvir As curvas da Estrada de Santos, Caetano não conteve as lágrimas. “Roberto veio com Nice, sua primeira mulher, e nós sentíamos nele a presença simbólica do Brasil. Eu chorava tanto…” Comovido com a reação do compositor baiano, o Rei da Jovem Guarda, na volta ao país, reuniu-se com seu parceiro Erasmo Carlos, e, juntos, compuseram Debaixo dos caracóis dos seus cabelos. A letra conclui: “Um dia vou ver você chegando num sorriso, pisando a areia branca, que é seu paraíso”, apontando como lugar mais importante do reencontro de um brasileiro com seu país: a praia.
A história do Brasil começou na praia. A história do lugar que passou a ser chamado Brasil. Da extensa faixa litorânea de 9.198 km, Porto Seguro, no litoral sul da Bahia, supostamente foi o cenário onde ocorreu o primeiro encontro entre os invasores portugueses e os indígenas. O litoral brasileiro era ocupado por diversas tribos, dentre elas Tupis, Tamoios, Tabajaras e Caetés, que foram expulsas ou extintas. Mas, inicialmente, os colonizadores não estavam interessados na praia. O objetivo era a exploração da terra. O mar significava apenas o acesso à terra. “Vá a gente que mandar cortando os mares/ A buscar novos climas, novos ares”, escreveu Camões em Os Lusíadas. O poema épico narra as conquistas do imperialista Portugal na época das grandes navegações, “Por mares nunca de antes navegados”. Um dos trechos menciona os perigos que os navegadores enfrentavam: “Dos mares experimenta a fúria insana: Aquela alta e divina Eternidade”.
Em 1572, ano em que Camões concluiu sua obra icônica, o mar estava a centenas de voltas da Terra em torno do Sol de ser entendido como um ambiente de lazer. Permeado pelo imaginário bíblico, o mar era retratado e compreendido como um lugar ameaçador e de castigos purificadores como o Dilúvio, apenas dominado pela mão divina. No Velho Testamento, Moisés abre o Mar Vermelho para a fuga dos judeus em direção à Terra Prometida. Em seguida, as águas retornam e afogam os soldados egípcios. “Com seu poder, aquietou o Mar, com sua inteligência aniquilou Raab” (Jó, 26,12). “És tu que dominas o orgulho do mar, quando suas ondas se elevam, tu as amansas; esmagaste Raab como um cadáver, dispersaste teus inimigos com teu braço poderoso” (Salmo 89, versículos 10-11). E no Paraíso de Adão e Eva não havia praia.
Os relatos de viagens, com tempestades e naufrágios, somados às histórias de piratas e corsários e à lenda do poderoso deus grego Poisedon, alimentavam esse imaginário de quem ficava em terra firme. Para domar o mar, era praticamente necessário um exorcismo. “Os marinheiros portugueses e espanhóis do século XVI lançam às vezes relíquias às ondas. Esses navegadores têm a convicção de que a tempestade não se apazigua por si mesma, de que é preciso a intervenção da Virgem ou de São Nicolau. Muito arraigada, nesse caso, a figura do Cristo apaziguando as ondas do Lago Tiberíades e censurando aos apóstolos assustados a fragilidade de sua fé. Segundo Françoise Joukovsky, ‘a imagem do mar satânico torna-se mais intensa na França no final do século XVI e início do século XVII’”, escreve o historiador francês Alain Corbin, em O território do vazio – A praia e o imaginário ocidental (1989). O livro relata os acontecimentos culturais na Europa, para estabelecer os anos entre 1750 e 1840 como o período em que é registrado o desejo da sociedade de interagir com os espaços litorâneos.
A péssima reputação do mar era reforçada pela lembrança dos numerosos flagelos provenientes desde a Alta Idade Média. “Os traços das invasões normandas e sarracenas, o itinerário marítimo da peste negra, e mais as contravenções dos piratas, sem esquecer as dos saqueadores de naufrágios, dos contrabandistas e bandidos das praias, marcam com um sinal nefasto a imagem do litoral, antes que as grandes guerras marítimas do final do século XVII e do século XVIII venham a guarnecer as costas do Canal da Mancha com um duplo cinturão de pedra. Para o viajante do século XVIII, a apreciação de uma praia, de uma enseada ou de um porto levará em conta inicialmente a medida de suas defesas”, ressalta Corbin. Não é à toa que, nas costas litorâneas, eram instalados os fortes com seus canhões apontados para o horizonte, como forma de demarcar a área e enviar um alerta para estrangeiros ou inimigos declarados.
Em 1868, quase 300 anos depois do lançamento de Os Lusíadas, os mares, agora já bastante navegados, foram tema de outro poema icônico. Por sua vez, escrito pelas mãos de um poeta brasileiro, baiano. Em Navio negreiro, Castro Alves narra os horrores do transporte dos escravizados da África para o Brasil e clama: “Ó mar, por que não apagas/ Co’a esponja de tuas vagas/ De teu manto este borrão?…/ Astros! Noites! Tempestades!/ Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão!”, e conclui, ordenando: “Andrada! Arranca esse pendão dos ares!/ Colombo! Fecha a porta dos teus mares!”. A abolição da escravidão ainda levaria 20 anos para acontecer.
Enquanto as portas dos mares não eram fechadas para o tráfico humano, os mortos durante o trajeto, que durava mais de dois meses, eram lançados ao mar ou mal-enterrados na própria orla, de maneira que esta era entendida como um local inapropriado e insalubre. “Os urubus vinham pinicar os restos de comida e de bicho morto e até os corpos de negros que a Santa Casa não enterrava direito, nem na praia nem nos cemitérios. A maré subia e lavava a imundície das praias”, relatou Gilberto Freyre, em Sobrados e mocambos (1977). No mesmo livro, o sociólogo pernambucano registra que o barril “que ficava debaixo da escada dos sobrados, acumulando matéria dos urinóis” era “para ser então conduzido à praia pelos negros”.
Há uma tese defendida por pesquisadores brasileiros de que, no país, a passagem gradativa da praia como depósito de excrementos e local de trabalho a balneário médico teve relação direta com a chegada da família real, que seguia a tendência internacional da “praia terapêutica”. “O panorama europeu, enfim, na virada do século XVIII para o XIX possivelmente influencia a decisão de D. João VI, que chega ao Brasil em 1808, vindo justamente da Europa, para tratar a doença de pele que o atinge com banhos de água salgada, instalando para isso uma construção na Praia do Caju, em 1817”, afirma a socióloga Patrícia Farias, em A praia carioca (2007).
Segundo o historiador português Pedro Alexandre Martins, é impossível datar com precisão em que momento da história a ida à praia começou a ser uma prática organizada. As primeiras referências reportam à época romana, referindo-se ao banho terapêutico de água do mar pelos seus efeitos tônicos em doentes de navios ou que sofressem de tuberculose pulmonar. “A grande maioria dos historiadores concorda que foi durante o Império Romano que se iniciou a prática da vilegiatura, isto é, a permanência sazonal numa propriedade rural por parte indivíduos das elites de Roma. Esta prática teve os seus primórdios na região da Campânia, razão pela qual a Baía de Nápoles se tornou o primeiro centro de vilegiatura balnear da Antiguidade.”
The shipwreck (1804), uma das pinturas de JMW Turner sobre o mar. Imagem: JMW Turner/The shipwreck
Os antigos já desconfiavam do que os pesquisadores contemporâneos constataram: o mar traz diversos benefícios. Estudos recentes apontam que o aumento do contato visual com a cor do mar está significativamente associado a níveis mais baixos de sofrimento psicológico e que o ar oceânico, com íons de hidrogênio carregados negativamente, ajudam a absorver oxigênio e equilibrar os níveis de serotonina, promovendo um sono mais saudável. Já os sons das ondas ativam o córtex pré-frontal, área associada a emoções e autorreflexões, trazendo sensações positivas e reduzindo o estresse. A exposição ao sol – com parcimônia – aumenta o nível de vitamina D, prevenindo várias doenças, inclusive a depressão e o câncer.
“Após o declínio da vilegiatura na Baía de Nápoles a partir do século III d.C. e a queda do Império Romano, durante mais de mil anos as fontes praticamente ignoram uma prática organizada dos banhos de mar, contrastando com os banhos públicos urbanos que permanecem no mundo medieval. A própria vilegiatura só ressurge em força no século XIV, embora centrada no contexto rural italiano. Só voltamos assim a ter referências a um ressurgimento sistematizado dos banhos de mar no século XVIII, na Inglaterra. Na realidade, só falamos de um surgimento (ou ressurgimento) dos banhos de mar no Ocidente quando estes se tornam uma prática das elites”, afirma Pedro Alexandre Martins.
No século anterior, o inglês Robert Burton, na obra The anatomy of melancholy (1621), sugere que a variedade de paisagens era um remédio contra a melancolia, denominada de spleen (baço) pelos poetas, e outras patologias. “Nos séculos XVI e XVII, a melancolia estava na moda”, destaca Corbin. Outro fator importante foi a divulgação do banho frio na hidroterapia, registrado em A história do banho frio (1702), de John Floyer, que propagou a moda do banho frio entre os ingleses, costume que perdurou por mais de dois séculos.
E foi na Inglaterra onde ocorreu a transição do banho termal para o banho de mar. “Scarborough teve aqui um papel importante, pois nesta povoação litorânea do Yorkshire, conhecida desde 1637 pela sua fonte de água mineral com sabor de sal, a prática dos banhos de mar aliar-se-ia ao termalismo, havendo registos da Duquesa de Manchester em 1732 banhando-se nas suas águas. A reversão dessa imagem repulsiva do mar se opera entre 1660 e 1675 graças aos progressos científicos alcançados, sobretudo, no domínio da oceanografia”, destaca Martins.
Brighton foi pioneira do balneário contemporâneo, depois que o médico Richard Russell instalou na cidade litorânea do sul da Inglaterra seu consultório, na primeira metade do século XVIII, receitando aos pacientes estâncias termais. No início do século XIX, tornou-se também laboratório de experiências da arquitetura e da urbanística balneares, com instalação de píer, espaço de passeio e de lazer, terraços, passeios marítimos. O lugar permaneceu como a praia da realeza até 1845, quando a rainha Vitória transferiu-se para Osborne, na Ilha de Wight, pois, em 1841, a ligação da linha ferroviária com Londres popularizou Brighton, perdendo o seu caráter elitista.
Duas contribuições importantes para a propagação do banho de mar e da vida litorânea foram dadas pela Teologia Natural (corrente religiosa que enfatizava a Natureza como criação divina), e pelos poetas franceses do século XVII. Estes passaram a se interessar pela beira-mar e pela imagem poética do movimento das ondas. No século XVIII, as praias (e seus elementos característicos) viraram objetos de contemplação: o mar, a areia, pescadores, mulheres, marinheiros.
“É no final do período romântico que surge a nova moda da vilegiatura marítima. O mar, inicialmente amado pela sensibilidade própria do tempo, pelo seu caráter simultaneamente belo e trágico, fascinante e medonho, imensa força da natureza com que os espíritos sensíveis ou artísticos gostavam de se identificar, vai ser apropriado pela sociedade burguesa do fim do século (XIX) em moldes bem diferentes”, observa a historiadora portuguesa Maria da Graça Briz, em A arquitectura de veraneio (1989). O estudo cobre o período entre 1880 e 1930.
“Nas primeiras décadas do século XX, emerge claramente a ‘praia lúdica’. Os códigos de leitura e apreciação deste espaço vão incluir não só a ‘contemplação admirativa da natureza marítima’, identificada na fase da ‘praia terapêutica’, mas um contato muito mais intenso com o mar, o sol e a areia. A praia entendida como um espaço vocacionado para o prazer corresponde a uma valorização dos elementos ‘quentes’, enquanto à ‘praia terapêutica’ surgem associados os elementos frios. Ao frio corresponde a austeridade, o vigor, a moderação. Ao quente corresponde o relaxamento, diminuição da tensão e exacerbação da libido. Um dos principais indicadores das transformações ocorridas pela passagem da praia terapêutica para praia lúdica é a mudança nos horários de utilização da praia. A praia vocacionada para finalidades terapêuticas era essencialmente frequentada de manhã cedo”, escreve a socióloga portuguesa Helena Cristina Machado, no livro Construção social da praia (1996).
No mesmo estudo, a pesquisadora escreve que vários autores destacam o caráter anômalo e híbrido da praia, resultado desse espaço ser um interposto entre natureza e cultura. “Sendo a praia um espaço alternadamente coberto e descoberto pelas águas do mar, é sobretudo um espaço ambíguo: não é terra (civilização, cultura), nem mar (natureza), mas pode adotar caraterísticas de ambos.” Chris Rojeck, sociólogo britânico que desenvolve uma reflexão sobre o significado do lazer nas sociedades ocidentais contemporâneas, “considera que, em muitos aspectos, a praia constitui um exemplo incontestável do pós-modernismo, pelo fato de lhe ser dirigida uma amálgama de significados e comportamentos”.
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A apropriação da praia pela sociedade burguesa aconteceu em diversos países. No Brasil, segundo a historiadora Claudia Braga Gaspar, até a chegada da família real, o Rio de Janeiro basicamente se restringia à área do centro da cidade. Toda a praia de Copacabana tinha meia dúzia de casas e alguns pescadores de rede. “Copacabana foi a primeira praia oceânica a ter o banho de mar na cidade, porque o hábito do banho de mar no Rio vai acontecer mais no século XIX, porém mais de uma forma terapêutica do que de lazer. As praias utilizadas eram as praias de baía, porque possuíam águas mais calmas. A cidade do Rio se limitava a Botafogo. Pouco se conhecia da Zona Sul, que passa a existir a partir da abertura dos túneis. Isso abriu a cidade para a zona oceânica, e Copacabana vai ser a primeira a ser utilizada como área de banho. Mas, por ser uma área de mar aberto, só vai ficar mais sociável a partir das instalações dos postos de salvamento a partir do século XX”. E assim começa a urbanização de Copacabana, o que abrange edificações e calçamento.
Nesse processo de urbanização e modernização do Rio de Janeiro, que inclui a construção da área portuária, várias praias foram aterradas e deixaram de existir, como as da Lapa, Gamboa, Saúde, Prainha, Santo Cristo, São Cristóvão, Flamengo, Glória. “A nossa vida era mais ou menos plácida. Quando não estávamos com a família ou com amigos, ou se não íamos a algum espetáculo ou serão particular (e estes eram raros), passávamos as noites à nossa janela da Glória, mirando o mar e o céu, a sombra das montanhas e dos navios, ou a gente que passava na praia”, registra Bentinho, em memória, os seus primeiros anos do casamento com Capitu, em Dom Casmurro (1899).
Já o romance A moreninha (1844) acabou contribuindo para divulgar a Ilha de Paquetá. Curiosamente, em nenhum trecho, o autor Joaquim Manuel de Macedo escreve o nome da ilha. Mas o cenário da história de amor é descoberto pelas descrições. O sucesso da publicação despertou o interesse da corte, que passou a ir com mais frequência ao local. A Praia da Moreninha é uma homenagem à publicação.
Praia de Boa Viagem, na primeira metade do século XX, antes da verticalização. Foto: Alexandre Berzin/Reprodução do livro O álbum de Berzin (Cepe Editora)
“Tem-se, enfim, que a praia é iconizada a partir dos anos 1950 como espaço de sociabilidade relacionado a categorias como liberdade, modernidade e acesso a oportunidades e a bens de consumo. Por outro lado, é também neste momento, nos anos 1950, que um determinado discurso sobre o Rio de Janeiro emerge, conformando-o tanto espacialmente, com divisões nítidas entre a Zona Sul, a Norte e os subúrbios, como corporalmente, através da ascensão do ideal de morenidade, adquirido por via da fruição da praia”, afirma a socióloga Patrícia Farias.
O bronzeado passou a entrar na moda europeia, nos anos 1920, sendo “lançado” pela estilista Coco Chanel, frequentadora das praias do sul da França. As revistas femininas passaram a divulgar o bronzeamento como indicativo de beleza e de “estar na moda”. E a indústria de cosméticos entrou na onda. “A pele branca era considerada há séculos um sinal de virgindade e pureza, sendo que a pele escura ou bronzeada era normalmente relacionada com o diabólico, o pecado e a condenação, elementos depois também associados aos povos coloniais e pagãos. Dessa concepção moral e religiosa sobre a pele passou-se a uma concepção classista, associando-se a pele bronzeada às classes trabalhadoras (camponeses, pescadores e marinheiros, sobretudo), e também racista (em especial em relação aos negros e asiáticos), enquanto a pele branca era apanágio das elites das ‘raças civilizadas’, de origem europeia. Porém, no século XIX, a norma da pele branca começava já a ser ‘transgredida’ ocasionalmente entre as classes altas, como na década de 1960, quando as senhoras das elites de Paris começaram a apresentar a pele bronzeada, ‘semelhantes aos das filhas da Índia’”, analisa Pedro Alexandre Martins.
A morenice começou a ser exaltada na música brasileira por Noel Rosa, em 1936, em Morena sereia (Que à beira-mar não passeia/ Que senta na praia e deixa a praia cheia/ De lindos castelos de areia), passou por Marina (Dorival Caymmi, 1947) e Dick Farney e Lúcio Alves, em 1954, com Teresa da praia (“Que corpo bonito/ Que pele morena/ Que amor de pequena”). Na letra, os cantores dialogam e disputam a musa. Ao final, desistem da briga: Ela “não é de ninguém”. Teresa é da praia!
O mar como inspiração para a composição musical no Brasil teve em Dorival Caymmi o seu ícone máximo. A maior parte de sua obra foi dedicada a cantar a praia e o pescador, que, de trabalhador invisibilizado pela sociedade, foi tratado como figura mítica da cultura nacional. O baiano, que migrou para o Rio de Janeiro em 1938, lançou, no ano seguinte, suas primeiras composições praieiras (Rainha do mar e Promessa de pescador) e, desde então, o mar como personagem nunca saiu de seu horizonte artístico.
Assim como os poetas românticos contribuíram para transformar a imagem que se tinha do mar, a música popular brasileira, sem perceber, criou uma das mais produtivas e belas propagandas da cultura de praia, que começou com Caymmi e veio atingir seu apogeu a partir do final da década de 1950 com o surgimento da bossa nova, ao ser lançado, em 1959, Chega de saudade, de João Gilberto. “Pois há menos peixinhos a nadar no mar/ Do que os beijinhos que eu darei na sua boca”, escreveu Vinicius de Moraes para a música de Tom Jobim.
“No tempo de Noel Rosa, palmeira do Mangue não crescia na areia de Copacabana e um sambista que se prezasse passava um ano inteiro sem ver um raio de sol. São versos do próprio Noel, refletindo a geografia da música popular nos anos 1930 – que, tematicamente, ia da Zona Norte, no máximo, a Glória (e esta, mesmo assim, pelo refrão do choro Na Glória, de Raul de Barros). As histórias contadas pelos sambas não se passavam em Ipanema ou no Leblon, nem tinham por quê. Era uma música de pés secos, e a cultura da praia chegava, quando muito, a algumas marchinhas de Carnaval. Somente em 1946, com o fechamento dos cassinos e a abertura das boates, todas em Copacabana, é que a música popular começou a descobrir a Zona Sul – Copacabana, de João de Barro e Alberto Ribeiro, daquele mesmo ano, pode ter sido a canção pioneira. O advento das boates expandiu os limites físicos da música, levando-a para perto do mar, mas subjugou-a ritmicamente e como que a amordaçou”, avalia o jornalista Ruy Castro, no livro A onda que se ergueu no mar (2001).
Uma geração de músicos que surgia no final dos anos 1950, época em que o surfista Dick Dale estava criando a surf music nos Estados Unidos, representava o novo modo de viver que irradiava no Brasil. “Eram jovens, atléticos, radicalmente voltados para o mar, a praia e o verão. E, somente porque isso já fazia parte de seu sistema respiratório, promoveram a grande transformação: ensolararam a música brasileira. O mar, para eles, era um estilo de vida, não apenas uma rima para amar. Roberto Menescal, por exemplo, era campeão de caça submarina. Seu parceiro Ronaldo Bôscoli ficava na retaguarda – na areia, vigilante quanto ao conteúdo dos maiôs. Menescal era o líder de uma turma que saía do Rio toda sexta à noite, de carro ou de ônibus, rumo às praias selvagens de Cabo Frio, como Arraial do Cabo, Rio das Ostras e Búzios – esta, pelo menos sete anos pré-Brigitte Bardot”, narra Ruy Castro.
O dia costumeiramente acabava com luau na praia. “Nessas expedições, que se prolongaram por anos, cristalizou-se o que seria o grande tema da bossa nova: o mar. Ela já nasceu de janelas abertas para o Atlântico, com letras douradas de verão. Quase todas as canções de Menescal e Bôscoli foram feitas em cima de situações que eles viveram naqueles fins de semana: O barquinho, Nós e o mar, Rio”.
Menos chegados à areia da praia e mais ao bar, Tom e Vinicius conversavam e bebiam no Bar Veloso, quando, num dia ensolarado de 1962, uma imagem que os emudeceu divulgaria o bairro que havia sido projetado, no início do século XX, por José Antonio Moreira, o Barão de Ipanema. Passava no cruzamento da Rua Montenegro com a Prudente de Morais, indo em direção à praia, uma bela moça. Seu nome era Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto e ela tinha 17 anos. A dupla, que já havia composto o hino da bossa nova, Chega da saudade, arregimentou seus talentos para dar vida a algo que seria mais que um novo clássico da música brasileira. Garota de Ipanema se tornou a canção mais conhecida do Brasil no Exterior e a segunda mais gravada no mundo, só perdendo para Yesterday, de Paul McCartney. Apenas três anos depois, foi revelada a identidade da tal garota, que ficou conhecida como Helô Pinheiro.
Garota de Ipanema ajudou a promover internacionalmente a bossa nova, a tal praia, o Rio de Janeiro e a vida litorânea do Brasil. Foi uma das músicas que Brigitte Bardot cantou ao violão, em 1964, quando passou uma temporada de verão no país, acompanhada de seu então namorado, o produtor de cinema marroquino-brasileiro Bob Zagury. Já na descida do avião, no dia 7 de janeiro, percebeu que a sua permanência não seria tão tranquila. Foi recepcionada por um batalhão de jornalistas e fotógrafos que passou a dar plantão em frente ao Copacabana Palace. Para tentar fugir desse assédio, aceitou a sugestão de ir para uma praia distante dali. Foram dois meses de tranquilidade, interagindo com pescadores e os raros veranistas. Mas sua presença logo deixou de passar despercebida. E foi assim que Brigitte Bardot transformou Búzios numa das praias mais badaladas do país. Ela acabou o namoro com o produtor e nunca mais voltou ao lugar, mas a lembrança de sua estada está registrada até hoje na estátua na praia em sua homenagem e na canção Alegria, Alegria, em que Caetano Veloso captura o zeitgeist da época. O sol se repartia em crimes, bomba e Brigitte Bardot. Enquanto a musa estava no país exibindo uma vida libertária, com direito a topless, acontecia o golpe militar de 1964.
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Quatro anos depois, em 1968, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram presos após o decreto do AI-5. E, no ano seguinte, partiram rumo ao exílio em Londres. Apenas em 1971, ano do lançamento de Debaixo dos caracóis de seus cabelos, Caetano fazia a primeira visita ao Brasil, sob a frágil garantia de que não seria novamente preso. E, em 1972, voltou definitivamente. Eram os anos mais terríveis da ditadura militar, sob a presidência de Médici (1969-1974). Como cantado por Roberto Carlos, Caetano Veloso voltou a pisar a areia branca, que, na época, curiosamente, se tornou o espaço mais democrático, livre e contracultural do país.
Esse espaço ficava num pedaço da praia de Ipanema batizado pelos frequentadores de Dunas do Barato. “Barato” era uma gíria que vivia na boca dos jovens. Também era chamado de Dunas da Gal, porque a cantora frequentava o ambiente e à noite fazia o show mais badalado do ano, no Teatro Teresa Raquel, em Copacabana, Gal a todo vapor, com direção de Waly Salomão (coautor de Vapor barato, com Jards Macalé). O lugar foi “inaugurado” em 1971, mesmo ano em que Leila Diniz, solteira, grávida de seis meses, posou de biquíni na Praia de Ipanema, chocando os reacionários. “O biquíni é a degradação da nudez”, rosnava Nelson Rodrigues.
O espaço alternativo espontâneo surgiu quando a prefeitura construiu um píer para comportar uma tubulação que levaria os dejetos dos bairros ricos ao alto mar. Jogada na lateral da praia, a areia removida para a instalação da estrutura criou as dunas, que viraram uma barreira de proteção para o que acontecia na praia. A obra abrigou uma espécie de república hippie, que comportava cabeludos, intelectuais, músicos, cineastas, escritores, poetas… Nesse período, nasceu o hábito riponga de aplaudir o pôr do sol.
A construção, que alterou a morfologia do solo, interferiu no movimento das ondas, atraindo para o local os surfistas que frequentavam o Arpoador, como Daniel Friedmann, que virou um dos primeiros surfistas profissionais do país. Foi lá onde rolou o primeiro campeonato de surfe patrocinado. A lei que impedia a prática do esporte após as oito da manhã não era fiscalizada naquela área, porque ela não oferecia atrativo turístico. E, enquanto os militares voltavam sua mais dura repressão aos estudantes engajados que resistiam à ditadura, na praia, acontecia uma revolução comportamental e uma resistência cultural free style que teria desdobramentos.
Dunas do Barato, espaço alternativo espontâneo que existiu em Ipanema entre os anos de 1971 e 1975. Foto: Agência O Globo/Arquivo
Diversos artistas e aspirantes a artistas marcaram sua presença nas Dunas, como Cazuza, Evandro Mesquita (antes do Andrúbal Trouxe o Trombone e da Blitz), Jards Macalé, Waly Salomão, Chacal, José Wilker, Glauber Rocha, Jorge Mautner, Rose di Primo (inventora do biquíni cortininha, que faria sucesso nos anos 1980), Patrícia Travassos e Dadi. Lá, o baixista foi apresentado a Baby Consuelo. Por coincidência, ela estava precisando de baixista para sua banda, Novos Baianos. Frequentando o lugar, o instrumentista ganhou mais dois presentes, sua esposa Leila, e uma música, Leãozinho, que Caetano compôs para o leonino que tinha uma “juba”.
As Dunas do Barato tiveram vida curta, foram encerradas em 1975. Mas, no ano seguinte, seu espírito reverberou no Festival Som Sol & Surf Saquarema. “Quando tiraram as estacas do píer, acabaram as ondas. Uns continuaram no Arpoador, outros descobriram Saquarema. Em termos de comportamento de juventude, Saquarema é uma continuidade do Arpoador, é muito próximo. Os jovens vão descobrindo Saquarema a partir de 1974. Em 1976, foi o grande destaque por causa do festival que Nelson Motta produziu, considerado o Woodstock brasileiro. Numa população de 10 mil pessoas, chegaram lá 24 mil jovens. Pessoas que tinham 14, 15 anos e que falavam para mãe que iam comprar pão e só voltaram na terça-feira”, disse o diretor Hélio Pitanga, em entrevista ao site da Continente, em fevereiro do ano passado, na ocasião do lançamento do documentário sobre o evento musical que aconteceu durante o campeonato de surfe (leia entrevistaAQUI).
Outra figura mítica das Dunas do Barato foi o jovem José Artur Machado, mais conhecido como Petit, um cara tranquilo e espontaneamente sedutor. Na época em que ter tatuagem era coisa de presidiário, o surfista, modelo nas horas vagas e praticante de artes marciais, exibia no braço um dragão, feito pelo primeiro tatuador profissional do Brasil, Tatto Lucky (o dinamarquês Knud Gregersen, morto em 1983). O “coração de eterno flerte” inspirou Caetano Veloso a compor a versão masculina da Garota de Ipanema, Menino do Rio, e registrar as boas vibrações das Dunas. Apesar do “canto pra Deus proteger-te”, o Menino do Rio enforcou-se em 1989, após ficar com o lado esquerdo do rosto e do corpo paralisado, depois de um acidente de moto.
Também frequentadora do lugar, Baby Consuelo encomendou e gravou essa música em 1979. No ano seguinte, a canção virou tema de abertura da novela Água Viva, cujas imagens traziam jovens em pranchas de windsurf. A música inspirou a realização de Menino do Rio, que foi um dos maiores sucessos do cinema brasileiro em 1982, atingindo um público de mais de 2,2 milhões de espectadores. O filme foi responsável por divulgar a cultura do surfe e de praia, rendendo mais longas abordando o universo jovem: Garota dourada, Areias escaldantes e a trilogia do rock de Lael Rodrigues: Bete Balanço (1984), Rock Estrela (1985) e Rádio Pirata (1987).
Criado e protagonizado por André Di Biase, Menino do Rio, dirigido por Antonio Calmon, foi o trunfo que o surfista e ator teve para levar à TV Globo a ideia de uma série que seria revolucionária para a televisão da época, Armação ilimitada, interpretada por ele e Kadu Moliterno, que estreou em 1985, ano da redemocratização e do primeiro Rock in Rio. A série seguiu até 1988, tendo uma continuação com Juba & Lula (1989). O programa marcou a primeira direção do pernambucano, radicado no Rio, Guel Arraes. A história era moderninha para o período: a dupla de surfistas vivia um triângulo amoroso com a jornalista Zelda Scott (Andréa Beltrão) e adotou o órfão Bacana (Jonas Torres). Os episódios eram narrados pela DJ Black Boy (Nara Gil).
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Em 1980, ano da novela Água Viva, um jovem pernambucano de 13 anos conhecido como Carlinhos, morador do Cabo de Santo Agostinho, viu pela primeira vez, na Praia de Boa Viagem, uma imagem inusitada. Eram garotos bronzeados, com os cabelos loiros, de shorts curtos e coloridos, segurando pranchas, prestes a entrar no mar. Aquele comportamento diferente o fascinou: “Eu falei: quero fazer esse esporte! Porque aquela pra mim era a imagem da liberdade. Era um movimento de rebeldia, contracultura. E o surfe, naquela época, pra mim, já sinalizava isso, porque eu sempre achei a sociedade muito quadrada, preconceituosa, hipócrita. E o surfe, de certa forma, me levava ao ambiente de que eu mais gostava, que era o da liberdade, de estar perto da natureza, de estar em um ambiente saudável”. E assim começou a história de Carlos Burle, bicampeão mundial de ondas gigantes.
Na busca por melhores campeonatos e patrocínios, em 1986, ele foi morar no Rio de Janeiro, onde vive desde então. Foi residir em Ipanema. “E eu vim atrás do meu sonho, incentivado por meu primo Claudio Cardoso. Vim morar com ele e a mãe dele, Tia Rosa. Foi um difícil no começo. Mas me adaptei. Nesse mesmo ano, resolvi vender tudo, inclusive um carrinho que meu pai tinha me dado, um fusquinha, e fui para o Havaí, na temporada 1986 e 1987, no final de ano. Fiquei cinco meses, aí me apaixonei pelo surfe de ondas grandes. Terminei virando um profissional de ondas grandes”. Em 1998, foi campeão mundial, e 2001, bateu o recorde, entrando para o Guinness Book (22,6 metros). “Eu parei aos 49 anos. Estou com 52 e estava pegando onda grande em Nazaré.”
Em 2013, Burle estava na famosa cidade portuguesa, meca dos caçadores de ondas gigantes, quando um paredão surfado por ele tinha entre 32 e 35 metros – segundo análise de Miguel Moreira, professor da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa. Isso representaria a maior onda já surfada. Nesse mesmo dia, ele também realizou outro feito: salvou a vida da surfista Maya Gabeira, que sofreu um acidente no mar. “Sempre tenho medo de entrar no mar para surfar. Faz parte. Isso é normal. É importante saber administrar as emoções e usar o medo pra administrar melhor os riscos. Eu geralmente comemoro quando a onda acaba, não durante a onda. Você tem que estar superpresente, porque está tomando decisões em frações de segundos”, diz Burle.
“O surfe é mais que um esporte, é uma cultura, um estilo de vida. Não é só um esporte de performance, a gente eleva a qualidade de vida, a saúde, sustentabilidade, preocupação com as relações, com o meio ambiente. Venho de uma fase em que existia muito preconceito com o esporte. Antigamente, a gente era visto como vagabundos que iam pra praia pra dizer que eram profissionais. Hoje, não. Dizem: ‘os caras vão treinar’. Tem circuito mundial, ganha-se dinheiro. O surfe hoje é uma indústria rica, e é lógico que a sociedade tende a aceitar melhor isso. O esporte cresceu muito no Brasil e no mundo. E eu fico feliz de ter acreditado no meu sonho. O surfe está num lugar democrático, é ali na praia. Você convive com as pessoas normalmente”, avalia Burle.
Carlos Burle, bicampeão mundial de ondas gigantes. Foto: Marcelo Maragni/Red Bull/Divulgação
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“Lugar democrático” é uma expressão utilizada pelo sociólogo Roberto Da Matta ao ser referir à praia: “A praia é um lugar muito especial. Diferentemente do bar, do restaurante, do estádio e do cinema, que são pagos; da escola e da igreja, fixados pelo dever e pela fé; da praça, que ficou perigosa ou pode ser ocupada por gente indesejável, ela – apesar de ameaçada pela poluição endêmica e pelos arrastões ameaçadores – permaneceu relativamente intocada como um espaço milagrosamente igualitário e prazeroso, definido como inverso a tudo o que é obrigatório ou maçante. Pois a praia era o local da vivência a mais despojada e igualitária. Era o local onde o general, o professor, o político, o milionário e o estudante pobre revelavam somente suas ideias, já que seus corpos humildemente se igualavam numa nudez denunciadora da verdadeira democracia à brasileira: a de um corpo com outros, todos sem defesa ou disfarce”.
Essa ideia de democracia litorânea é questionada pela socióloga Fernanda Huguenin, em O universo social da praia: terapia, democracia e travestismos à beira-mar: “Como imaginar a praia como um lugar liminar, isto é, um lugar onde um igualitarismo temporário mina a hierarquia permanente, se há, por exemplo, em diversas praias brasileiras, faixas de areia ocupadas preferencialmente (e quase exclusivamente) por brancos, outras por negros, outras por homossexuais, outras por prostitutas, outras por famílias? Se há, efetivamente, praias de ricos e praias de pobres? Barra da Tijuca em oposição à praia de Ramos, apenas para ilustrar. Violência? Os arrastões ocorridos a partir de 1992 em Copacabana, por exemplo. Discriminação na forma de conflitos espaciais? A pressão de moradores da Zona Sul do Rio para que o acesso às praias fosse controlado pela polícia militar. Como imaginar que, uma vez diante do mar, as pessoas se transformem em indivíduos e se vejam como iguais? Que sejam cordiais quando, na verdade, detestam estar ao lado do bêbado ou do cafona? Que, por fim, sintam-se à vontade para democraticamente exibirem seus corpos, quando formas atléticas e perfeitas monopolizam as atenções?”.
Entender a praia como um lugar democrático, por seu acesso gratuito, dando a todos um lugar ao sol, pode ser uma ideia otimista para um país classista, machista e racista como o Brasil. As diferenças sociais são destacadas de forma sutil ou não. Em 1984, durante o governo de Leonel Brizola, quando foi inaugurada uma série de linhas de ônibus que integravam os subúrbios à Ipanema, Copacabana e Leblon (nessa década, a orla carioca passou a ser denominada por seus pontos específicos, como o Posto 9, o Arpoador, a Farme de Amoedo), os moradores da Zona Sul começaram a reclamar da “invasão de suburbanos”. Isso rendeu matérias na imprensa, como no Jornal do Brasil: “‘É farofeiro pra tudo quanto é lado, olhando a gente de um modo estranho. Ficam passando aquele bronzeador. A sensação é de que estão invadindo nosso espaço’, disse Maria Luiza Nunes dos Santos, ex-frequentadora da praia da Garcia D ‘Ávila e que agora só vai ao Pepino)”. Não é à toa que passaram a ser moda no país as praias privadas… A polêmica rendeu o hit que intitulou o primeiro álbum da banda paulista Ultraje a Rigor: Nós vamos invadir sua praia (1985).
Será que é apenas coincidência que, em Portugal, quando houve um desenvolvimento maior do transporte e as classes mais baixas começaram a ir às praias, antes frequentadas pelos ricos, elas passaram a ser denominadas por estes de “banhistas de alforge” por levarem o seu “farnel” (o conjunto de provisões alimentícias para uma jornada)? Era uma maneira aportuguesada de chamar os gajos de “farofeiros”. Uma forma de distinção no país patrício era o horário da frequência na praia. Havia a hora do “banho aristocrático”, período mais tarde da manhã, pois estavam protegidos por toldos. Já os mais pobres tomavam banho bem cedo e com roupas de trabalho, enquanto a elite portuguesa vestia os trajes de veraneio. Começava a moda praia, uma forma de distinção.